Pode ser que essa transa não seja só com quem fisicamente está com você na cama, mas traga vários fantasmas ou frases de pessoas próximas e importantes pra você que te atrapalham de vivenciar o máximo de prazer.
Quero começar essa nossa reflexão me lembrando de uma moça que veio me procurar com dificuldade para ter orgasmo. Estava casada há vários anos e, apesar de ter um bom relacionamento e um marido carinhoso, ela não conseguia chegar lá. Entre uma consulta e outra, ela perdeu a mãe. Apesar da dor da perda, as mudanças em sua vida sexual foram notáveis e logo após a morte da mãe ela teve seu primeiro orgasmo. E seu relato é que agora se sentia livre para viver a sua sexualidade.
A grande maioria das mulheres foi criada em um ambiente de repressão sexual. E é comum até hoje ouvir pais dizerem: “Minha filha é uma pedra preciosa, um diamante e não pode se entregar pra qualquer um. Ela deve se guardar”. O problema é que essa ideia fica tão enrustida na cabeça dessas mulheres, que mesmo quando “autorizadas” a se entregarem, essas vozes continuam ressoando e dizendo não, você não pode se entregar. Quem será o merecedor desse diamante? Difícil, né? Pois por outro lado, essas mesmas mulheres crescem ouvindo que homens não prestam, só querem aproveitar delas e não são confiáveis. A quem entregar esse diamante então?
É muito comum encontrarmos mulheres com vaginismo que foram criadas nesse ambiente repressor e, mesmo depois de casadas, não conseguem ter uma penetração. Me lembro de uma delas, que estava casada há 9 anos sem nunca ter sido penetrada pelo esposo. No vaginismo há uma contração tão intensa da musculatura vaginal e assoalho pélvico, que é impossível introduzir até mesmo 1 dedo. Há um medo terrível da penetração. E muitas dessas mulheres só procuram ajuda quando querem engravidar. A penetração não é fundamental para um sexo prazeroso, mas é importante para um sexo reprodutivo. Num sexo que vise o prazer, outras práticas sexuais não penetrativas podem ser realizadas e trazerem prazer e satisfação para ambos.
Outro dia, levando meu pai pra casa, ele, que em tempos remotos foi Juiz de Paz na cidade onde morávamos, começou a lembrar de algumas histórias e disse: “Quando a fulana se perdeu, o pai dela queria matar o rapaz. Ainda bem que eu consegui convencer ele a fazermos o casamento. E disse a ele, vamos casá-los e logo você terá um neto e ficará tudo bem”.
E os homens? Também não “se perdem” quando iniciam a vida sexual antes do casamento? Percebem que existe uma força e um peso nas palavras, mas é muito diferente para homens e mulheres?
Outra fala muito dita por pais e mães: “Se você perder a virgindade, homem nenhum vai te querer.” Novamente a palavra “perder”. E o sexo desde cedo sendo colocado para as mulheres como um prejuízo. E os reflexos negativos dessas falas ao longo da vida delas serão expressivos.
O início da vida sexual precisa ser uma escolha e é preciso se sentir preparada(o) para esse momento. E essa preparação requer informações de qualidade, requer maturidade para avaliar riscos e consequências, mas requer também uma conversa franca sobre a importância do prazer e da sexualidade nas nossas vidas.
Outra fala comum entre as mulheres: “Deixe que ele te procure, é o homem quem tem que fazer isso”. E eu, o que faço com meu desejo quando tenho vontade? Não posso demonstrar? Não posso dizer que quero sexo? Por que não posso fazer isso?
As tantas vozes da repressão sexual vão dizer: “Vão achar que você é uma mulher vadia”, “Está assanhada demais”, “Você está muito depravada”.
O hímen parece um lacre, como se nossos corpos fossem objetos alheios, os quais não temos o direito de escolher o que fazer, como fazer e quando fazer. Como se nossos corpos pertencessem ao outro e não a nós mesmas.
E as mesmas vozes que dizem: “Se você transar, vai engravidar”, não são capazes de uma conversa sincera sobre como evitar uma gravidez e infecções sexualmente transmissíveis. Aliás, não são capazes nem de dizerem para essas meninas como ocorre uma menstruação.
No relato de tantas pacientes a vergonha quando a menstruação chega e o medo por não entenderem o que está acontecendo. Uma paciente por volta dos seus 50 anos me disse que quando veio a primeira menstruação achou que tinha se machucado e não sabia o que fazer pra conter aquele sangue. Ela tem 50 anos e é de outra geração mais antiga, mas me surpreendi outro dia, ao perguntar para uma turma de alunos de 10-11 anos se sabiam o que era a menstruação e de uns 25 alunos, só 3 sabiam. Daqui a pouco todas essas meninas terão a primeira menstruação e ainda não receberam as informações importantes sobre esse processo natural da vida das mulheres.
Até hoje, em alguns países, as mulheres são consideradas impuras quando estão menstruadas e por isso não podem pegar na mão de ninguém. Em tempos remotos, além de não poderem pegar na mão de outra pessoa, também não podiam cozinhar durante o período menstrual, já que eram consideradas impuras.
Mas estávamos falando de quem você está levando pra cama e eu estava curiosa pra saber. Que vozes são essas que te trouxeram tantas crenças e bloquearam a sua sexualidade? Foi sua avó que disse que a filha da vizinha dá mais que chuchu na cerca? Ou seu pai dizendo que mulher que transa demais é galinha?
Se até usar batom ou esmalte vermelho era considerado “coisa de prostituta”, imagina ter uma vida sexual ativa e prazerosa, onde essa mulher é dona do próprio prazer?
Me lembro de outras pessoas que cresceram em ambientes onde não havia muito carinho, toque e a nudez era algo totalmente proibida. Nem os homens poderiam ficar sem camisa. Como fica a intimidade quando se começa um relacionamento com outra pessoa?
Sexo é uma coisa tão íntima, tão linda! Sexo é algo que nos permite vivenciar a nossa capacidade de sentir prazer. São tantas substâncias boas liberadas nesse momento de toque, de beijos, lambidas, amassos e conexão! O sexo nos transporta para um céu delicioso! Nos permite ver estrelas e viver histórias cheias de fantasias!
Mas será que vale a pena continuar levando tanta gente pra cama?
A não ser que você queira um menáge, um swing, uma suruba, essas vozes, essas crenças que foram criadas por pessoas que passaram pela sua vida, são pesadas demais para continuarem na mesma cama onde você deveria estar desfrutando apenas de sensações gostosas e do prazer.
Eu sei que não é fácil mandar todas essas vozes embora, mas é possível e libertador. E você pode procurar ajuda!
O sexólogo é um profissional habilitado para trabalhar suas crenças limitantes e te ajudar a vivenciar a sexualidade de forma mais satisfatória e prazerosa.
Compreender e trabalhar todas essas questões que envolvem a sua sexualidade é algo muito importante.
Que você leve pra cama somente quem for convidado!
Fale comigo no @drajoicelima e me conte quem você está levando pra cama?