A violência obstétrica é uma grave violação à autonomia das mulheres, aos seus direitos humanos e aos seus direitos sexuais e reprodutivos.
Assim caracterizam a violência obstétrica atos como:
- violência exercida com gritos;
- Os procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação;
- A falta de analgesia e negligência;
- Recusa à admissão ao hospital (Lei 11.634/2007);
- Impedimento de entrada de acompanhante (Lei 11.108/2005);
- Violência psicológica;
- Impedimento de contato com o bebê;
- Impedimento ao aleitamento materno;
- A cesariana desnecessária e sem consentimento;
- Realização de episiotomia de modo indiscriminado;
- O uso de ocitocina sem consentimento da mulher;
- A manobra de Kristeller (pressão sobre a barriga da gestante para empurrar o bebê);
- A proibição de a mulher se alimentar ou de se hidratar;
- Obrigar a mulher a permanecer deitada.
A jornalista e produtora de conteúdo Eduarda de Oliveira, de 22 anos, relata os terríveis momentos que vivenciou em seu parto em março de 2020, quando teve o primeiro contato com a equipe que iria assistir o parto humanizado, planejado por ela e pelo marido "porque a maternidade da minha cidade é um verdadeiro caos", afirma.
Segundo a Eduarda, no dia 9 de outubro de 2020, com 41 semanas de gravidez, as duas enfermeiras obstétricas apareceram na casa dela de surpresa.
"A reunião estava marcada às 13h, elas chegaram às 9h, sem avisar. Até então, eu achava que seria uma reunião para entender quais as possibilidades de indução, não que a indução iria ocorrer naquele dia. Elas me disseram que havia outra mulher parindo em uma cidade bem longe da minha e que não havia equipe backup. Por este motivo, eu teria de fazer a indução naquele dia ou elas me encaminhariam para o hospital sem equipe", conta Eduarda.
De acordo com ela, a indução foi feita por meio do descolamento de membranas."O trabalho de parto foi evoluindo lindamente, tudo indicava um parto rápido, a jato. Às 20h, a fase ativa começou e veio como um furacão. Uma hora depois eu estava com oito centímetros de dilatação, indo para a fase de transição. Senti que, de alguma forma, minha filha tinha descido ao canal de forma desfavorável, então doía demais. As contrações que antes eram dolorosas, mas incrivelmente prazerosas, agora eram sofridas demais, beiravam o insuportável", afirma a jornalista.
A equipe decidiu colocá-la em uma banqueta e fazer puxos dirigidos, "Eu sabia que não estava na hora dos puxos, sequer senti a Maria Flor coroar, mas a equipe dizia: 'Faça força de xixi, Duda!' e eu tentava e não conseguia nada. Não conseguia sair dali, nem verbalizar o que eu queria. Só me lembro de me jogar no chão e elas me colocarem de novo na banqueta. Ficamos assim por três horas", afirma.
Segundo Eduarda, "a dor era imensa e cheguei a desmaiar algumas vezes. Eu queria analgesia e pedi a transferência para o hospital, mas a equipe não me apoiou, disse que não era necessário. Às 5h30 da manhã, a equipe finalmente me levou", conta.
De acordo com a jornalista, "Negaram acompanhante, existe uma lei e ela deve ser cumprida, portanto, a infringiram. Quando percebi que meu acompanhante não vinha, eu comecei a gritar mais ainda, eu exigi que chamassem ele, enquanto me deixavam na sala de pré-parto", afirma.
"Lembro deles tirando minha roupa, não permitiam que eu me movimentasse, eu tinha de ficar deitada na maca e era insuportável não poder se mexer. Enquanto tudo isso acontecia, eu dizia: 'Cadê meu marido? Eu quero ele agora! É lei! Vocês estão infringindo a lei', mas todos na sala ignoravam", conta Eduarda.
Segundo a jornalista o médico chegou e nem olhou para ela. "Não perguntou meu nome, nada, ele entrou e simplesmente enfiou dois dedos na minha vagina. Ali eu me senti estuprada! Acho que se eu dissesse 'ele enfiou dois dedos na minha vagina sem consentimento' e não contasse o contexto, as pessoas ficariam horrorizadas, mas como foi durante o parto, ninguém se chocou. 'É assim mesmo', 'acontece com todo mundo', foi tudo o que ouvi", afirma.
De acordo com Eduarda, o médico mentiu e disse que ela estava com sete centímetros de dilatação e que o bebê estava em sofrimento, se ela não colaborasse iria matar a filha. "Disse que eu já tinha sido irresponsável o bastante por tentar ter meu bebê em casa. Eu perguntei: 'Como você sabe que meu bebê está em sofrimento? Você examinou? Você me perguntou o que aconteceu? Se tem alguém irresponsável aqui, esse alguém é você!'. Nesse momento ele foi calmamente até a porta e a trancou. Ficou eu, nua, o médico e quatro enfermeiras", conta.
"O médico disse que não iria dar analgesia: ou eu terminava de ter meu bebê, ou eu iria para a cesárea. Meu marido consentiu com a cesárea, mas impediram mais uma vez que ele me acompanhasse. Após dizer que iria chamar a polícia e a enfermeira-chefe me desafiar e falar baixinho: 'Chama, então, pode chamar', Gabriel conseguiu entrar na sala de cesárea", afirma a jornalista.
"Na hora de começar a cirurgia, amarraram meus braços e eu implorei para a enfermeira desamarrar, mas ela disse que era protocolo. Eu só me toquei do quanto aquilo era violento quando minha filha saiu de mim, fui tentar estender os braços para pegá-la e eu não conseguia porque estava presa", conta.
"Quando eu finalmente fui para o quarto, uma enfermeira entrou e disse que eu só poderia amamentar e pegar minha filha depois de 12h de cirurgia. Quando finalmente peguei Maria Flor e vi seu rosto pela primeira vez, desabei. Eu a fiz e fui a última a vê-la, a tocá-la", finaliza Eduarda.