Cultura

Artista libanês expõe fotografias de Beirute após explosão, em Goiânia

Fernando Boeira Keller

Publicado em 19 de janeiro de 2023 às 19:44 | Atualizado há 2 anos

Goiás é um dos antros da imigração libanesa, onde os descendentes carregam fortemente sua cultura e idioma de origem. Este forte laço se dá pela recente imigração dos libaneses no Brasil, que ocorreu no final do século XIX  e início do século XX. 

Beirute, capital do Líbano, é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao longo de sua história foi destruída e reconstruída várias vezes – o que mostra a força e determinação de um povo que não desiste de seu país. Por estar localizada à beira do Mar Mediterrâneo, o país foi alvo de civilizações conquistadoras de territórios ao longo da história.

Somente em 1943, com o fim do mandato francês, Beirute viveu seus anos de paz, até que em 1975 deu-se início à Guerra Civil, que durou até 1990. Novamente os libaneses reconstruíram o país, que havia sido novamente destruído. 

Trinta anos depois, no dia 4 de agosto de 2020, uma grande quantidade de nitrato de amônio armazenada no porto de Beirute entrou em combustão, resultando na terceira maior explosão da história, considerada a maior não-nuclear.

E é em Goiânia, uma das capitais com maior número de descendentes de libanseses, onde acontece a exposição fotográfica “Beirute: o Caminho dos Olhares”, que mostra as consequências da explosão através das lentes do artista libanês Dia Mrad, vive e trabalha em Beirute. 

O Diário da Manhã entrevistou Dia Mrad, que comentou sobre como foi o momento da explosão e o sentimento de ver Beirute, cidade pela qual é apaixonado, destruída através de seus olhos, além de comentar sobre os momentos que antecederam a tragédia.

“Antes da explosão, eu estava trabalhando na documentação da área específica onde a explosão teve o maior impacto, o setor Ashrafieh de Beirute. Na verdade, concluí meu arquivo em 28 de junho de 2020, apenas 6 dias antes da explosão. Eu conhecia a área e os prédios como a palma da minha mão. Nunca publiquei um livro, mas estou trabalhando em um agora, onde estou reunindo todas as minhas fotografias de Beirute, antes e depois da explosão, bem como durante a reconstrução.”

“Sempre fui fascinado pela arquitetura de Beirute e, por meio de minha experiência na cidade, testemunhei vários edifícios históricos sendo demolidos em prol do desenvolvimento imobiliário. Após a explosão, testemunhar a destruição da cidade foi traumático. Senti que tinha o dever de documentar o que estava acontecendo e tentei deixar minhas emoções de lado para concluir este trabalho. Foi um processo difícil, mas superei as lágrimas e a raiva para continuar minha missão”, conta Mrad.

Dia Mrad conta também sobre as dificuldades de fotografar em meio aos escombros causados pela explosão.

“Em termos técnicos, não foi fácil caminhar por entre os escombros e entrar nos prédios destruídos. Era uma missão perigosa, mas na época tudo isso parecia fácil em comparação com o que todos nós passamos com a explosão”, e continua: “foi uma missão incrivelmente difícil, poder fotografar a cidade que você chama de lar, neste estado de destruição. Estar atrás da lente realmente não separa o assunto do fotógrafo neste caso. No mínimo, isso me fez ver a destruição e senti-la ainda mais.”

Perguntado sobre a importância desta exposição em Goiás, Mrad afirmou que “quando foi proposta a ideia de fazer esta exposição no Brasil, embarquei imediatamente pela razão específica de saber quantos descendentes de origem libanesa chamam este país de lar. No caso do Brasil, as pessoas com raízes libanesas são de segunda ou terceira geração nascidas lá, Esta exposição pretende fazer a ponte entre as duas populações e transmitir uma emoção real de quem viveu aquela experiência.”

Ele afirmou que a explosão foi diferente para o país, pois fez as pessoas perceberem que o perigo espreita em todo o país e não apenas nos lugares onde o conflito ocorre.

“A explosão também apagou as diferenças entre as pessoas e reuniu a comunidade contra um inimigo comum. O lado positivo da explosão foi a conscientização criada sobre a importância do patrimônio e a ação imediata necessária para salvá-lo”, disse o artista.

O libanês afirma que a fotografia é um método que transmite emoções junto a uma certa verdade. 

“Acredito que a documentação através da fotografia é uma ferramenta importante e influente na criação de consciência e focando a atenção em um assunto, sempre senti que a fotografia tem uma maneira especial de transferir conhecimento e experiência humana de uma forma que nenhuma outra forma de arte é capaz”, alega  Mrad.

Assunto: Prefeitura abre exposição fotográfica “Beirute: o Caminho dos Olhares”, de Dia Mrad
Abertura: Sexta-feira (20/01)
Horário: 18h
Local: Centro Cultural Casa de Vidro Antônio Poteiro
Endereço: Avenida Deputado Jamel Cecílio – Jardim Goiás

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