Por Vinicius Neder
Atingido em cheio pela covid-19, o mercado de trabalho pode ter visto seu pior momento em maio, mas um forte aumento do desemprego ainda está por vir, mostram os primeiros dados de uma nova pesquisa semanal do IBGE. A taxa de desemprego passou de 10,5% na primeira semana de maio, para 11,4% na última semana, porém, quando são consideradas também as pessoas que não procuraram emprego, mas gostariam de trabalhar, a taxa sobe para 30,2%. São 36,6 milhões de brasileiros sem trabalho, o equivalente a quase toda a população do Canadá.
Foram os primeiros números de maio do IBGE sobre o mercado de trabalho, calculados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Covid (Pnad Covid), feita totalmente por telefone. No trimestre encerrado em abril, a Pnad Contínua, pesquisa que segue sendo a oficial para medir o mercado de trabalho nacional, havia mostrado uma taxa de desemprego de 12,6% -- mas os dados não são comparáveis, segundo o IBGE.
De acordo com Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), neste período inicial da crise, há uma "falsa estabilidade da taxa de desemprego", porque os trabalhadores estão perdendo o emprego, mas, num primeiro momento, não estão buscando novas vagas - pela metodologia internacional dos estudos sobre trabalho, só é considerado desempregado quem busca um emprego.
O total de desempregados foi de 9,8 milhões na primeira semana de maio para 10,9 milhões na segunda, alta de 10,8%. Como o total de ocupados se manteve no mesmo nível - em torno de 84 milhões nas quatro semanas, indicando que não houve demissões generalizadas -, é possível que os desempregados tenham vindo do grupo de trabalhadores que estavam fora de força de trabalho, ou seja, não estavam procurando emprego, disse o diretor adjunto de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo. Esse é o movimento esperado para os próximos meses, nas projeções de Duque, do Ibre/FGV.
A Pnad Covid calculou que, entre as pessoas fora da força de trabalho, 25,7 milhões não procuraram um emprego, mas gostariam de trabalhar. Somados aos desempregados, somam os 36,6 milhões sem emprego. No grupo dos que não procuraram um emprego, mas gostariam de trabalhar, 17,7 milhões não o fizeram especificamente por causa da pandemia de covid-19 ou por falta de trabalho em sua região.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.