A palavra masturbação, ao ser proferida, deixa muita gente de olhos arregalados, face ruborizada, um sentimento de vergonha e a ideia de pecado. Ainda hoje é compreendida como um prazer solitário e condenada pelas diferentes culturas e religiões.
E por mais liberdade sexual que achamos que temos, a masturbação ainda carrega o peso dos séculos.
Vamos passear pela história e compreender um pouco mais de onde vem todo esse peso?
O sexo na história sempre foi visto muito mais pela sua função reprodutiva do que pelo seu lado prazeroso. Os orientais sempre valorizaram a energia sexual como uma das energias mais poderosas do ser humano, tão poderosa que é capaz de gerar vida. Chamada de energia Kundalini na cultura oriental, a energia sexual compõe um dos 7 chakras e seu alinhamento energético é fundamental para uma boa saúde física, mental, emocional e espiritual.
Mas energia sexual não diz respeito apenas à uma relação sexual e sim à energia de vida e à nossa capacidade de experimentar prazer.
A energia sexual é tão poderosa que, muito cedo na história, os governantes e as religiões perceberam que, ao controlar a sexualidade de um povo, você é capaz de dominar esse povo. E assim o fizeram.
Por séculos na história fomos reprimidos e dominados e o Estado determinava o comportamento sexual. As epidemias eram vistas como castigo pelos excessos sexuais. E eram usadas como uma forma de amedrontar a população.
Além disso, o número de mortos em algumas epidemias devastava a população e era preciso reproduzir e povoar a Terra. O sêmen era visto então como a semente da vida, algo precioso e que jamais poderia ser desperdiçado com a masturbação. Em algumas culturas, as mãos dos homens adolescentes eram amarradas, para que eles não se masturbassem. A virgindade, cobrada apenas das mulheres, tinha o papel de garantir ao homem que aquele filho era realmente dele, o que implicava em questões patrimoniais e de herança.
A mulher estava sempre a serviço do homem e o sexo no ambiente familiar era apenas para reproduzir. Era inconcebível que uma mulher precisasse experimentar prazer no sexo e muito menos que ela experimentasse esse prazer sozinha.
Os homens tinham o direito de ter, além da esposa, uma concubina, uma escrava ou escravo. E os bordeis eram os espaços onde a eles era permitido descarregar suas energias sexuais e experimentarem o prazer.
Na Idade Média, coube à igreja o domínio da sexualidade. Com as guerras e toda a destruição que elas trouxeram, a Igreja detinha o poder ao ser dona do saber através da leitura e da escrita, já que grandes bibliotecas estavam sob sua guarda.
O prazer feminino sempre foi relegado a último plano. Por que uma mulher precisaria ter prazer no sexo? É pra quê servia essa estrutura perto da entrada da vagina, o tal clitóris? Até hoje ainda estamos desvendando sua anatomia e muitos homens nem sabem direito onde fica.
O autoconhecimento é fundamental para a sexualidade e para a vivência prazerosa da mesma. Vários estudos mostram que mulheres que se conhecem têm mais prazer no sexo.
E como as mulheres podem se conhecer melhor?
- Se olhando no espelho - Olhe sua região íntima e identifique as estruturas. Você pode pegar uma foto da região genital na internet e observar cada estrutura que compõe sua região íntima
- Se toque - Toque cada uma dessas estruturas, primeiro só com os dedos, sem passar nada. Depois experimente passar um óleo de coco ou de amêndoas, ou mesmo um lubrificante e toque novamente. Faça movimentos suaves e outros mais intensos. Movimentos de vai e vem , circulares. Vá testando e prestando atenção naquilo que você gosta mais e te dá mais prazer.
- Toque seu corpo todo e não só a região genital. Pratique o autocarinho e desperte seu corpo para sensações gostosas e prazerosas.
Essa autodescoberta daquilo que te dá prazer é maravilhosa e possibilita experimentar muito mais prazer quando você estiver com outra pessoa.
Uma cena linda do filme “Terapia do Prazer” me chamou a atenção, quando o terapeuta diz: “Não há nada no mundo mais poderoso do que uma mulher consciente da sua sexualidade”. Muitas das chamadas “bruxas” da Idade Média eram mulheres que tinham essa consciência da sua energia sexual. Foram reprimidas e queimadas na fogueira, pois eram poderosas.
Masturbação é autoconhecimento, é autocarinho. Nosso primeiro contato com o próprio prazer sexual. Se eu sei como gosto e onde gosto, fica muito mais fácil dizer isso ao outro.
Os homens sempre lidaram melhor com essas questões, por dois motivos principais: seu genital é mais exposto e facilita uma melhor relação com o mesmo. E além disso, sempre tiveram permissão para vivenciarem sua sexualidade com menos repressão.
Os genitais femininos estão mais escondidos e as mulheres sempre foram reprimidas.
Há quem use o argumento da Compulsão Sexual e do Vício em Pornografia para criticar a masturbação. São coisas diferentes. A prática da masturbação pode estar inserida nesses dois transtornos, mas de forma exagerada e precisa de acompanhamento médico e sexológico. Os centros cerebrais ativados nesses casos são os mesmos ativados nas dependências químicas. Geralmente há uma predisposição orgânica e até genética para que alguém seja viciado em drogas e acredita-se que ocorra o mesmo com sexo e pornografia.
Nem todo mundo que se masturba será viciado em sexo ou pornografia. É preciso que haja uma predisposição para isso. Essas pessoas geralmente se livram de um vício e caem em outro, pois o funcionamento cerebral é diferente. E por isso precisam de tratamento.
A masturbação praticada para o autoconhecimento é saudável na vivência da sexualidade. Mulheres que se masturbam ou se masturbaram antes e no início da vida sexual têm muito mais facilidade para atingirem o orgasmo. Elas se conhecem e sabem o que fazer e como fazer para terem prazer durante uma relação sexual.
O sexo reprodutivo, focado na penetração, dificilmente leva uma mulher ao orgasmo. Apenas 20-30% das mulheres, no máximo, têm orgasmo só com penetração. 70-80% das mulheres só terão orgasmo se tocarem o clitóris durante a penetração. Esse estímulo do clitóris também pode ser realizado antes ou depois da penetração, já que os dois não precisam chegar ao orgasmo juntos. Esse é um outro grande mito do orgasmo, achar que precisam chegar juntos para terem mais prazer.
Se permita desvendar os mistérios desse corpo que é seu! Se conheça melhor!
Se olhe, se toque! Pratique o autocarinho!
Autoconhecimento e autocarinho são fundamentais para uma vivência saudável da sexualidade.