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Os sextoys vieram para substituir os homens?

Brinquedos sexuais trazem preocupação e provocam resistências em muitos homens

Imagem ilustrativa da imagem Os sextoys vieram para substituir os homens?

Tenho ouvido com muita frequência a seguinte frase: “Com esses brinquedos daqui a pouco as mulheres não vão mais precisar dos homens”.

O que há de verdade nisso e porque a popularização dos sextoys ou brinquedos sexuais têm causado tanta preocupação?

O prazer feminino sempre foi relegado a segundo plano e durante séculos ninguém entendia qual a função do clitóris e sua real anatomia era desconhecida. Só após a revolução sexual na década de 60, marcada sobretudo pelo advento da pílula anticoncepcional, que permitiu separar o sexo reprodutivo do sexo prazer, é que o prazer feminino começou a ser reivindicado pelas mulheres. Não bastava mais estar numa relação sexual apenas para satisfazer o parceiro. Era preciso que essa relação fosse prazerosa também para as mulheres.

Apesar dos sextoys já existirem desde 1869, quando foi inventado o primeiro vibrador a vapor, só agora na pandemia, os brinquedos sexuais conquistaram um lugar de destaque e muitas celebridades têm relatado sua experiência pessoal com esses acessórios.


		Os sextoys vieram para substituir os homens?
(FOTO: REPRODUÇÃO)


Quando os primeiros vibradores foram inventados, sua função era parecida com a de um massageador e usados para tratamento de diversas doenças, inclusive para o tratamento da asma. Ao perceberem que eles não tinham resultado eficaz para essas doenças, a indústria erótica viu nesses produtos uma ótima oportunidade para o seu uso em filmes pornográficos e, a partir de então, os vibradores foram marginalizados e considerados como objetos obscenos.

A ciência vem avançando no sentido de resgatar os acessórios eróticos como importantes aliados no campo da sexualidade, para o autoconhecimento, o tratamento de disfunções sexuais e o aumento do repertório sexual de casais em relacionamentos longos.

O falocentrismo que sempre acompanhou a sexualidade, coloca o pênis no centro da relação, como o mais importante, sobretudo quando pensamos num sexo com função reprodutiva, capaz de gerar filhos. E daí decorrem muitas outras ideias vinculadas a esse pênis.

Os homens se sentem responsáveis pelo prazer feminino, como se eles é que tivessem que dar prazer a essa mulher.E esse prazer, na concepção masculina, seria dado através do pênis. Por isso é tão grande a preocupação com o tamanho do genital. E ainda associam ao seu genital a ideia de masculinidade, virilidade, potência e tantos outros aspectos semelhantes.

A verdade é que ninguém dá prazer a ninguém. Cada um é responsável pelo próprio prazer.

Eu posso facilitar ou dificultar o prazer do outro. Mas, de nada adianta um homem querer satisfazer sua parceira se ela estiver completamente distraída nesse momento erótico e pensando nas contas a pagar. Seu corpo não responderá aos estímulos realizados por esse parceiro.


		Os sextoys vieram para substituir os homens?
(FOTO: REPRODUÇÃO)


A grande maioria das mulheres conhece pouco sobre o potencial de prazer que seus corpos oferecem. Séculos de uma cultura repressora, que ainda persiste entre nós, priva as mulheres desse autoconhecimento e tem um impacto desastroso na vida sexual das mulheres.

O maior número de pesquisas a respeito dos brinquedos sexuais e seu resgate para um uso embasado na ciência, junto com a disseminação dessas informações nas mídias e o crescimento do mercado erótico durante a pandemia, tem permitido às mulheres um maior contato e uso desses acessórios na busca do prazer e autoconhecimento.

Isso assustou a grande maioria dos homens, que até então continuavam com a antiga ideia de que eram fundamentais para o prazer feminino. E Freud, ao falar do complexo de castração, reforça essa visão da incompletude feminina, que, não tendo um pênis, necessitaria desse homem, para obter a satisfação sexual.

