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A pecuarista Carmem Perez tem uma história singular quando o tema é bem-estar animal. Ela viveu experiência inédita há 16 anos quando assumiu os negócios da Fazenda Orvalho das Flores em Barra do Garças, município do Mato Grosso que faz divisa com Goiás através do rio Araguaia. Na condição de mulher no meio rural as mudanças radicais tornam-se mais complicadas. Ela enfrentou tudo isso e seu nome foi além fronteiras. Hoje, é uma líder reconhecida no País. E sua atitude a levou ao Congresso da Andav 2023 quando discorreu sobre os cinco indicadores relacionados ao bem-estar animal – nutrição, manejo de espaço, condições físicas, comportamentos e estado mental – como eles estão inter-relacionados.
Para Perez, o elemento humano é crucial quando se trata de bem-estar animal, pois são as pessoas que fazem a diferença. Em relação ao futuro, ela ponderou sobre a necessidade de um transporte cuidadosamente estruturado, para diminuir os hematomas, o risco de morte e o estresse de bovinos durante o deslocamento das fazendas; da busca pela produção sustentável do couro, com informações sobre a produção e a origem do animal; e mais sombra para os bovinos, que aumenta a produtividade e melhora os parâmetros fisiológicos e comportamentais do rebanho leiteiro e do gado de corte.
Carmen se encantou pela vida no campo muito cedo. Ainda na infância, observando a lida do avô, com as propriedades da família, tradicional no setor sucroalcooleiro no interior paulista. Aos 22 anos, trocou São Paulo pela fazenda Orvalho das Flores (MT). Chegou em dia de chuva e foi acompanhar o manejo na maternidade. Encontrou animais e colaboradores convivendo em ambiente de extrema hostilidade: vacas agressivas, bezerros assustados e vaqueiros mal preparados. Decidiu mudar essa cultura, e assim o fez.
Segundo ela, “há mais de 10 anos, o foco do nosso trabalho é o bem-estar animal na pecuária. Em parceria com o grupo Etco, liderado pelo professor Mateus Paranhos da Unesp de Jaboticabal, implantamos mudanças nas boas práticas com os bovinos, que refletem não só nos animais, mas em todos os que estão ao redor”.
Embrapa
elemento central nas ações que irão promover a produção sustentável, e não apenas um mero coadjuvante, diz. Se ele não é pensado, o entorno é todo prejudicado. A Embrapa reconhece o seu trabalho pioneiro e abre espaço para ela em suas manifestações públicas.
Em sua visão, a ideia principal da adoção de boas práticas que levem em conta o bem-estar dos bovinos é estabelecer uma melhor relação humano-animal e eliminar (ou reduzir) as ações de manejo que resultem em sofrimento aos animais, tornando o manejo menos aversivo. A adoção das boas práticas é um caminho gradual e sem volta.
Esse trabalho inicia-se no momento em que nasce o bezerro e deve estar presente em todos os manejos até o abate. As boas práticas devem ser consideradas também fora da porteira, no transporte não adaptado, no precário e violento manejo de leilões, e por fim nos frigoríficos. Será uma transformação cultural, e os resultados trarão benefícios econômicos e gerenciais.
Atualmente é possível substituir a marcação a fogo por brincos de identificação e brincos eletrônicos, que, além de reduzir o sofrimento do animal, oferece ao produtor uma importante ferramenta de gestão. Assumiu, ainda, a presidência do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA) no início de 2017. A experiência como gestora e líder mostra que a mulher tem um olhar mais empático e focado no todo, se preocupando mais com o equilíbrio, o que contribui enormemente com a sustentabilidade, observa.
Graças ao pioneirismo de Carmem Peres, o bem-estar animal é tema dominante também em outras iniciativas. Cuidar das bezerras garante o futuro de uma propriedade de leite, pensando nisso, a Agrozootec apresentará no Agroleite 2023, em Castro (PR), lançamentos para um cuidado individual com esses animais, favorecendo sua saúde e bem-estar. O destaque está para uma linha de roupas apropriada para bezerros, item extremamente importante neste ano em que o fenômeno “el nino” promete um clima mais frio, especialmente no Sul brasileiro.
