Cultura

Cultura movimenta R$ 230 bilhões, revela estudo

Marcus Vinícius Beck, de São Paulo (SP)

Publicado em 12 de abril de 2023 às 00:46 | Atualizado há 2 anos

Goiás aparece na sexta posição de ranking que mede impacto da economia criativa no Produto Interno Bruto (PIB), segundo balanço divulgado ontem pelo Observatório Itaú Cultural. O berço da Procissão do Fogaréu, Cavalhadas e Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) registra número parecido com DF (1,46%) e Bahia (1,14%), ao contabilizar montante de 1,08%. À frente da lista, São Paulo acumula 52,70%.


Os dados levantados integram parte de metodologia desenvolvida pela Fundação Itaú para medir os impactos econômicos do setor e, a partir disso, alimentar o debate junto às secretarias de cultura para resgate, implementação e aprimoramento de políticas públicas. A pesquisa permite, dentre outras coisas, analisar a contribuição dos setores criativos para a economia brasileira no ano de 2020. Ainda não há dados oficiais de 2021 e 2022. 


Além de aferir o PIB, com base em informações levantadas pelo IBGE, o diagnóstico desenha cenário do mercado de trabalho para o setor: cultura e indústria criativa – sozinhas – empregam pelo menos 7,4 milhões de profissionais. Os dados são do quarto trimestre de 2020. Se olhar para o dinheiro movimentado pela atividade artística, observa-se valor na ordem de R$ 230 bilhões, sem levar em consideração as 130 mil empresas do segmento.   


Matriciar tema


Ou seja, supera o setor automobilístico, quase se aproximando da construção civil. “Todo governo precisa focalizar em cultura e arte. Cada vez mais, precisa matriciar o tema”, disse o presidente da Fundação Itaú, Eduardo Saron, durante conversa com 50 jornalistas na tarde de ontem, dentre os quais o repórter do Diário da Manhã. O Brasil, é bom lembrar, passou pelos quatro anos em que Jair Bolsonaro governou com o Ministério da Cultura (MinC) extinto. E, sem estímulo, a cadeia produtiva foi sufocada ao longo desse tempo.


Aos poucos, contudo, as coisas começaram a entrar nos eixos. No governo de transição, o então recém-eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que teria aumento no orçamento para a pasta, passando de R$ 1,67 bilhão, em 2022, para R$ 10 bilhões, neste ano. Trata-se de valor histórico para o MinC, cuja tradição, em matéria de recurso, é das mais sofridas de Brasília, longe da verba que entra no caixa da Educação ou Saúde, por exemplo.


No primeiro dia de sua gestão, Lula recriou o ministério por meio de decreto, conforme prometido em campanha. Seis pastas tinham a atribuição de se dedicar a assuntos como leis de fomento, audiovisual e mercado editorial. Tanto que, na semana passada, tornou-se público o edital Maria Carolina de Jesus, que premiará 40 escritoras. Outros 1946 projetos artísticos, de acordo com o MinC, foram viabilizados em todo o País a partir da Lei Rouanet. 


“Eram recursos que já estavam captados, mas haviam sido travados na gestão passada”, afirmou a pasta, cuja ministra estava com presença prevista na conversa com jornalistas realizada no Itaú Cultural, mas não não participou e, em razão disso, foi representada pelo secretário executivo adjunto do MinC, Fabricio Noronha. Ele conversou com a imprensa no térreo do Itaú Cultural, onde acontece a exposição “Ocupação Dona Onete”.


No cenário local, em boa parte por causa da dívida pública, iniciativas culturais deixaram de acontecer. A Secult, pasta fundida à Educação e ao Esporte na gestão de Marconi Perillo (PSDB), foi reintegrada à máquina pública por Ronaldo Caiado (União Brasil). Editais atrasados, como o Fundo de Arte e Cultura (FAC), começaram a ser quitados. E contas de outros festivais, a exemplo do Fica e Canto da Primavera, acabaram sanadas, numa ingestão de R$ 57,5 milhões à cultura.


Empregos


De acordo com boletim do Observatório, o setor cultural emprega o equivalente a 7% dos trabalhadores da economia brasileira. O número, para se ter uma ideia, é 4% maior do que o registrado há dois anos. Isso sem mencionar que, apenas em 2022, foram criados pelo menos 308 mil postos de trabalho no País a partir da indústria criativa. “Agora temos um indicativo para nortear o debate. A economia da cultura e das indústrias criativas são fundamentais para a geração de empregos e renda no País”, pontuou Eduardo Saron, em coletiva.


“Com esse estudo, queremos produzir massa crítica. É importante o pequeno empreendedor saber dos dados, pois isso permitirá que ele olhe para o mercado e tenha bom entendimento do que acontece. Mas, ao mesmo tempo, é fundamental termos uma redistribuição dos recursos”, explicou o economista Leandro Valiati, professor da University of Manchester, no Reino Unido, e da Universidade Federal do Rio Grande so Sul (UFRGS).


“Cultura é essencial para pensar mundo contemporâneo”, afirma pesquisador


Líder do grupo de pesquisadores que envolveu o estudo, o professor Leandro Valiati, pesquisador da University Of Manchester, no Reino Unido, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que a cultura é “importante para pensar o mundo contemporâneo”. “Só existe Spotify porque existe música”, atesta Leandro, na coletiva.


No estudo, iniciativa inédita que mapeia mercado cultural, foram considerados cultura ou integrante da indústria criativa os segmentos de moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.  


Para identificar o PIB da economia criativa e das indústrias criativas, o Itaú Cultural partiu do critério estabelecido por renda, massa salarial, capacidade de lucros e outras formas de rendimentos auferidos por empresas e indivíduos. “A construção do indicador foi um processo longo e bastante cuidadoso e envolveu consultas a especialistas no Brasil e no exterior”, explicou Leandro, coordenador do inédito levantamento.


Segundo as conclusões do Observatório, para o ano passado, espera-se um cenário mais otimista por causa da recuperação pós-pandemia do setor. “Fará com que a representação deste aumente, o que pode ser interpretado como uma contribuição sólida para o crescimento da economia brasileira”, diz trecho do estudo. O trabalho contou com a colaboração de quatro pesquisadores estrangeiros e 30 brasileiros que são reconhecidos como referência no assunto.


“Fizemos pesquisas qualitativas com pesquisadores nacionais, oficinas com pesquisadores internacionais, verificamos especificidades da economia brasileira e tendências internacionais para chegar ao indicador, que é comparável internacionalmente”, observa Leandro. Segundo o levantamento, a participação do PIB dos segmentos no país é maior do que o verificado na África do Sul (2,9%), Rússia (2,4%) e México (2,9%).

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