As escolas de samba contribuem para movimentar a economia carioca durante todo o ano, afirmou hoje (20), em entrevista à Agência Brasil, o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Marcel Balassiano. De acordo com a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur), o carnaval deste ano deverá injetar na economia formal e informal da cidade, no período que inclui os dias da festa de Momo e a semana anterior, mais de R$ 4 bilhões, superando os R$ 3,78 bilhões apurados no evento de 2019.
Balassiano destacou que as agremiações têm impacto muito forte na economia, por meio dos setores hoteleiro, de bar, de alimentação e de transporte. “Não é só nos dias de carnaval. As escolas têm impacto o ano inteiro na indústria do carnaval, com diversos tipos de produções trabalhando nos barracões e nas quadras, e movimentando a economia formal e informal”.
Deu como exemplo um ensaio de rua ou de quadra. Quando esse tipo de evento ocorre, leva para o bairro muitas pessoas que consomem nos bares, restaurantes e, inclusive, ambulantes “Isso acaba sendo mais importante nesse momento em que o Rio de Janeiro e o Brasil estão vivendo de recuperação, ainda devagar, da recessão que o país passou entre 2014 e 2016. E a pior consequência dessa recessão é o mercado de trabalho, que está em situação bastante precária”, analisou Balassiano.
Pesquisa feita pela FGV a pedido do Ministério do Turismo, com dados de 2018, revela que o impacto do carnaval na economia naquele ano atingiu R$ 3 bilhões, gerando mais de 70 mil postos de trabalho e uma arrecadação de impostos de R$ 179 milhões, sendo R$ 77 milhões de Imposto sobre Serviços (ISS) para o Rio de Janeiro. Entre os turistas, 88% foram brasileiros, com permanência média de 6,6 dias cada e gastando R$ 280,32 por dia, em média. Já os 12% de estrangeiros ficaram mais dias (7,7 dias), gastando em torno de R$ 334,01 por dia.
Informalidade
Envolvendo os desempregados, os sub-ocupados e os 40 milhões de pessoas que estão na informalidade, o Brasil soma quase 70 milhões de indivíduos em situação mais precária no mercado de trabalho, dos quais 5 milhões estão no estado do Rio de Janeiro, disse o economista da FGV. Na informalidade, o estado do Rio detém cerca de 3 milhões de pessoas. “Esses eventos (ligados ao carnaval) acabam ajudando nessa questão da informalidade”. Isso ocorre em todos os municípios que têm escolas de samba, observou Balassiano.
Destacou que o setor do turismo tem muita importância para o desenvolvimento econômico. O indicador de atividade econômica do Rio de Janeiro, calculado pelo Banco Central (IBCR – RJ), mostra que 2019 foi o primeiro ano em que o estado voltou a crescer. “Foram quatro anos de queda nessa recessão”. No ano passado, porém, a economia do estado experimentou 1,3% de expansão. Em contrapartida, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor de serviços fluminense caiu 0,5%, em 2019. “Foi o quinto ano consecutivo de queda para um setor que é muito importante na economia do estado.”
O economista avaliou que uma das principais saídas para o Rio de Janeiro prosperar mais em termos econômicos é ver o turismo com mais cuidado e atenção, pelos benefícios que o setor traz para a cidade e para o estado como um todo. Marcel Balassiano salientou que a agenda turística do Rio tem dois principais eventos anuais, que são o reveillon e o carnaval e, de dois em dois anos, o Rock in Rio. Mas o turismo e a economia do Rio não deveriam movimentar só mega eventos, observou.
Defendeu que se houvesse uma agenda de turismo o ano inteiro, com a realização de congressos, turismo de negócios, a cidade e o estado conseguiriam manter um fluxo constante de turistas, o que favoreceria a economia e eliminaria a queda experimentada no setor de serviços.
Torcedor
Sem subsídios da prefeitura carioca, as escolas de samba do Grupo Especial precisam, cada vez mais, de dinheiro privado. A receita da venda de ingressos para os desfiles no Sambódromo é dividida pela Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) com as agremiações, que ganham também parte da venda dos direitos de transmissão do show na Marquês de Sapucaí. Faturam ainda com os eventos nas quadras.
Marcel Balassiano citou também que muitas escolas já adotam o Programa Sócio Torcedor, usado por muitos clubes de futebol, mas considerou que elas precisam dar maior divulgação e melhorar os atrativos para conquistar mais sócios e, em consequência, ter mais recursos. “Salgueiro, Portela, Mocidade, entre outras escolas, possuem programas para seus sócios, com diferentes benefícios”. Ele acredita que o futuro passa um pouco por aí, para ajudar as escolas a terem uma parte financeira melhor.
Outra sugestão, que a Mangueira lançou este ano, é o crowdfunding, ou financiamento coletivo. Não houve o número de apoiadores desejados, mas Balassiano afirmou que o mais importante é a ideia que pode ser desenvolvida melhor, com o objetivo de aproximar mais o torcedor da sua escola preferida, ajudando a financiar a preparação da escola e seu desfile na Marquês de Sapucaí, e também os projetos sociais desenvolvidos pelas agremiações. “O conceito do torcedor poder ajudar a escola e receber um “prêmio” por isso é uma ideia muito boa”, exlicou o economista.
Segundo Balassiano, na cota mais alta do projeto da Mangueira, o colaborador recebe, entre outras recompensas, uma bandeira oficial da escola “Verde e Rosa”, autografada pelo Mestre Sala e pela Porta Bandeira.
O economista do Ibre-FGV afirmou que as escolas têm que ser autossustentáveis, sem esquecer a parte cultural que representam e os projetos sociais que desenvolvem e que apresentam retorno na forma de mais educação e da retirada das crianças de problemas como o tráfico de drogas, por exemplo. Lembrou, ainda, que muitos desses projetos são patrocinados por empresas públicas e privadas.