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Brasil, o país das Fake News

O termo Fake News, vem do inglês fake (falso/falsa) e news (notícias). Sendo assim, em português a palavra significa “notícias falsas”. As fake news tem um enorme poder viral e são divulgadas principalmente nas redes sociais. Elas apelam para o lado emocional das pessoas o que contribui para que as mesmas acreditem e compartilhem esse material sem confirmar se o conteúdo é verdadeiro.


De acordo com professor de jornalismo e comunicólogo Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Raniê Solarevisky, é importante situar o problema das fake news como um fenômeno da cultura digital.


“Não estamos falando de mentiras, boatos ou erros jornalísticos, que existem há muito tempo e tomaram diversas formas. O termo é ruim, e justamente por isso não pode ser entendido com uma tradução direta: Fake News não são simplesmente "notícias falsas". São produtos construídos com a intenção de levar uma agenda específica adiante, que tentam emular características formais das notícias tradicionalmente produzidas pela imprensa, circuladas em meios digitais e com a intenção específica de viralizar. Estão relacionadas a fenômenos mais amplos, como a infodemia e a desinformação”.


“Essa confusão sobre o quê exatamente são as fake news, quais são os fatores que impulsionam o seu trânsito e consumo, e quais são os culpados pela sua criação e disseminação, contribuem para deixá-lo de lado ou tentar simplificá-lo, relativizando os critérios e métodos científicos, reforçando polarizações políticas ou gerando falsas equivalências entre opinião e dado científico, por exemplo”, afirma Raniê.


A produção e veiculação de fake news, é um mercado amplo e alimentado por pessoas que têm grande influência, geralmente políticos em campanha eleitoral, que contratam pessoas especializadas nesse tipo de conteúdo viral, como mostra o especial do jornal Correio Brasiliense.


Essa equipe de profissionais compram ilegalmente os endereços de e-mail e telefones de milhões de pessoas para disparar o conteúdo falso.
Um levantamento feito pela Folha de de São Paulo, mostra que as fake news tem maior engajamento do que os conteúdos jornalísticos, que apresentam queda de 17% dos veículos tradicionais, enquanto as “notícias falsas", tiveram um aumento de 61% nas interações de 2017 a 2018.


“As fake news frequentemente disputam a verdade de contéudos publicados pelos veículos de imprensa. “Fazem isso ao dizer que o vídeo, foto ou texto que você recebeu pelo Whatsapp vão revelar "o que a Globo não mostra", ou algo que o governo ou qualquer outra instituição escondeu”, afirma Raniê.


Ele ainda destaca que embora acreditar em qualquer coisa que se leia na internet, seja uma atitude de muita ingenuidade, há uma necessidade de reforço das nossas próprias crenças.

O que é confirmado na fala do Psicólogo mestre em educação, professor e psicólogo clínico, Paulo veras que diz “Algumas pessoas, vão acreditar naquilo que elas querem ouvir e provavelmente nós passamos para frente aquela notícia na qual a gente acredita, na qual a gente concorda, aquela que não bate com o que eu penso, cria em mim uma certa repulsa, revolta e eu acabo excluindo porque não era a notícia que eu queria ouvir, portanto ela não se propaga”, afirma.


“Precisamos reconhecer que boa parte do público desconfia da imprensa, procurando em outro lugar pela verdade que esses veículos, com sua rede de contatos e patrocinadores, podem querer omitir ou manipular”.

“O problema torna-se ainda mais complexo quando percebemos que muitos políticos apropriaram-se do termo para refererir-se não às publicações virais em ambientes digitais, mas à própria imprensa”, completou Raniê.


Diante disso, ainda segundo Raniê, parece pesar ainda mais a missão dos jornalistas, de apurar devidamente os conteúdos enviados pelo público, bem como as informações disponibilizadas por fontes oficiais.


