Somos ensinados e quase que “domados” para olhar apenas para o fim, para aquele objetivo, a causa última das coisas. E como bons aprendizes colocamos metas e estas cada vez mais inalcançáveis, pois na verdade, aprendemos que precisamos buscar, ir além, dar saltos e alcançar. Não podemos é ficar parados! E na verdade, todas estas questões são interessantes e tem algo de verdadeiro. Nascemos e aqui estamos tentando entender o sentido disto tudo aqui, e que bom que tenha um objetivo lá na frente.
Mas contudo, cada vez mais encontro pessoas que são “perfeitas” em cumprir metas, lutar por propósitos, lutar até a última possibilidade de forças, e a grande máxima que há alguns dias tive a “infelicidade” de ver em uma rede destas que se dizem sociais: “Nunca desista do seus objetivos, lute e corra atras!” – Talvez você olhe para este imperativo e não veja nada demais. Mas a questão, é que cada dia mais, encontro diante de mim na minha clínica pessoas que estão altamente treinadas para se alcançar o fim, chegar na linha final, conseguir colocar a bandeira lá no cume do seu propósito, mas ao mesmo tempo tão vazias de agora e da realidade que lhe cerca.
Lembrei aqui de uma frase que gosto muito de Guimarães Rosa, em seu clássico ‘Grande sertões veredas’: “Quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia...”. Ele como bom viajante sabe muito bem do que estava falando, e por isso mesmo, como viajantes que somos neste percurso que se chama vida, tal afirmação dele faz muito sentido.
E como tem pessoas que elege a busca – e luta até o fim para alcançar, mas se esquece que há uma travessia que pode ser experimentada e vivenciada. Pois ao estar tão focado no fim que se busca não consegue perceber os processos de cada dia, as conquistas de cada etapa e inclusive esquece de se questionar, se de fato quer chegar até aquele ponto.
E te pergunto: como esta a travessia dos seus dias? Como esta a travessia da sua semana? E do seu mês e ano? Ou você se pega apenas olhando para o fim do dia, o fim de semana, o próximo mês, as festas de final de ano.... e assim, vai passando os momentos que estão cheios de vida, de sentimento e de verdade.
Recusar a travessia, que Guimarães Rosa cita, penso que seja quando fazemos de tudo para não viver a realidade que me é colocada, mas viver fantasiosamente naquela que tenho perfeita e idealizada em minha mente e até mesmo verbalizamos: ‘quando chegar lá...’; ‘quando conseguir alcançar isto...’; ‘no momento que eu possuir isto...’; ‘quando tiver com esta pessoa...’ e assim vai vivendo apenas do que se busca e nunca do que se tem.
E você, tem conseguido perceber seu caminho? A travessia tem sido algo que faz sentido, ou o que de fato importa é chegar ao fim, mesmo que este, na verdade, esteja apenas na sua cabeça, por cobrança pessoal ou expectativas dos outros?
Enfim, se permita viver as travessias da vida! Somos feitos de travessia, e na travessia. Que tenhamos objetivos sim, são bem-vindos. Mas que eles não nos roube da possibilidade de ver nosso caminho.
Me conte la no meu Instagram @eliassilva.psi.... como está sua travessia. Até lá!