E, se os brinquedos trazem essa função de satisfazer o prazer sexual feminino, é natural que a primeira coisa que os homens pensem é que estão sendo substituídos. E há alguns que digam: “Minha mulher não precisa desses brinquedos! Eu sou suficiente pra ela!”. E dizem isso sem sequer consultarem essa parceira, mas como uma forma de reafirmar sua virilidade.

Não é uma questão de ser suficiente ou não. Aliás, a palavra suficiente traz uma ideia tão limitada, de que não podemos expandir esse prazer e conhecer novas sensações. Posso ter algo que é suficiente e mesmo assim querer experimentar outros estímulos, outras posições, novos lugares e novas fantasias. Nosso cérebro gosta de novidades! Novidades são excitantes e muito bem vindas no campo da sexualidade e da saúde sexual! Novidades alimentam o desejo.


		Os sextoys vieram para substituir os homens?
(FOTO: REPRODUÇÃO)


Uma pesquisa recente da Universa Uol em parceria com a TECH4Sex mostrou que 78% das mulheres usam os sextoys junto com suas parcerias. Isso prova que a intenção não é substituir ninguém, mas sim agregar novas sensações e mais prazer para o momento.

Os brinquedos não são apenas para as mulheres, mas para todos.

As pesquisas mostram também que os brinquedos preferidos pelas mulheres são aqueles que não têm formato de pênis, brinquedos mais lúdicos, com variados formatos, inclusive de bichinhos, sorvetes ou flores. Eles trazem uma ideia de um sexo mais divertido, onde os envolvidos possam experimentar essas diversas funções de vibração, sucção, movimentos que simulam língua, etc.

O sexo pode se tornar uma grande brincadeira, onde o mais importante seja vivenciar o prazer.

Os brinquedos podem sim permitir àqueles que estão sem parceria, continuarem vivenciando sua sexualidade de uma forma sólo, o que é ótimo para manter esse desejo ativo.


		Os sextoys vieram para substituir os homens?
(FOTO: REPRODUÇÃO)


E aproveito aqui para reforçar mais uma vez que a função dos brinquedos não é de substituir os homens.

Escuto muito de quem está sem parceria e usa os brinquedos sozinha, que gostariam de ter alguém para dividir esse momento, pois nada substitui o calor humano.

Podemos aprender muito com esse momento que estamos vivendo na sexualidade mundial. Os sextoys podem ser grandes aliados. Uma mulher que se conhece e sabe o que lhe dá prazer, é uma mulher que vivencia sua sexualidade com o outro de uma forma muito mais intensa e plena.

Quando um homem se liberta dessa antiga ideia de um sexo ligado apenas ao poder de um pênis e à penetração, seu universo de prazer deixa de ser limitado e permite viver novas experiências incríveis com essa parceria.

Como ginecologista e sexóloga tenho me dedicado ao estudo dos acessórios sexuais e auxiliado meus pacientes na busca por uma vida sexual saudável e prazerosa. E uma das formas de fazer isso é através da Consultoria “Viva com Prazer”, onde, ao compreender o universo sexual particular de cada pessoa, posso sugerir o que seria mais interessante para aquela pessoa e aquele casal. As sugestões não são só de brinquedos, mas também de algumas mudanças na rotina, no diálogo com o outro, que podem trazer mais satisfação para todos os envolvidos. Tive o prazer de falar sobre o tema para profissionais de saúde no V Curso de Imersão em Sexualidade da Faculdade de Medicina da USP em 2022. Trazer o tema para que os profissionais médicos saibam como orientar seus pacientes é fundamental.


		Os sextoys vieram para substituir os homens?
(FOTO: REPRODUÇÃO)


Se permita experimentar! Pare de criticar ou ter medo sem sequer conhecer!

E não fale pela sua parceria, abra espaço para conversarem sobre o assunto!

Seja suficientemente maduro para compreender que o que vocês fazem na hora H vai muito além de um Sextoy Dra. Joice Lima - Ginecologista e Sexóloga

@drajoicelima

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