Recentemente Maiara, da dupla Maiara e Maraisa, afirmou ter realizado uma cirurgia íntima, após ter perdido muito peso. A cantora afirma que o principal motivo foi estético, mas se surpreendeu com a melhora funcional. E disse ainda: “As pessoas têm um tabu com isso. Fiz pela questão visual. A sensação que tenho hoje é de liberdade sexual e fez eu me sentir mais mulher. Tem também a questão de que temos que nos conhecer, a mulher tem que conhecer sobre a sua vagina.”
O medo do julgamento e a repressão sexual a que as mulheres são submetidas em nossa cultura, faz com que muitas delas, que apresentam algum incômodo nessa região, demorem muito tempo para falarem da queixa e buscarem uma solução.
Tenho pacientes que estão comigo há muitos anos e só agora, depois que estão ouvindo falar mais do assunto nas mídias, tiveram coragem de se queixarem que não estão satisfeitas com sua região íntima.
O julgamento de fato existe, inclusive pela classe médica e muitos profissionais dentro da ginecologia acham que as mulheres estão inventando demais. Prova disso é o fato de que cirurgias como Ninfoplastias são realizadas muito mais por cirurgiões plásticos e até dermatologistas, do que por ginecologistas.
Hoje sabemos que não se trata mais de uma questão puramente estética, mas também funcional. E mesmo nos casos em que o fator estético é o principal, os benefícios como a melhora da autoestima e da vida sexual são notáveis e vão impactar a saúde mental dessa paciente.
Quanto mais escuto as pacientes no consultório, mais percebo o quanto elas querem se cuidar de forma integral, cuidando também da região íntima. A maioria procura por elas mesmas e não por alguma crítica ou desejo do parceiro. Na verdade ocorre até o contrário, a paciente deseja fazer a cirurgia e o parceiro afirma que não precisava, pois está bom pra ele. Eu costumo conversar com o casal e dizer que não basta estar bom pra ele, precisa estar bom pra ela também.
Ninguém hoje critica uma mulher que quer fazer abdômen, lipo ou colocar uma prótese, mas infelizmente ainda criticam quem deseja uma cirurgia íntima.
É comum as pacientes não contarem pra ninguém que vão fazer a cirurgia, por medo desse julgamento.
Quando famosas como Maiara rompem esse silêncio e compartilham suas experiências sobre o assunto, muitas outras mulheres criam coragem para falarem com seu ginecologista sobre o que as incomodam. E o ginecologista precisa ouvir atentamente essas queixas e oferecer a essa mulher o que há de melhor em procedimentos para essa região.
A Ninfoplastia ou Labioplastia é o procedimento cirúrgico íntimo mais procurado pelas pacientes e consiste na diminuição dos pequenos lábios. Existem várias técnicas que podem ser realizadas com bisturi a frio, tesoura, bisturi de alta frequência (CAF) e Laser.
A paciente deve ser cuidadosamente avaliada para um planejamento da técnica mais adequada a ser utilizada.
A tendência atual é a realização da cirurgia a nível ambulatorial, com anestesia local.
Em Goiás, tenho realizado a técnica de Ninfoplastia com Laser sem pontos. Para essa técnica utilizo o laser FOTONA. Inicialmente descrita pela ginecologista colombiana, Drª Cláudia Pidal, tenho aprimorada essa técnica com excelentes resultados.
Dentre as vantagens dessa técnica podemos citar:
- cirurgia ambulatorial
- Menos inchaço local
- Menos dor ou até indolor
- Menor sangramento
- Rápido retorno ao trabalho
É comum as pacientes terem medo da diminuição da sensibilidade com a cirurgia, porém alguns trabalhos mostram que pode ocorrer o contrário, com uma melhora da sensibilidade em até 35%.
O impacto na vida sexual é notável e muitas pacientes que só namoravam de luz apagada ou não se sentiam à vontade com um sexo oral, ganham confiança, melhoram a autoestima e, assim como Maiara se sentem mais mulheres, usufruindo mais e melhor da sua vida sexual.
O uso indiscriminado de implantes hormonais tem trazido uma nova demanda de pacientes com aumento do clitóris. Cirurgias envolvendo a redução do clitóris apresentam um risco maior de diminuição da sensibilidade. Novas técnicas têm surgido no intuito de esconder esse clitóris, ao invés de retirar parte dele.
Em qualquer idade, se a paciente tem algum desconforto na sua região íntima, ela deve procurar seu ginecologista e fazer uma boa avaliação. E o profissional deve estar aberto para ouvir essas queixas sem julgamento. Recentemente uma paciente jovem me procurou desejando retirar uma pequena verruga na região íntima, que não tinha nenhuma relação com HPV e a ginecologista anterior não quis retirar, pois afirmou para a paciente que não precisava. A paciente estava há 1 ano sem se relacionar com ninguém por vergonha dessa verruguinha. Devemos estar atentos ao sofrimento psicológico que essas pacientes têm relacionado às questões ligadas à região íntima.
Cada vulva é única. Devemos ter o cuidado para não criar um padrão de beleza da região íntima e sim ouvir cada mulher e respeitar a sua individualidade, para que ela se sinta bem com seu corpo e desfrute do prazer se sentindo segurança de si.
@drajoicelima