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A crise mais que anunciada da Equatorial em Goiás

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“O que somos nós senão uma fantasia organizada?” A reflexão, de autoria do filósofo francês Paul Valery, ajudará no nosso entendimento a respeito da fantasia existente em processos desprovidos de transparência. Caso este da comprometedora qualidade de energia que a empresa Equatorial vem fornecendo à sociedade goiana. Quem quiser comprovar a veracidade dessa colocação basta entrar no site do órgão regulador do sistema elétrico nacional, Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), e lá procurar pelo ranking das empresas de energia elétrica no país. E o que você, caro, consumidor, encontrará? Eis a resposta: das vinte e nove empresas integrantes do ranking, a Equatorial de Goiás fornece a pior qualidade de energia do país. Ou seja, de todas as empresas integrantes do ranking da Aneel, a Equatorial de Goiás é a empresa que tem maior tempo e frequência de desligamento de energia elétrica. Nesse sentido, é oportuna a comparação dessa empresa com outras distribuidoras que fazem parte do ranking.

Não tenham dúvidas de que os índices que revelam a péssima qualidade da energia fornecida por essa Equatorial têm muito que ver com natureza do capitalismo selvagem, que dá as costas para as reais necessidades da população por insumo de energia elétrica.

Um exercício legítimo de cidadania passa pela mobilização da sociedade organizada no sentido de cobrar explicações dos governos, das empresas, pela péssima qualidade da energia fornecida à comunidade. Decididamente, a Equatorial não fez o dever de casa. A empresa está complemente alheia às reais necessidades do povo de Goiás por insumo de energia. Vejamos alguns fatos que necessitam ser cobrados dessa empresa:

1. Quanto às falhas no processo de regulação.

Eis aí uma missão do governo estadual para cobrar não só a Equatorial, mas, sobretudo, o governo federal, no sentido de exigir uma atuação mais consistente do regulador. Sem regulação eficiente a empresa jogará o seu próprio jogo, que é voltado para o lucro sem fim.

2. Quanto aos investimentos.

A qualidade da energia está diretamente ligada a quanto se investe no sistema elétrico. Desse modo, se os investimentos não atendem ao real crescimento da demanda, isso se reflete diretamente na qualidade de energia fornecida ao mercado consumidor. Nesse sentido é oportuno acrescentar que economia é jogo de soma zero, contexto no qual alguns perdem para que outros possam ganhar. Se os consumidores são perdedores, quem, de fato, ganha com esse caos energético ocorrido em terras goianas?

3. Foco no desenvolvimento e não no crescimento econômico.

Crescimento econômico não é sinônimo de desenvolvimento. Explico.

Atender ao crescimento econômico é altamente lucrativo. Veja só o caso de Goiás. Nas ricas regiões produtoras do agronegócio, o investimento da empresa terá muito mais retorno econômico do que nas regiões mais pobres (como o nordeste goiano). Nesse caso, os investimentos em cargas rarefeitas não são economicamente atrativos para empresas capitalistas. Esse é o caso do nordeste de Goiás. Lá, a empresa tem de investir consideravelmente em linhas de transmissão para atender à demanda que não cobre os custos do investimento. Decididamente, cargas rarefeitas não interessam a empresas praticantes do capitalismo selvagem. Quanto a esse aspecto, ressalta-se que a missão do Estado é o desenvolvimento. Nesse sentido, o governo deve arcar com os custos de obras sociais desprovidas de crescimento econômico.

4. Quanto aos ganhos de produtividade.

Os ganhos de produtividade refletem-se na inovação tecnológica que a empresa absorve, e isso incide em consideráveis economias, que, certamente, elevam a lucratividade da empresa. Isto é, as empresas que obtêm ganhos de produtividade, aumentam consideravelmente seus lucros. Essas, como prevê a lei, têm a obrigação de repartir os ganhos com a sociedade. Assim, quanto a isso é oportuna a seguinte indagação: quem está cobrando da Equatorial que reinvista em Goiás parte dos ganhos de produtividade que obteve com a inovação tecnológica?

O que coloquei supra reflete diretamente na péssima qualidade de energia fornecida pela Equatorial em Goiás. Não sou nada saudosista daquela CELG estatal que viveu a partir dos anos de 1980. A fantasia se desfez quando o Plano Real mostrou bilhões de reais encobertos pela inflação. A partir daí, a empresa se descapitalizou em mais de dois bilhões de reais. Muito dessa descapitalização pode ser atribuído à avalanche de corrupção que contaminou a empresa a partir de 1980.

Sou, sim, saudosista da CELG meritocrática dos anos de 1950 a 1979, construída por gente da terra, compromissada com desenvolvimento de Goiás.

Só a cidadania e a pressão da sociedade, aliadas a governos vigilantes, com poder para cassar a concessão, poderão salvar-nos desse caos energético. Empresa privada alguma virá para Goiás por altruísmo. O altruísmo de empresas como a Equatorial tem um nome só: lucro. Sem a força da cidadania não sairemos desta crise energética mais que anunciada. A solução é eminentemente política.

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