“Dores no peito, mãos e pés frios e trêmulos, muita dor de cabeça e soando frio, aparentemente sem motivos e muita falta de ar” - Infelizmente está cada vez mais comum esta escuta na clínica ou até mesmo em conversas entre amigos, familiares ou colegas de trabalho. Isto porque estamos convivendo em uma sociedade cada vez mais ansiosa e ansiogênica, que ao mesmo tempo vivem as consequências de altíssimas demandas psíquicas, mas também contribuem para que isto se perpetue, e de uma maneira quase que “normal”. E talvez aqui, vale o questionamento do que é normal ou comum, pois pode-se falar sim que pós pandemia do COVID-19, o tema e queixas sobre saúde mental alcançou ambientes e pessoas que até então não se permitia discutir tais temas.
O Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental em ranking com 64 países. Esta pesquisa que já está em sua terceira edição, mas é a primeira incluindo o Brasil, busca traçar um panorama da saúde mental da população, atribuído via quociente de saúde mental (MHQ, da sigla em inglês). Nesta pesquisa nosso país fica atrás apenas da África do Sul e do Reino Unido, e outro dado revelado é que os jovens são os mais atingidos, com esta pandemia de saúde mental.
Este pódio não muito digno de comemoração é o reflexo exato de uma sociedade esmagada por demandas cada vez mais exigentes e limitações frutos de condições econômicas, sociais e culturais, e acima de tudo vive-se a partir de um ideal de felicidade, competência e sucesso longe do que a realidade se apresenta.
A ansiedade é um afeto que surge como um resultante de um conflito interno, e claro todos nós já experimentamos este estado psíquico de instabilidade emocional, mas aqui vale a pena distinguir o que é uma ansiedade, dentro de um contexto controlado, e o quando ela se torna crônica e debilitante, comprometendo assim nossa qualidade de vida. É possível falar em uma ansiedade positiva, ou seja, aquela quando eu aguardo e crio uma gostosa expectativa com um encontro, com uma viagem ou até mesmo em conhecer um livro, uma cafeteria, ou algo assim. E aquela que tanto me oprime que me paralisa, me faz sofrer e muito tem consequências no meu dia a dia.
Nós somos essencialmente psicossomáticos, ou seja, o que experimentamos em nossa psique se manifesta em nossa carne e corpo. É por isso se explica aquelas queixas que apresentei no início de nossa conversa, o que na psicanálise chamamos de sintomas. E estes precisam ser analisados com calma para que se chegue a perguntas corretas do que está por trás ou inserido em todos estes sintomas e angústias.
Quando nos expomos à um mal-estar prologando ou demandas exacerbadas nosso corpo grita e mostra que precisamos ter calma e cuidado conosco mesmo. E como falo com meus analisandos e pacientes: Tenha calma e paciência contigo!
Como uma realidade que nos expõe inevitavelmente, nos dias atuais, estão as redes sociais, onde estamos cada vez mais “jogados” e expostos a todo tipo de situações altamente ansiogênicas, ou seja, causadoras de ansiedade. Nos colocamos numa situação de observador e observados e a partir disto uma cobrança e comparações não justas conosco mesmo e com os outros; e exigências de sucesso a qualquer custo e de todas as formas, e um imperativo de felicidade quase que desumano.
Precisamos falar disto urgentemente, e tratar nossa angústia como algo que precisa ser visto com todo respeito humano possível. Um grande psicanalista francês, Jaques Lacan nos diz que “A angústia não mente, é o único afeto que não mente”, e por isso mesmo precisamos ter a coragem de ir além dos sintomas e nos perguntar: o que está doendo tanto?
E você, tem se permitido olhar para
as dores e angústias e ser sincero contigo mesmo sobre os sintomas que seu
corpo insiste em manifestar? Me conte
mais sobre como tem se sentido lá no meu divã no instagram @eliassilva.psi
E seja bem-vindo à este lugar de conversa, partilha e acima de tudo de escuta!
Bom café a todos!