Segundo estimativa, cidade terá mais de 10 milhões de pessoas em 30 anos
LONDRES — Ben Karkaxhiu, um menino que nasceu em janeiro deste ano, verá uma cidade muito diferente da que as gerações anteriores de londrinos acompanhou. Desde o momento da sua criação, Londres não tinha superado o pico populacional de 1939. Ao êxodo por trás das 30 mil bombas alemãs que arrasaram a cidade entre setembro e novembro de 1940, se seguiu uma reconstrução no pós-guerra, com um plano urbanístico de Patrick Abercrombie, que eliminou os subúrbios, levou seus habitantes a novas cidades dos arredores e implementou um centro pouco denso. Isso tudo unido a consagração de um imenso cinturão verde no entorno da cidade — agora muito questionado — freiou o crescimento de Londres durante quatro décadas.
A população só voltou a crescer no princípio da década de 1990, quando aconteceu um boom pelo fato de Londres ter se transformado em capital financeira. Com isso, a cidade passou a atrair jovens de todo mundo. Começou a crescer e, desde o início desta década, o ritmo tem sido de 250 pessoas por dia. Espera-se, inclusive, que chegue a mais de 10 milhões nos próximos 30 anos.
Os desafios, como quem pretende alugar uma casa em Londres ou pegar o metrô na hora do rush, são colossais. Em vinte anos, estima-se que a demanda por transporte público terá subido para 50%. A rede de metrô suporta 1.260 milhões de viagens por ano, 20% a mais do que há quatro anos. As pessoas vivem cada vez mais fora e as oportunidade de trabalho ainda estão no centro. Um milhão de pessoas se deslocam todos os dias da periferia para o centro. É a maior distância entre casa-trabalho de toda a Europa.
Um estudo da imobiliária Savills, que analisou o censo de Londres por bairros, entre 1801 e 2011, revelou que os bairros do centro têm muito menos concentração de população que os de periferia. A cidade, por exemplo, passou de 128 mil habitantes em 1851 para 7 milhões em 2011.
Para tentar dar vazão à quantidade de população, ações importantes foram tomadas nos últimos anos, com a construção metro rápido DLR para a superfície da linha Overground, através da extensão da Linha Jubilee. No entanto, embora a quantidade de trens agora seja superior a 30 por hora seguindo em direção ao centro de Londres, durante a hora do rush a viagem ainda é uma experiência difícil.
Nos próximos 35 anos, segundo o próprio prefeito, Boris Johnson, a capital britânica vai investir cerca de € 652 bilhões de euros para manter sua posição como uma das principais cidades do mundo. O plano inclui seis novas pontes e túneis, outro aeroporto, 200 quilômetros de ciclovia em Crossrail, o maior projeto de infraestrutura da Europa.
Mas, para suportar as previsões de crescimento, 50 mil novas casas deveriam ser construídas por ano. Hoje se constrói muito pouco e quase tudo vai para o setor mais alto do mercado: os milionáriosinvestidores estrangeiros. É que com a menor concentração de pessoas no centro da cidade — são 5.900 por quilômetro quadrado — os preços dispararam.
Mais de um terço de Londres está classificado como espaço verde (isso sem contar com os jardins privados e nem o cinturão verde que rodeia a cidade). A OCDE já sugeriu que a capital reconsidere a possibilidade de permitir a construção de moradias nestas áreas, o que pode aumentar a oferta. A norma urbanística bem restritiva e a escassez de solo edificável fazem com que se construa muito pouco mesmo com o crescimento demográfico, que multiplicou a demanda. O preço médio hoje de um apartamento em Londres equivale a 16 vezes o salário anual médio, enquanto que em 1939 era apenas três vezes.
Hoje, a cidade é só um pouco maior, mas muito diferente. Antes, 2,7% dos londrinos tinham nascido fora do país. Hoje são 37%. A crescente hostilidade no Reino Unido fazia a imigração e a possibilidade de saída da União Européia se transformaram em novos desafios para a cidade global. Londres é um ímã de talentos e turismo, mas “os cidadãos enxergam como ameaçada a sua qualidade de vida se entendem que a cidade mais densa não está preparada para tal”. Está em jogo, entre outras coisas, a atração de mão de obra qualificada de todo o mundo e o perigo de que a cidade se torne vítima de seu próprio êxito.