O inquérito sobre o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado até a morte por dois vigias no estacionamento do supermercado Carrefour , na Zona Norte de Porto Alegre, investiga o envolvimento de sete pessoas no crime. Além dos dois seguranças que o espancaram, serão investigados aqueles que cometeram crime de omissão de socorro. Todos estavam presentes na hora em que João Alberto foi morto, na última quinta-feira, mas seus nomes não foram divulgados pela polícia, que apura ainda se a vítima conhecia os seus agressores .
Devido à falta de um sistema de áudio, os policiais tentam reconstituir, com base nos depoimentos, as interações entre João Alberto e os funcionários do supermercado.
Segundo a Rádio Guaíba, além de homicídio , a investigação também contempla as hipóteses de injúria racial, racismo e falso testemunho. Desde sexta-feira, mais de 20 testemunhas foram ouvidas.
"Racismo existe, discriminação existe, preconceito existe. Existe o racismo estrutural e o racismo no momento da ação. Temos imagens, mas não temos sons para ouvir o que foi conversado. Não descartamos nenhuma hipótese", afirmou Nadine Farias Alfor, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul , ressaltando que o inquérito tem dez dias para ser concluído.
‘Olhar agressivo’
Uma fiscal que aparece nas imagens afirmou à polícia que João Alberto se aproximou dela “com olhar agressivo”, de quem “parecia procurar confusão”, mas que não conseguiu ouvi-lo, porque estavam em um ambiente barulhento e João Alberto usava máscara. Ela disse ainda que se afastou, tensa, e que não entendeu o gesto feito pelo cliente. A mulher da vítima , Milena Borges Alves, disse na delegacia que o sinal feito por seu marido era uma “forma de brincadeira”.
Em depoimento revelado pelo Fantástico, a fiscal afirmou que João Alberto teria ido ao supermercado dias antes, embriagado e sem máscara, e importunado outros clientes.
Na quinta-feira, escoltado até o estacionamento, João Alberto deu um soco no vigia Giovane e foi imobilizado por ele e outro segurança , Magno, que o espancariam até a morte. Novas imagens mostram que um terceiro homem parou ao lado da vítima enquanto era imobilizada e disse: “A gente te avisou da outra vez”. E, em outro momento: “Aí, rapaz, sem cena, tá?”.
A Polícia Civil tenta descobrir o que gerou as agressões e se outras pessoas, além dos seguranças, têm responsabilidade, por assistirem “passivamente”. Ontem, uma testemunha disse, em depoimento obtido pela RBS, que avisou aos seguranças que havia “sinais visíveis de asfixia” de João Alberto, mas que ambos o ignoraram, pedindo para que “não se intrometessem em seu trabalho”.
A testemunha, porém, alertou novamente os seguranças quando percebeu a mudança da tonalidade da cor dos lábios e da extremidade dos dedos de João Alberto . Nesse momento, de acordo com ela, os seguranças teriam ficado “desorientados” e perguntaram se alguém que assistia à cena sabia checar sinais vitais. Um senhor teria se aproximado e confirmado a morte da vítima. O Samu teria demorado cerca de uma hora para chegar ao local.