Um levantamento da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC) sobre a situação das famílias no Brasil, mostra que 6,31% das crianças que nasceram em 2020, foram registradas apenas com o nome das mães nas certidões de nascimento.
Isso representa 80.904 pessoas que não foram reconhecidas legalmente por seus pais, um número que vem crescendo ao longo dos anos: em 2018, foram 5,74% registros com essa lacuna, e em 2019, 6,15%.
Segundo a psicóloga e psicanalista, Suely Faria, quando falamos do abandono paterno precisamos considerá-lo em pelo menos três vertentes: A primeira é o abandono pela ausência do pai. A segunda vertente um pouco mais complexa trata da impossibilidade da convivência e a interferência de terceiros para garantias de direitos. E a terceira vertente que se assemelha a um quase abandono, isto é, a liberalidade alienante em atender todos os imperativos da criança.
"Ainda que cada abandono seja singular porque envolve pessoas com desejos, expectativas, feridas emocionais que fustigam a compreensão das experiências cotidianas, as consequências se apresentam de modo semelhante para as crianças", afirma Suely.
Segundo a psicóloga, a conexão dos pais com os filhos, especialmente nos primeiros anos de vida, é crucial para o desenvolvimento saudável da criança.
“Uma criança que cresce se sentindo sozinha pode apresentar diversas dificuldades no futuro: na adolescência tende a se distanciar cada vez mais dos responsáveis e poderá ter dificuldades em manter relacionamentos amorosos, pois não aprendeu a estar com o outro no período da infância, impactando diretamente suas relações de amizade e de relacionamentos afetivos”, explica.
Atualmente, o reconhecimento paternal é facilitado em qualquer cartório de registro civil do país, podendo ser feito pelo pai que deseje incluir seu nome na certidão ou pela mãe ou filho maior de 18 anos que queira apontar o suposto pai para dar início ao processo.
De acordo com a profissional, é essencial que os pequenos tenham a presença de ambos os pais. Mas segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na realidade, essa responsabilidade cabe apenas a mãe em 12 milhões de casos. Felizmente, algumas contam com a ajuda de amigos e familiares que formam uma rede de apoio.
"É com esse grupo que as crianças tem seu primeiro contato social, e no caso de não haver a presença paterna, a rede de apoio será “significativa” também para ajudar a mãe a lidar com as demandas vinda das crianças, que por vezes podem se tornar mais difíceis sem o apoio do pai', explica Suely.
Ela afirma que os adultos cuidadores em inúmeras ocasiões subestimam a capacidade da criança em compreender os acontecimentos do cotidiano dela. "No entanto, é imprescindível proporcionar um ambiente saudável, em contato com pessoas significativas, evitar desqualificar ou mitificar a figura paterna", finaliza Suely.
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