Anápolis celebra neste domingo (26) os 150 anos da fundação da capela de Sant’Ana que deu origem ao município. Conforme o site da Diocese de Anápolis, a primeira capela da futura Anápolis surge de uma devoção de Dona Ana das Dores de Almeida à Sant’Ana ou Senhora Sant’Ana, mãe de Maria e avó de Jesus, segundo o Cristianismo. Dona Ana morava em Jaraguá, Goiás. Junto com o filho, Gomes de Souza Ramos, eram donos de tropas. Faziam comércio entre as cidades de Goiás à época. Estavam com destino à Silvânia, que chamava-se Bonfim, conforme conta o historiador Daniel Araújo Alves em entrevista ao DM.
“Faziam também viagens à trabalho de comércio entre Pirenópolis, antiga Meia Ponte; Corumbá; Santa Luzia, que hoje é Luziânia; Bonfim, que hoje é Silvânia; Santa Cruz de Goiás. Haviam rotas comerciais entre essas cidades goianas. Os tropeiros levavam as mercadorias, o que se produzia em uma região, trocavam, vendiam pelos produtos de outra região”, contextualiza.
De acordo com o historiador, por volta de 1859 Dona Ana com a sua comitiva teria passado pela localidade onde se ergueu Anápolis. “Era uma fazenda, Fazenda das Antas, corresponde ao atual Setor Central da cidade. Havia um pouso de tropeiros”.
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Filho de Dona Ana era um exímio comerciante
O historiador Jairo Alves Leite pontua que o filho da Dona Ana, Gomes de Souza Ramos, era um exímio comerciante. "Ele negociava com vários fazendeiros, várias localidades aqui nesse trecho, aonde tinha esses municípios que tinha extração de ouro, como: a Cidade de Goiás, Pirenópolis, Jaraguá, Corumbá, Bonfim. Então ele tinha acesso a esses municípios na área comercial”.
"Esse patrimônio era praticamente uma parte do atual Centro, que é da Xavier de Almeida até ali na baixada da Avenida Miguel João. Que é onde está um dos córregos do município, ali próximo ao caldo de cana da Avenida Miguel João. E do Córrego das Antas que é mais ou menos próximo à Avenida Brasil e abrangia até depois da Praça Bom Jesus”, aponta Jairo Alves Leite.
Se tratava de uma comunidade rural que pertencia ao então município de Meia Ponte, hoje Pirenópolis, como complementa Daniel Araújo Alves. “Pequenas fazendas. Não só a Fazenda das Antas, mas as outras fazendas que estavam nas adjacências: Fazenda Góis, Monjolo, Olhos D’água, Reboleira, Boa Vista, Mato Grosso, Padre Souza, enfim, as fazendas limítrofes, a Fazenda das Antas”.
Conforme Daniel Araújo Alves todas as necessidades físicas, materiais, religiosas dessas pessoas eram supridas em Meia Ponte, Pirenópolis. “Quando não, às vezes em Corumbá, mais remotamente em Silvânia Bonfim, mas como era território de Meia Ponte, Pirenópolis, então essas demandas eram resolvidas em Pirenópolis”.
Devoção à Sant'Ana
Quando Dona Ana estava passando pela Fazenda das Antas uma das mulas da comitiva se perdeu e embrenhou na mata. “Os peões foram procurar com muito custo, deu trabalho, mas encontraram”. Todavia, uma das caixas não estava no lombo da mula. “Ao se desviar essa caixa se extraviou, caiu na mata, mas os peões conseguiram encontrar. No entanto, essa caixa tomou de um peso sobrenatural. De forma que juntou vários peões e eles não davam conta de levantar essa caixa”.
Desta forma, Daniel Araújo Alves pontua que mandaram chamar Dona Ana das Dores para explicar que não estavam conseguindo levantar a caixa. “Olha, a caixa nada que a gente faz, juntou um tanto de gente para levantar essa caixa, a gente não consegue levantar”. Dona Anna trazia na caixa a pequena imagem de Sant’Ana, a qual era devota.
Ao chegar no local ela viu a caixa com a pequena imagem. “Era uma mulher religiosa. Ela interpretou aquele fato como vontade da santa permanecer no local. Ela promete doar aquela imagem para a primeira capela que fosse construída naquela região, que era a Fazenda das Antas”.
Conforme o site da Diocese de Anápolis, Dona Ana teria dito em tom profético: "Será a padroeira de uma grande cidade, sede de um rico e fértil município, cujo povo há de ser por ela abençoado!".
“Segundo a tradição oral, transmitida geração após geração na cidade de Anápolis, de imediato a caixa voltou ao peso normal. Eles conseguiram levantar a caixa e prosseguir a viagem com essa mula. Foi reincorporada à comitiva”, destaca o historiador Daniel Araújo Alves.
Promessa foi cumprida pelo filho
Em 1870, 11 anos mais tarde, Gomes de Souza Ramos, filho de Dona Ana, acaba se mudando para a Fazenda das Antas e atendendo ao desejo da mãe, segundo Daniel Araújo Alves. “Ele comprou uma fazenda de café, começa a produzir café na região. Reúne os moradores dessas fazendas, foram sete doadores, enfim foram alguns doadores de terras. O principal deles, que doou a parte maior, foi o Joaquim Rodrigues dos Santos. Esses senhores, simples, lavradores, cada um doou um pedacinho de terra, doou para a santa, para Sant’Ana, para forma o patrimônio da santa".
Segundo o historiador Jairo Alves Leite a capela foi construída em uma região de terras férteis. "Ele chegou e conversou com os fazendeiros em 1870. Solicitou um pedaço de terra para estar construindo ali uma capela em homenagem à Sant’Ana, com o título de Santa Ana. Então os fazendeiros se reuniram e fizeram um documento que doavam uma faixa de terra aqui, que era do patrimônio de Santa Ana”.
Uma autorização para a construção da capela foi pedida ao Bispado de Goiás. Gomes de Souza inicia a construção da capela em julho daquele ano no terreno doado. “Já com o intuito de surgir nesse território da capela um povoado. Então eles tinham noção clara daquilo que eles estavam fazendo. Era um desejo deles que ao construir uma capela surgisse ali um povoado, um arraial, uma povoação. Se essa povoação crescesse, fizesse sucesso, eles não dependeriam mais de resolver as suas questões lá em Pirenópolis, mas sim aqui (local onde seria Anápolis)”.