O Brasil registrou 1.605 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas e totalizou 312.299 óbitos neste domingo (28). Mas há quem negue a gravidade da doença, agindo com irresponsabilidade e descumprindo as medidas de prevenção e combate ao novo coronavírus, recomendadas pelo Ministério da Saúde.
Maria Júlia (nome fictício), que atuava como cuidadora de idosos em um asilo paulistano, fazia parte do grupo prioritário para vacinação contra o novo coronavírus, mas rejeitou a imunização e seguiu trabalhando.
Com dor de garganta e ferbre, ela pensou se tratar apenas de uma gripe, mas com falta de ar decidiu fazer o teste da Covid-19 que deu positivo.
Ela recorreu aos remédios do "kit do nosso presidente", assim chamado por ela, que torcia pela cura, mas teve os planos interrompidos por uma enorme dificuldade de respirar.
Uma tomografia feita no pronto socorro da rede pública, revelou grave comprometimento dos pulmões. Maria Júlia, precisava de uma UTI, mas no dia da internação, 22 de março o hospital só tinha leitos improvisados.
"Ela estava no cateter de oxigênio sofrendo para caramba. Superculpada, superarrependida. Achou que as coisas iam funcionar, que não era uma doença perigosa. Chorou durante toda a nossa conversa", afirma Ariel (nome fictício), profissional de saúde na cidade de São Paulo. Por temor de represálias, a fonte vetou a divulgação de seu nome ou de outras informações que possibilitem identificá-la.
Casos como o de Maria Júlia, "são tristemente comuns". "Muitos pacientes falam que não usavam máscara, que tomaram ivermectina ou o 'kit covid'".
A aposentada Esther, deu entrada com quadro grave de falta de ar. Mas recusava ajuda e insistia, "Essa doença é uma invenção". Tirava a máscara de oxigênio o tempo todo e exigia aos médicos, ir para casa.
Então a equipe médica apelou para uma videochamada com um parente próximo, "Expliquei ao familiar que a ideia era incentivá-la a seguir o tratamento. A capacidade pulmonar estava piorando rápido e a possibilidade de intubação era real", conta Ariel. O parente mencionou um caso de um conhecido internado que havia vencido a doença, mas paciente insistia, "Eu não tenho nada, pede alta para eles".
O médico que acompanhava o caso, propôs um teste "Vamos tirar a máscara de oxigênio?". Ofegância imediata. Em poucos segundos, o monitor de saturação registrou queda de 90% para 75%. "Não importa qual doença seja, a senhora precisa de ajuda", afirmou Ariel. "Vamos continuar investindo no tratamento''. Esther concordou. Foi Intubada e após piora, morreu.
Muitas vezes o descaso tem consequências maiores, como no caso de Maria Júlia, que após os sintomas de Covid-19, continuou frequentando a casa dos pais, que acabaram infectados. Ambos foram internados em UTIs e um deles intubado, . "Contaminei minha família", lamentou Maria Júlia.
A cuidadora que apresentava quadro estável, agora faz outras recomendações aos familiares, em telefonemas ela pede que eles se cuidem, "Se protege direitinho, usa máscara, por favor", pede Maria Júlia.