
É incrível como algumas frases são repetidas várias vezes durante nossa vida e acabam, poderosamente, se tornando uma verdade inconsciente.
Quantas vezes você já ouviu dizer que os homens não prestam?
Eu já ouvi muito essa frase, de amigas, pacientes e pessoas que eu nem conhecia direito. Mas talvez, o que mais me marcou foi ouvi-la da boca de um diretor de escola do ensino fundamental, um educador que me afirmou: “Eu falo para as meninas aqui na escola que os homens não prestam”. E eu questionei: “Como você pode dizer isso? Você também é homem e acha que você não presta?” . E ele me respondeu: “Eu não prestava, agora presto mais ou menos”.
O que será prestar “mais ou menos”?
É impressionante como os próprios homens acreditam que eles não prestam.
Ao contrário do que muitas mulheres pensam, vida de homem não é tão fácil assim. Eles também têm a sua dor.
No documentário “O Silêncio dos Homens” , que você pode assistir no YouTube ( https://youtu.be/NRom49UVXCE?si=RN0dYJMG966wCsOy ), você vai ouvir o relato vários homens, vítimas de um machismo estrutural, de uma masculinidade tóxica que não beneficia nem homens nem mulheres e ainda afasta os diferentes gêneros ou os coloca em posição de guerra.
Os homens desde cedo são cobrados com a típica frase: “Vire homem, menino!” Eu sempre me perguntei o que essa frase quer dizer? O que é preciso para tornar-se um homem? Ser um cara forte? E digo forte não só no sentido da força física, mas também no conceito de que homens não podem demonstrar as suas vulnerabilidades, homens não podem chorar, não podem ser doces, sensíveis, não podem falar de afetos, sentimentos, fragilidades. Homens precisam estar sempre prontos para o sexo, mas será que isso é possível?
Um dos melhores momentos no Podcast Sexo Descomplicado (https://open.spotify.com/episode/7aEgIru5FBLhA5zwSAxhpO?si=TGKOZiVZQ9u-bNUjxholJQ ) apresentado por mim e pela amiga ginecologista, sexóloga e escritora Clarissa Marini (@clamarini) foi quando entrevistamos o psicólogo e sexólogo Breno Rosostolato (@brenorosostolato) e falamos de Masculinidades: Virilidades e Fragilidades.
E por que falamos de Masculinidades no plural? Porque não existe só um tipo de masculinidade e sim vários. As pessoas associam a masculinidade à orientação sexual, como se só os homens heterossexuais fossem considerados do gênero masculino. E é comum ouvirmos falar “Quando ele era homem” ao se referirem a um homem gay ou a um homem Transsexual. Os homens gays ou Trans não deixam de ser homens. Há uma pluralidade de Masculinidades.
Se você que me lê agora é um homem, pare e reflita: “Qual foi o seu maior desafio na vida por ser homem?”

Eu cresci num mundo masculino, sou a mais velha de 4 filhos, tenho 3 irmãos homens e para mim sempre foi muito natural ter vários amigos homens. E foi nessa convivência que aprendi a olhar esse mundo masculino sem distinção.
Escuto muitas mulheres dizerem: “Numa outra vida, quero nascer homem”. Pois eu digo: Nem nessa vida e nem em outra, gostaria de nascer homem. Sou feliz sendo mulher e enfrentando todos os desafios e desigualdades que sabemos que existem nesse mundo machista. Minha luta diária é para que as pessoas tenham o direito de existirem e serem quem são independente de gênero ou orientação sexual.
Infelizmente muitas experiências ruins fazem com que as pessoas estejam infelizes e queiram desistir de si mesmas ou fazerem mudanças.
Muitas vezes o que precisa mudar não é o seu sexo, mas o respeito da sociedade aos direitos de cada um.
Nenhuma mulher deveria querer nascer homem para não passar pelos dissabores de ser vítima de tantas violências cometidas contra as mesmas.
Uma coisa é nascer num corpo com o qual eu não me identifico, como é o caso dos transsexuais. É algo inerente àquela pessoa.
Outra coisa é querer deixar de ser quem eu sou e nascer diferente porque a sociedade não respeita quem eu sou.
Conheço tantos homens que prestam. Aliás conheço muito mais homens que prestam do que aqueles que “não prestam”
Honestidade , honradez, fidelidade não podem ser atributos relacionados a um gênero ou outro, mas ao indivíduo.
Muitos homens ainda são meninos que não cresceram, isso é bem verdade. Tem muita mulher aí acabando de criar o filho da sogra, o marido que ainda é um meninão.
Precisamos educar os nossos filhos para serem cidadãos do bem, pessoas que sabem respeitar o ser humano sem julgamentos. Precisamos criar homens que se permitam ser vulneráveis e não se sintam donos das mulheres da sua vida. Homens que amem de forma saudável e respeitem suas companheiras ou seus companheiros.
Precisa haver mais igualdade de direitos nos papéis de gêneros. Não dá mais para as mulheres ficarem sobrecarregadas, estafadas, tendo que trabalhar fora de casa sem terem com quem dividir as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos.
Que os almoços de domingo tenham homens e mulheres organizando a cozinha, aos invés de homens deitados no sofá enquanto as mulheres lavam a louça.
E que os meninos aprendam sim a cuidar das bonecas e sejam futuros pais que sabem cuidar dos filhos.
As mulheres têm aprendido muito sobre elas mesmas. Têm compreendido que são capazes de trabalharem, construírem carreira e se sustentarem sozinhas. São provedoras delas mesmas. E a figura do homem provedor está ficando de lado.
Mas será que os homens têm acompanhado toda essa revolução feminina? Olho e vejo muitos homens perdidos com tantas mudanças.
Nessa mudança toda, é bem verdade que as mulheres estão ficando mais exigentes e não querem mais estar ao lado de um homem qualquer.
Elas querem um homem que valha a pena, um homem que “preste”.
Mas eu te faço um desafio, pergunte à próxima mulher que passar perto de você: “Quais atributos um homem precisa ter para “prestar” pra você?
Para falar comigo e contar o que você descobriu, me mande mensagem no @drajoicelima