As manifestações pró-governo, prevista para este domingo (15), a favor das reformas tributárias e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, pedindo o fechamento de ambos e até uma intervenção militar, aclamada por grupos mais radicais, foram adiadas após apelo de Jair Bolsonaro, afim de conter o Coronavírus.
Na live que Bolsonaro fez em sua página no Facebook, o presidente aparece usando máscara cirúrgica e pede que as manifestações sejam adiadas em função do risco de contágio do coronavírus.
“O que nós devemos fazer é evitar que haja uma explosão de pessoas infectadas, porque os hospitais não dariam vazão a tanta gente. Uma das ideias é adiar e suspender para daqui um ou dois meses”, disse Bolsonaro. “Eu, como presidente, tenho que tomar uma posição”, afirmou. Em seguida, disse que o ato não era dele e ocorreu de forma “espontânea”.
As manifestações já tinham sido condenadas por Ministros do Supremo. O Presidente da Câmera, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou respeito a democracia e disse que criar uma tensão institucional não ajuda na evolução do país. "O governo gera uma insegurança grande para a sociedade e para os investidores", disse, Maia.
Queda no engajamento das manifestação
Desde o início da semana algumas empresas que fazem o monitoramento das redes sociais já apontavam uma queda no engajamento pelas manifestações contra o Congresso e o STF nas redes sociais.
“A pauta continua bem fraca, restrita aos grupos mais ideológicos. Hoje tentaram uma operação pesada subindo a hashtag #Dia15VaiSerGigante. Alcançou os trending topics (temas mais comentados do Twitter), mas dólar a R$5 e coronavírus atropelaram. Eles não estão com hegemonia sobre a pauta”, disse Pedro Bruzzi, da Arquimedes.
Mesmo diante das notícias de aumento exponencial do número de pessoas contaminadas, os movimentos mantinham a intenção de ir para a rua no domingo. O posicionamento só mudou depois da live de Bolsonaro.
O Avança Brasil fez um comunicado anunciando o adiamento do ato de rua e chamando para um panelaço contra o Congresso no domingo. “Conclamamos porém, que todos juntem-se a nós em um mega panelaço no dia 15 às 20h em desagravo às atitudes de congressistas irresponsáveis que não tem o Brasil acima de tudo e que somente pensam em seus benefícios particulares”, diz a nota.
Os grupos República de Curitiba e Movimento Direita Digital (MDD) já tinham cancelado a participação nas manifestação de domingo por causa do risco de contaminação pelo coronavírus antes do posicionamento do presidente. “Não quero ter minhas mãos sujas de sangue caso alguém se contamine e acabe morrendo”, explicou Victor Carazzatto, 16 anos, fundador do MDD.
O movimento Brasil Nova Atitude (BNA) consentiu com o pedido do presidente. “Se ele pediu nós vamos respeitar. Vamos nos manifestar de outra forma, pela internet”, disse Henrique Watanabe, representante do BNA.
O Movimento Conservador (ex- Patriotas do Brasil) afirmou manter a manifestação de rua. O Movimento Conservador foi o único que manteve a decisão dos que estiveram em reunião com a Polícia Militar, na segunda-feira (9) afim de organizar os protestos.
“Agora é que vamos mesmo. E vamos com tudo afirmou”, disse Anilo Anunciato, representante do grupo. De acordo com ele, o coronavírus é uma invenção chinesa.
“Nós vamos para a Avenida Paulista. Isso (coronavírus) é coisa que a China está inventando. A nossa ideia é levar até 1 milhão de pessoas às ruas, mas pode ser que esse número seja reduzido por causa disso”, disse Anunciato. O grupo pagou R$ 9 mil no aluguel de um caminhão de som que ficará em frente a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Manifestações contra o governo
Os protestos do dia 18 contra cortes e medidas no atual governo também podem ser cancelados devido ao surto do coronavírus. As pautas da manifestação são reivindicações contra a MP 905/2019, a Carteira Verde e Amarela”, e o “desmonte dos serviços públicos de saúde, educação, a privatização das estatais”.
Na segunda-feira, dois dias antes dos atos previstos em todo o país, sindicalistas se reunirão para decidir se vão manter ou cancelar os protestos. A Força Sindical, UGT e CSB já defendem o cancelamento das manifestações de rua na próxima semana.
João Carlos Gonçalves, Secretário-geral da Força Sindical, afirmou que ainda não há consenso entre as centrais sobre a manutenção dos protestos na rua no dia 18. Contudo, os sindicalistas pretendem fazer atos nos locais de trabalho. “Não temos o direito de colocar em risco o trabalhador”, disse.
O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, afirmou que as centrais sindicais estão preocupadas com os impactos econômicos e sociais da pandemia.
“O governo Bolsonaro está desmontando o serviço público de saúde, em um momento como este extremamente grave. Existem parcelas da classe trabalhadora que estão super expostas ao coronavírus, que nos preocupam muito, como os trabalhadores do transporte público, da área de saúde”, afirmou Nobre. “O momento é de tomar medidas para evitar a propagação do coronavírus e proteger a classe trabalhadora. A gente sabe que isso tem um custo à sociedade; já tem empresas paralisando a produção, que até já deram férias coletivas aos trabalhadores. Daqui a pouco vão querer reduzir jornada, salário. Não concordamos com isso. Medidas individuais e coletivas têm que ser tomadas, mas essas medidas precisam ser discutidas com a classe trabalhadora e com as centrais sindicais.”
*Com informações do Estadão e Valor Econômico