Há 30 anos são se via tamanha queda na Petrobras, empresa estatal de economia mista do segmento de energia do país. Na segunda-feira (9) a empresa perdeu R$ 91 bilhões em valor de mercado, segundo dados da empresa de informações financeiras Economatica.
A estatal havia encerrado o dia de sexta-feira (6) valendo R$ 306,9 bilhões; na segunda (9), seu valor caiu para R$ 215,8 bilhões, perda de 29,7%.
Os valores revelam a maior queda de valor de mercado em um dia desde 1986. O pior fechamento até então havia acontecido durante a greve dos caminhoneiros, em 24 de maio de 2018, com o prejuízo de R$ 47 milhões.
Essa queda ocorre devido à guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita que derrubou o preço do petróleo. Essa disputa é consequência da expansão do coronavírus pelo mundo e seu impacto na economia global.
Alguns segundos após o início das operações internacionais, o barril do petróleo caiu de US$ 45 a US$ 31,52, registrando uma das maiores quedas no mesmo dia, e com mais expressão desde 1991, durante a guerra do Golfo.
Em reunião com cerca de 350 empresários brasileiros em um hotel em Miami, o presidente Jair Bolsonaro disse que seu governo se mantém fiel "às políticas econômicas do senhor (ministro da Economia) Paulo Guedes".
Interrogado sobre se cogitava qualquer medida emergencial para o setor, como o aumento de tributo federal sobre os combustíveis, a Cide, o presidente disse, no Twitter, que "não existe possibilidade" de isso acontecer.
A Petrobras disse em nota que segue monitorando o mercado e elaborando seu plano estratégico, que a prepara para agir com resiliência em cenários de preços baixos.
Disse ainda que "vem continuamente reduzindo seus custos de operação no pré-sal e, por isso, suas operações são resistentes a cotações baixas de barril de petróleo, mesmo que permaneçam, na média, no atual patamar durante um ano".
E conclui que, "considera prematuro fazer projeções sobre eventuais impactos estruturais no mercado de óleo e gás associados à recente e abrupta variação nos preços do petróleo, uma vez que ainda não estão claras a intensidade e a persistência do choque nos preços".
Perda de mercado histórico e surto global
Da mesma forma que a Petrobras, outras empresas brasileiras, como um todo, sofreram uma perda histórica de valor de mercado, de R$ 432 bi. O surto global do novo coronavírus é o principal responsável pela pior crise no mercado financeiro, desde 2018.
O índice Ibovespa teve sua maior queda desde o início do Plano Real - 12,17%.
A Bolsa de Valores de São Paulo teve de adotar o mecanismo do 'circuit breaker', interrupção automática das atividades de compra e venda de ações, depois de registrar queda de 10% no índice Ibovespa.
O dólar comercial terminou o dia no Brasil a R$ 4,73, em alta de 2,03%.
Motivos da queda do petróleo
A expressiva queda no preço do petróleo foi devido à decisão da Arábia Saudita de aumentar substancialmente sua produção e começar a oferecer em certos mercados descontos de até 20% nos preços do petróleo bruto.
O país é o maior exportador de petróleo do mundo e é considerada uma líder não declarada da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
A Arábia Saudita tem a capacidade de produzir mais de 12 milhões de barris diários, o que permite ao país aumentar ou reduzir sua produção com muito mais facilidade que outros países do mercado.
No final de 2016 um grupo conhecido como OPEP+ se formou, reunindo todos os países membros dessa organização e outros produtores. Entre eles, a Rússia, com o objetivo de coordenar cortes de produção que permitiriam recuperar preços, após queda nos preços do petróleo que começou em 2014.
O plano funcionou, contudo na última sexta-feira(6), uma proposta de novos cortes, foi lançada para fazer frente aos desafios impostos pelo coronavírus. Moscou foi contra a proposta, desse modo o país árabe optou por aumentar sua produção.
De acordo com analistas, a decisão atual seria o primeiro passo de uma guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia.
Após a quebra do acordo, muitos especialistas consideraram que a Rússia estava efetivamente apostando em deixar cair um pouco o preço do petróleo para tentar debilitar os produtores americanos, que têm custos de produção mais altos e, assim, podem ser vulneráveis ante uma queda contínua dos preços.
Ainda que a Arábia Saudita também tenha na mira as empresas petrolíferas americanas, os especialistas acreditam que sua nova política significaria a abertura de uma guerra de preços contra a Rússia.
*Com informações da BBC Brasil