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“A deficiência não os define, é apenas uma de suas características. ” diz medalhista paraolímpico

No Brasil o preconceito contra deficientes físicos ainda é uma triste realidade. O fato de possuir ou nascer com qualquer limitação em nosso país, torna o indivíduo automaticamente incapaz de exercer determinadas atividades.

Na pesquisa divulgada pela Agência Brasil em março desse ano, realizada em São Paulo, foi revelado o preconceito que deficientes físicos sofrem na capital paulista ou na região metropolitana.

Para o levantamento, 510 pessoas foram ouvidas. Dessas, 69% informaram que já vivenciaram ou presenciaram algum tipo de discriminação, em que a maior parte dos casos se refere a episódios envolvendo discriminação, bullying e rejeição, apontada por mais de 38%. Mas essa não é apenas uma realidade local, é também uma realidade nacional.

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A Falta de assessibilidade é considerada uma forma de discriminação Reprodução de imagem: Agência Brasil

Psicóloga da Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás (ADFEGO) desde 2017, Ana Cristina Pantaleão afirma que episódios como esse, junto a falta de acessibilidade, pode gerar graves consequências psicológicas às pessoas com deficiência. Para ela, “isso pode contribuir para a construção de uma distorção da forma como a pessoa se percebe, afetar sua autoestima, sua relação com as demais pessoas e com o mundo a seu redor.”.

O nadador paraolímpico Daniel Dias, de 32 anos, afirma, ao Diário da Manhã, ter sofrido bullying e discriminação na infância.

“Fui chamado de “saci”, “aleijado”, e era pouco incluído nas atividades coletivas. ”, relata Daniel.

Atualmente, acumula 24 medalhas e o título de maior medalhista da natação masculina em Paraolimpíadas, mas afirma que atravessar o preconceito foi um grande desafio.

“Eu precisava entender e aceitar que o preconceito não poderia existir dentro de mim. Eu escolhi ser feliz. ”, conta.

O nadador Daniel Dias, após o ouro nos 50m costas.
Daniel Dias se torna o maior medalhista da natação masculina em Paraolimpíadas, nas Olímpiadas de 2016 no Brasil. Reprodução de imagem: El País Brasil

Ele recorda de quando ganhou sua primeira medalha. “Foi maravilhoso. Foi uma medalha de bronze num campeonato brasileiro. Ali eu decidi ser atleta profissional. Me senti mais encorajado a romper as barreiras do preconceito e seguir este sonho de ser atleta. ”, afirma.

O nadador declara que já houve melhoras, mas que ainda é difícil ser deficiente físico no Brasil. Para ele, “ há muito trabalho de conscientização a ser feito. Sinalizações pelas ruas e estabelecimentos, acessibilidade, são itens básicos que ainda deixam a desejar em muitos lugares.”. Ele alega também ser ainda alvo de preconceitos, os quais, segundo ele, através da ferramenta esporte consegue mostrar que todos são capazes de realizar grande feitos. 

Assim como Daniel, há muitos deficientes físicos talentosos. Entretanto, vários se escondem por conta do capacitismo das pessoas. A psicóloga Ana Cristina diz acompanhar muitos relatos de pessoas sendo tratadas como incapazes ou menos aptas para realizar atividades do cotidiano em função de sua deficiência física.

Ela explica que isso ocorre devido a ideia, de a pessoa possuir alguma deficiência e por isso ser inferior em suas potencialidades e habilidades, ser ainda muito presente no imaginário das pessoas, enquanto o que vemos na prática é que, uma vez garantidas condições iguais, todas têm plena capacidade de se desenvolver socialmente, afetivamente, entre outros, além de possuírem aspirações e desejos diversos que devem ser igualmente valorizados e respeitados.

Daniel afirma que essa realidade precisa ser mudada. Para ele, a população precisa ter uma mente mais aberta e entender que pessoas com deficiência são mais fortes e capazes do se possa imaginar. “A deficiência não os define, é apenas uma de suas características. ” , diz o atleta paraolímpico.

Ana Cristina acredita que o melhor caminho para a mudança de perspectiva das pessoas é a convivência desde cedo com a diversidade. Segundo a psicóloga são necessárias políticas públicas que assegurem que as pessoas com deficiência ocupem os mais diversos espaços sociais de forma plena, sendo respeitados seus direitos e as suas necessidades de adaptação e suporte.

O esporte como inclusão social. Reprodução de imagem: internet

 Daniel tem a mesma crença. Para ele é preciso ter mais oferta de oportunidades, mais projetos inclusivos, mais clínicas de reabilitação, que possam fazer este encontro da pessoa com deficiência e o esporte, que para o atleta paraolímpico é uma das melhores formas de inclusão social.

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