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Professora que pediu intervenção militar, em vídeo publicado por Bolsonaro, é empresária brasiliense

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicou nesta quinta-feira (2/4) o vídeo de uma simpatizante do governo que conversou com ele na saída do Palácio do Planalto, em Brasília. No vídeo, a mulher se identificou como professora da rede particular de ensino. Em lágrimas, ela disse passar por dificuldades, pediu a Bolsonaro que colocasse o "Exército nas ruas" e reabrisse o comércio. Ela também levou o casal de filhos para o local.

Em mais uma chance de Bolsonaro desvalorizar as medidas de restrições adotadas pelos governadores e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), ele escreveu ao publicar o vídeo nas redes sociais."Professora em comovente depoimento para o Presidente da República. PEÇO COMPARTILHAR".

Reprodução/Twitter

A mulher, no entanto, é aposentada, dona de uma grande empresa em Brasília, a ABZ caligrafia. Nas redes sociais de Fátima Montenegro, protagonista do vídeo, ela chamou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de “bandidos de Toga”. A mulher, entretanto, excluiu todas as suas contas.

Arrependida

A empresária e professora Fátima Montenegro, em entrevista ao jornal Metrópoles diz que está arrependida pelo o que falou.

“Por que falei isso? Não pedi intervenção [militar]. Se não estão deixando abrir o comércio, não pode deixar ninguém fazer [nada], põe o exército para pelo menos proteger a gente. Porque vão prender a gente. Não tive outra intenção. Me arrependi tanto de falar isso. Por que não veio polícia na minha cabeça?”, disse Montenegro, em entrevista.

Ela também informou ter recebido ameaças após o presidente ter postado o vídeo onde ela pede que os militares vão para as ruas e que o comercio reabra.

“Estão me ameaçando, não param de me ligar. Tenho meus dois filhos. Não tive intenção nenhuma, maldade de ninguém. Estou acordada até agora, não dormi nesta noite”, relata a mulher, que não quis revelar a idade ou os autores das supostas ameaças. Ela diz que teve seu número de telefone divulgado.

“Não conheço o presidente, não foi nada armado. Pedi para ele isso. Na verdade, levei meus filhos para passear. Aí fiquei emocionada. Como vou prover meu lar? Não faço outra coisa a não ser dar aulas”, continuou.

“Me deixem em paz. Quero continuar minha vida como era”, prosseguiu. “Eu tenho dois filhos, moro sozinha. Estão brincando com a minha vida”, complementou.

Perfil e processo

Nas redes sociais, a empresária e professora se diz “patriota” e “conservadora”. Ela contou ter participado das manifestações do último dia 15 de março, quando apoiadores do presidente pediram o fim do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente tirou fotos e cumprimentou manifestantes mesmo após apelo das autoridades da saúde para que ficasse em quarentena por causa de ter sido exposto ao coronavírus.

“Câmara, Senado, STF e grande imprensa estão contra o Brasil”, diz faixa apresentada pela militante.

A empresa de Fátima Montenegro está com a inscrição “inapta” na Receita Federal por omissão de declaração, desde o dia 17 de outubro de 2018. Contudo, ela ainda oferece cursos de caligrafia.

Já o processo distrital é anterior. O cancelamento do cadastro fiscal da ABZ Caligrafia Técnica – nome fantasia do empreendimento – está publicado no Diário Oficial do Distrito Federal, na edição de 20 de abril de 2018.

Além disso, há um processo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) contra a empresa de Fátima. Conforme a homologação dos cálculos pela Justiça do Trabalho, o funcionário reclamante teria direito a R$ 6.443,06 a receber. Fátima alegou falta de recursos e chegou a oferecer R$ 1.500, divididos em dez parcelas. De acordo com o TRT, o processo está suspenso desde 26 de março deste ano.

Veja o vídeo no Palácio da Alvorada:

Fake news

Bolsonaro publicou o vídeo da empresária pedindo intervenção militar um dia depois de publicar um outro vídeo de fake news. Na quarta-feira (1/4) pela manhã, o presidente na tentativa de justificar sua posição de ataque às medidas de isolamento, compartilhou nas redes sociais um vídeo com informações falsas em que um homem aparece na Ceasa, a Central de Abastecimento de Minas Gerais, em Contagem, dizendo que havia desabastecimento no local. 

Em seguida, a assessoria de comunicação da Ceasa garantiu que não havia a falta de produtos e seguia com abastecimento. Não demorou cerca de 3 horas, Bolsonaro apagou os posts das redes sociais. No final da noite, ele pediu desculpas pela publicação. Em entrevista ao Datena, Bolsonaro disse que ‘não houve a devida checagem do evento’.

“Eu quero me desculpar. Não houve a devida checagem do evento. Pelo que parece, aquela central de abastecimento estava em manutenção. Então quero me desculpar publicamente. Foi retirado o vídeo rapidamente e acontece. A gente erra na notícia e eu tenho humildade em me desculpar sobre isso aí. Agora, em parte, tivemos contato com o Ceasa, o Ceagesp, em São Paulo, tem caído realmente o fluxo de entrada de alimentos. Espero que não caia mais do que já que caiu porque quando se fala em hortifruti até conversei com Tereza hoje se chegar ao ponto de haver interrupção da produção se leva de 60 a 90 dias para voltar a normalidade no tocante ao hortifruti e granjeiros”, apontou.

Através do Facebook, Bolsonaro voltou a pedir desculpas sobre o assunto: "Foi publicado em minhas redes sociais um vídeo que não condiz com a realidade para com o Ceasa/MG."

*Com informações do Metrópoles e do Correio Braziliense

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