Falar sobre a saúde pública no Brasil é, inevitavelmente, adentrar um campo minado de desigualdades e desafios crônicos. Dentre eles, a odontologia permanece uma das áreas mais negligenciadas. De acordo com o IBGE, em 2023, 11% dos brasileiros nunca foram ao dentista, um dado que soa alarmante. Este artigo visa trazer à tona questões negligenciadas que afetam milhões de brasileiros todos os dias.
Segundo o Ministério da Saúde, a região Norte apresenta o maior índice de pessoas que nunca foram ao dentista, chegando a 25%. Enquanto isso, no Sudeste, esse número cai para 7%. Esta disparidade não é apenas um dado estatístico, mas um reflexo gritante de uma federação que falha em prover serviços básicos de forma equânime.
O CFO (Conselho Federal de Odontologia) divulgou que apenas 2,5% do orçamento do SUS é direcionado para a odontologia. Em números absolutos, estamos falando de aproximadamente R$ 3,5 bilhões de um orçamento total de R$ 140 bilhões para o SUS em 2021. Esses recursos são insuficientes para atender a demanda da população e investir em tecnologia e inovação.
O Brasil possui mais de 300 mil dentistas registrados, o que nos coloca entre os países com maior número de profissionais da área. A oferta de profissionais de odontologia parece abundante, especialmente quando comparada às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Enquanto a OMS sugere uma proporção de um cirurgião-dentista para cada 1.200 habitantes, o país conta com um profissional para 645 habitantes. São cerca de 220 cursos registrados no Brasil. Essa alta disponibilidade, no entanto, não se traduz em qualidade ou acessibilidade no atendimento de saúde bucal público.
No entanto, essa estatística mascara uma realidade perversa: a má distribuição desses profissionais. Enquanto grandes cidades possuem um dentista para cada 500 habitantes, regiões remotas chegam a ter um profissional para cada 10.000 habitantes.
Em países como Canadá e Austrália, o investimento em saúde bucal per capita ultrapassa os 150 dólares anuais. No Brasil, esse número não chega a 20 dólares. Além disso, de acordo com a OMS, o Brasil está abaixo da média global em indicadores como cáries e perda dentária.
A odontologia não é um luxo, mas uma necessidade básica e um direito humano. A falta de políticas públicas eficazes e investimento em saúde bucal no Brasil é uma crise silenciosa que perpetua desigualdades e afeta a qualidade de vida de milhões. É hora de sorrir menos para as estatísticas enganosas e agir mais em prol de uma saúde pública verdadeiramente inclusiva.
Daniella Mendonça, especialista em Prótese Dentária e Reabilitação Oral , CRO 5973 , @dra_danim