Uma relação sexual não deve ser dolorosa. O sexo precisa estar associado ao prazer e não a experiências dolorosas.
Mas por que então são tão comuns queixas de dores na relação?
O início da vida sexual, para a grande maioria das mulheres, é marcado pela dor e não deveria. Muito antes de ter a sua primeira relação, essa menina já escuta das amigas ou da mãe que a primeira vez dói e sangra. Imagine como essa mulher vai para sua primeira experiência sexual? Cheia de medo! E quem tem medo se contrai, não relaxa. A vagina é um tubo oco, feita de músculos, que respondem a essa tensão, se contraindo também. Dessa forma vai oferecer resistência à entrada do pênis. A fala que essa mulher ouviu a vida toda se tornará realidade, experimentando dor.
Mas há quem diga que só as primeiras vezes serão dolorosas e depois passa. E realmente, com o tempo e o aumento da intimidade, essa mulher ficará mais relaxada e aproveitará melhor a relação.
E vocês podem me perguntar, mas a dor não é por causa do hímen?
O hímen é uma membrana mucosa e pode ter vários formatos. Na maioria das mulheres tem um formato anelar e pode até sangrar quando rompe em cima de um vaso sanguíneo. Se essa mulher estiver bem lubrificada, o hímen não oferecerá maiores resistências à penetração e nem trará dor. Alguns formatos como o cribiforme, o hímen septado e o imperfurado serão difíceis de serem rompidos e podem trazer muito desconforto, podendo inclusive necessitarem de uma intervenção cirúrgica.
Infelizmente, uma parcela das mulheres continuará tendo dores na relação sexual mesmo após as primeiras experiências sexuais. Essa dor pode ser superficial, ocorrendo na penetração ou pode ser uma dor profunda, sentida lá no fundo da vagina e na barriga, como se esse pênis estivesse encostando em alguma coisa.
Há também mulheres que não conseguem ter penetração e apresentam o que chamamos de vaginismo. Essas mulheres podem ter dificuldade inclusive de realizarem um exame ginecológico. Algumas não conseguem introduzir nem um dedo na vagina, que dirá um pênis. No vaginismo, predominam fatores emocionais, psicológicos que geram medo do sexo e da penetração, com uma contração vaginal tão acentuada que é impossível introduzir qualquer objeto na vagina. Uma educação sexual repressora é um dos principais fatores relacionados ao vaginismo.
Candidíases de repetição, com repetidas relações dolorosas podem levar a um vaginismo secundário. Histórico de abuso sexual também é frequente. O tratamento envolve terapia sexual e fisioterapia pélvica.
A dor na penetração, também chamada de dispareunia superficial tem inúmeras causas. Diferente do vaginismo, a dispareunia sempre tem uma causa orgânica e pode ocorrer por uma lubrificação diminuída, por atrofia da região íntima, consequente à falta de hormônio ou mesmo por tratamentos como câncer de mama, que deixam essa região íntima fina e ressecada. Pacientes com corrimentos por candidíases, vaginoses, infecções sexualmente trasmissíveis, também podem experimentar dores na relação sexual. A causa precisa ser identificada e adequadamente tratada.
A lubrificação na mulher pode estar diminuída por falta de estímulo adequado, por um tempo muito curto entre o início da relação e a penetração, por uso de medicamentos como anticoncepcionais orais, isotretinoína, tão usada para acne, e ainda por problemas no relacionamento ou uma visão ruim do sexo ou um sexo apenas por obrigação.
Na menopausa, a queda abrupta nos níveis de estrogênio, leva a um afinamento da mucosa que reveste a vagina e o intróito vaginal, a famosa atrofia urogenital da menopausa. Isso resulta em ressecamento vaginal e muito desconforto na relação. Vários tratamentos podem ser realizados como o uso de reposição hormonal, cremes a base de promestrieno, hidratantes vaginais com ácido hialurônico e o laser vaginal, que tem mostrado resultados incríveis. A aplicação do laser na região íntima pode ser realizada mesmo nas mulheres que tiveram câncer de mama e não podem fazer reposição hormonal. Mulheres no pós parto também podem apresentar atrofia vaginal e dor na penetração, podendo se beneficiarem muito da aplicação do laser.
Os aparelhos de laser mais modernos oferecem resultados excelentes com quase nenhum desconforto na aplicação ou desconforto mínimo. São realizadas de 2 a 3 sessões com intervalos de 2 a 4 semanas. E, a depender de cada caso, 1 sessão anual de manutenção.
A dispareunia profunda tem outras causas e merece uma investigação detalhada por parte do ginecologista. Endometriose, doença inflamatória pélvica, miomas e adenomiose podem estar associadas a dor profunda na relação sexual. Uma boa consulta ginecológica é fundamental para o diagnóstico correto. O tratamento dependerá desse diagnóstico.
Portanto, volto a dizer que dor na relação sexual não é normal! Procure ajuda!
A vida sexual merece ser vivida com prazer, pois afinal, o prazer é todo seu!
@drajoicelima