“Se antes já era absurdo, agora definitivamente não há espaço para um jornalismo meramente declaratório”. “É preciso oferecer contexto, múltiplas fontes, e isso depende de trabalho de pesquisa”, afirma.
Segundo a Unesco, desde que a covid-19 se propagou globalmente, as fake news, fizeram com que pessoas com sintomas da doença, tomassem remédios sem qualquer evidência científica que demonstrasse eficácia no tratamento, entre várias outras desinformações que fizeram com que grande parte das pessoas ignorassem as medidas sanitárias, orientadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).


“As fake News são articuladas a fim desmontarem as boas práticas clínicas e epidemiológicas de caráter internacional. Ou seja, combatem as medidas de prevenção consideradas eficazes como uso da máscara e o distanciamento social e/isolamento, a vacinação em massa para reduzir a circulação do vírus ao mínimo possível”, afirma a professora Senior da Universidade Federal de de Goiás (UFG), e enfermeira epidemiologista Dra. Sandra Brunini.


“Temos assistido a políticos que têm uma ampla audiência e potencial de alcance nas redes sociais propagarem fake news, a exemplo do próprio Donald Trump, que chegou a sugerir injeção de desinfetante para tratamento de COVID-19, o que é equivalente à insistência do nosso presidente em dizer que a cloroquina ou a ivermectina têm qualquer resultado efetivo no tratamento da doença”, afirma Raniê.


É importante destacar que as fake news tem o potencial de matar “Se leio no facebook de um amigo que a imprensa está "exagerando" na cobertura da pandemia e acredito nisso, posso relativizar meus cuidados com isolamento e medidas sanitárias, eventualmente transmitindo o vírus a alguém da minha família ou a um desconhecido que, assim como eu, também tem família”.

“Se vi no Twitter do presidente da república que posso tomar cloroquina para tratar a COVID-19, vou correndo na farmácia comprar estoques inteiros e deixar o remédio em falta para quem precisa fazer uso contínuo dele”.

“Se assisti a um vídeo no Youtube dizendo que a vacina da vez tem apenas soro dentro do frasco, posso decidir não me imunizar e servir de veículo para contaminar alguém que esperava sua vez para vacinar, mas veio a óbito porque eu o contaminei”, afirma Raniê.


Ele ainda acrescenta, “Tragicamente, num dos golpes mais duros para a jovem democracia brasileira, jornais de todo o país tiveram de se reunir em um consórcio de imprensa para levantar dados verdadeiros sobre o número de casos e óbitos no Brasil, simplesmente porque o Ministério da Saúde e o governo federal estavam manipulando os números para fazê-los parecerem menores.

A formação desse consórcio é um passo certo em termos de ética profissional no jornalismo, mas uma lástima em termos de gestão pública e das responsabilidades morais e jurídicas que ela carrega consigo”, afirma.


“O tempo gasto para esclarecer dúvidas gerada por essas fake News consome tempo e energia dos pesquisadores, e dos órgãos públicos imbuídos de enfrentarem a pandemia, que trabalham subsidiados pela ciência”.

“O Brasil só perde para os EUA, até o momento, em número de vítimas fatais; não adquiriu vacinas suficientes para a população e não conseguirá implementar a vacinação em tempo ótimo. Será um processo arrastado”, afirma Sandra Brunini.


De acordo com Paulo Veras, “Nós vivemos um momento, em que o país e as pessoas estão extremamente fragilizados, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista social”. “E aí é natural que nestes momentos as notícias falsas ganhem vida, porque surgem os salvadores que vão propagar essas notícias falsas e que vão atingir diretamente aquelas pessoas que estão precisando de um certo norte”.

“Se eu estou necessitado de algum produto em minha casa e recebo uma fake news dizendo que eu preciso clicar em um link para poder ganhar o produto”, essa notícia falsa é recebida como uma salvação por isso “é muito comum essas “notícias” de produtos, ganhos e brindes serem compartilhadas infinitamente”, “e por isso que hoje nos temos uma série de fake news com remédio para a cura da Covid-19", afirma Paulo Veras.


Uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), encomendada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2020, traz os seguintes dados sobre a preocupação dos brasileiros com as fake news:

Dados da pesquisa sobre o nível de preocupação das pessoas em relação às fake news no Brasil.


Para combater as fake news sobre a saúde, o ministério da saúde disponibilizou um número de Whatsapp para envios de mensagens da população. O espaço é exclusivo para receber informações virais que serão apuradas pelas áreas técnicas e respondidas oficialmente se são verdades ou mentiras.O número é (61) 9 9333-8597.


De outro lado “As agências de checagem já se solidificaram como um novo ramo de produção e curadoria de conteúdo no jornalismo, verificando todo tipo de desinformação que circula pela web (inclusive fake news) para apresentar informações apuradas sobre o que se diz nesse tipo de publicação. No Brasil, há excelentes trabalhos nesse sentido realizados pela Lupa, Aos Fatos, Pública e diversos outros”.


“Os veículos de imprensa também têm tentado cumprir seu papel reforçando aspectos do trabalho que reforçam sua credibilidade e também realizando checagens e investigações complementares.”, além do movimento “Sleeping Giants, que começou no exterior com uma conta americana e depois ganhou uma equivalente aqui no Brasil, trabalha para desmonetizar sites e outros canais que produzem e/ou distribuem fake news e discurso de ódio.

Segundo o último levantamento publicado pela conta brasileira, esses produtores e distribuidores de fake news deixaram de ganhar mais de de 5 milhões em publicidade por conta das ações do grupo”.

“Algumas das agências mencionadas inclusive integram projetos que se aproveitam de tecnologias de uso emergente, como o robô de checagem da Rede Internacional de Checadores de Fatos (IFCN, na sigla em inglês) que funciona dentro do Whatsapp, lançado ainda no ano passado, já durante a pandemia de COVID-19”, afirma Raniê.


“Aumentar a intensidade desse tipo de cuidado parece urgente, já que a imensa maioria das ferramentas que outros atores (como as agências de checagem) utilizam para checagens, por exemplo, são gratuitas e com interfaces muito intuitivas.

Se o problema não parece dar sinais de que vá desaparecer tão cedo, soluções que atinjam os propósitos das Fake News de confundir, manipular, induzir, com potencial para afetar suas raízes, parecem passar necessariamente pela ciência e pela educação”, afirma Raniê.


“Embora existam sim muitos projetos que se esforçam para conter o avanço desse tipo de conteúdo, sobretudo formando cidadãos capacitados para fazer suas próprias checagens, ainda temos muita dificuldade para atingir com eficácia gerações que já concluíram a formação de nível médio ou superior e perderam o contato com a ciência, rota fundamental para tratamento de crendices e teorias da conspiração”.

“Mesmo que a imprensa consiga mediar esse contato eventualmente, universidades e escolas poderiam se beneficiar de mais ações de extensão e pesquisa nesse sentido. Mas é claro que isso depende de muitas variáveis, muitas delas determinadas por políticas públicas para a educação”, afirma Raniê.


“Segundo Paulo Veras, “Pra gente diminuir isso, há dicas muito simples como, não compartilhe, aquilo que você não tem certeza que é verdade delete, se você acha que é uma notícia importante, então vai na fonte, procure entender quem foi que fez, quem é o autor daquilo”.

“Algumas pessoas ao passar uma fake news falam, “Olha eu estou repassando”, ou seja estou tirando minha culpa se essa história não for verdade, ou seja eu até duvido, ainda assim eu quero passar para frente, o que é muito perigoso porque aquilo que não é verdade, ainda que todo mundo esteja passando, continua não sendo verdade.

“A gente pode parar com esse compartilhamento no momento em que a gente recebe e não passa para frente, pesquise a pesquisa sempre foi o caminho para se chegar a verdade", afirma.
“As fake news precisam ser combatidas com a mesma intensidade com que se propagam, para diminuir o seu impacto negativo, e possibilitar que avancemos”, afirma Sandra.

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