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A influência feminina na independência do Brasil e a contínua luta por liberdade

O dia 7 de setembro recorda o grito de independência às margens do rio Ipiranga, proclamado por Dom Pedro I. Nesse dia, o Brasil se tornava independente de Portugal, o que só aconteceu graças à Imperatriz Leopoldina. O ano era 1822, e o príncipe Dom Pedro que, em virtude de tensões políticas, se encontrava na província de São Paulo, recebeu uma carta, escrita pela Imperatriz Leopoldina, sua esposa. Na ausência do príncipe, Leopoldina havia assumido o governo do Brasil como regente interina, presidindo as sessões do Conselho de Estado. O contexto era de tensões entre o Brasil e a corte portuguesa, tendo em vista as medidas abusivas por parte de Portugal. A última mensagem da coroa continha ordens tiranas e foi primeiro lida por Leopoldina, que convocou uma sessão extraordinária, presidida pelo conselheiro imperial, José Bonifácio. Na ocasião, a Imperatriz assinou uma declaração de independência e, diretamente do Paço da Boa Vista, escreveu uma carta encorajando o príncipe a fazer do Brasil um país livre de Portugal.

De acordo com Maria Celi Chaves Vasconcelos, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autora de estudos sobre D. Leopoldina: "O processo de silenciamento de mulheres na história atingiu a imperatriz". Ela acrescenta: "As biografias tendem a valorizar os aspectos femininos da vida de Leopoldina, atribuindo a ela, em especial, características de uma mulher traída, que sofre pela conduta do marido. Notadamente, as biografias trabalham com fontes deixadas pela própria Leopoldina, relacionados a sua postura como filha, esposa, amante, mãe, estudiosa, mulher virtuosa, caridosa e religiosa, relegando a um segundo plano a sua participação política", afirma Maria Celi.

O fato é que Leopoldina foi uma mulher educada para ser uma imperatriz. Ao comentar sobre a influência e interesse de D. Leopoldina na independência do Brasil, o membro da família imperial brasileira e também deputado federal no Estado de São Paulo, Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, afirma: "Uma lista de coisas precisam ser notadas. Primeiro, ela veio da Áustria, um país que sempre teve problemas graves de fronteira, e a família dela estava sempre acuada, em risco, não só por questões internas, pois nunca foi um império pacificado, mas também externas, pois sofria diversas invasões. Historicamente, Leopoldina nunca viveu em paz política, ela vem de um ambiente muito hostil. O Brasil para ela era um paraíso, em termos de pacificação política. O que tinha de desafio político era nada em comparação com a Áustria. Um segundo aspecto é que ela tinha uma visão de independência aspirando assegurar a própria família. Não existia onde eles pudessem viver de forma segura no contexto europeu, era confuso, o Brasil seria um ponto seguro para a família dela, por isso além da questão política, tinha a questão familiar. Terceiro, ela tinha total confiança em Dom Pedro I, era procuradora dele, e ele confiava plenamente nela. Eles eram cúmplices de uma realidade que só eles conheciam".

Ao ler a carta escrita por Leopoldina, Dom Pedro acata a decisão da esposa imediatamente. O brado "Independência ou Morte" selou o destino do Brasil, quando à margem do riacho, diante de seus auxiliares e de toda a Guarda de Honra, o príncipe anuncia um novo império, o Império do Brasil, primeiro e único em terras americanas. Ele disse: "Amigos, as Cortes portuguesas querem escravizar-nos e perseguem-nos. De hoje em diante nossas relações estão quebradas. Nenhum laço nos une mais!." E continuou dizendo: "Laço fora, soldados! Viva a independência e a liberdade do Brasil!". E gritou: "Pelo meu sangue, pela minha honra e pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil". Todos responderam: "Juramos". Dom Pedro então embainhou a espada, assim fez também toda a Guarda, e colocando-se à frente da comitiva, disse: "Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será Independência ou Morte e as nossas cores verde e amarelo, em substituição às da Corte".

Conforme relata Luiz Phillipe de Orleans de Bragança, "Leopoldina tinha certa erudição da dinâmica política e era uma diplomata nata. Nas suas palavras "Dom Pedro respeitava muito a opinião dela e todos os fatores contribuem para que quando ela assina a independência, Pedro I aclama imediatamente, sem titubear. Se não fosse ela e por ela, mas por outro agente, demoraria mais, ou quem sabe esse passo teria sido ignorado. Eles eram jovens e a ela e os filhos eram a única família dele, ele e os filhos a única família dela. A confiança nela, na articulação dela, no julgamento dela, foi apoio para aquele momento acontecer", afirma.

Enquanto aguardavam pelo retorno de D. Pedro, Leopoldina idealizava juntamente com Bonifácio a bandeira do Brasil, nas cores verde e amarela, o verde representando a Casa de Bragança, enquanto o amarelo representava a Casa de Habsburgo. Mais triste do que esquecer a própria história ou esquecer o protagonismo que teve a Imperatriz, seria esquecer, negociar ou desprezar o que moveu cada envolvido no independentismo: o amor à liberdade, o amor ao povo. Sobre a motivação de D. Leopoldina, Maria Celi comenta: "Sua influência foi importante e ela foi a responsável por promover muitas iniciativas que perduraram. Ela poderia ter passado os dias reformando os móveis do palácio, entretanto, preferiu auxiliar nas reformas políticas, em busca de liberdade. Aí está o seu diferencial".

Neste 7 de setembro é comemorado o bicentenário da independência, 200 anos que separam o brado às margens do Ipiranga dos dias de hoje, e a respeito desta celebração e da atual luta por liberdade, o membro da família imperial, Luiz Phillipe Bragança discorre:

"Minha esperança é que seja uma data de união em torno de uma celebração, porque temos muito a celebrar, é um enorme país sob os nossos pés. Ao mesmo tempo é uma data de lembrança de que ainda temos que conquistar e lutar pela nossa independência para nos fazermos livres. Tem uma passagem muito importante que diz: 'Só merece ser livre aquele que luta pela liberdade'. É exatamente isso que a gente precisa entender. Se estivermos lutando pela nossa liberdade, merecemos ser livres, se acharmos que está tudo bem, merecemos ser escravos. Então essa é a consciência que a gente tenta desenvolver na sociedade e eu espero que este 7 de setembro represente exatamente isso", declara.

O amor à liberdade trouxe o Brasil aonde está hoje. Que toda celebração seja em memória dos que a conquistaram. Que toda celebração tenha em si, enraizado, o nosso próprio dever: continuar lutando por liberdade e proteger nosso território das tiranias que um dia foram ameaças ao destino do país. Que este povo não esqueça do seu brado retumbante, pois “vossos peitos, vossos braços são muralhas do Brasil”, tal como escreveu Dom Pedro no hino da independência.

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