O câncer de mama é o tipo de tumor mais comum entre mulheres. O diagnóstico precoce pode ajudar a salvar vidas ao antecipar o tratamento. Assim, uma cientista brasileira desenvolveu dois sensores de baixo custo, impressos em papel, para detectar a presença de substâncias deixadas pelo tumor em fluidos corporais, a exemplo de soro sanguíneo ou saliva.
Segundo Ana Elisa de Oliveira, pesquisadora que criou os detectores, existem vantagens no uso de sensores eletroquímicos sobre as técnicas convencionais. A sensibilidade alta da ferramenta eleva a qualidade dos resultados, e o custo de produção é baixo. Os aparelhos são descartáveis, requerem pouca manutenção, e a análise dos testes dispensa técnicas especializadas. “Sensores impressos em tela custam, em média, cinco dólares, contra oito centavos do sensor de grafite proposto pela pesquisa. Isso é, nosso aparelho tem um valor 65 vezes menor que o do produto de mercado”, a cientista compara.
O processo de elaboração dos detectores está descrito no trabalho de doutorado Desenvolvimento de Eletrodos Impressos em Papel para Determinação do Biomarcador de Câncer CA 15-3 em Amostras Biológicas. Realizada na Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), a pesquisa ganhou o prêmio CAPES de Tese 2023 na área de Materiais. No percurso até o resultado, o estudo gerou oito artigos científicos publicados em periódicos de alta relevância. Dentre eles, a vencedora destaca o texto publicado no Talanta, que tem alto fator de impacto. Outra produção, que saiu no periódico Electroanalysis, figurou entre os itens mais baixados da revista em 2021.
Um dos principais obstáculos superados foi a pandemia de COVID-19. “O laboratório parou por meses. Quando finalmente voltei, passava manhã, tarde e noite lá; e muitas vezes saía sem resultados”, relembra a cientista para quem a premiação foi uma surpresa: “Eu estou me sentindo extremamente honrada por ter meu trabalho de doutorado reconhecido com o recebimento de um prêmio tão importante”.
Sobre a vencedora
Ana Elisa Oliveira é filha de um professor de Química e foi aluna do pai no ensino médio “cresci entre experiências, como o teste de chamas para fogo colorido, indicador de pH de repolho roxo, e até acendendo uma lâmpada com solução salina”, lembra.
Em 2015 graduou-se em Química na UFSJ. Durante o curso, recebeu um prêmio no XXVII Encontro Regional da Sociedade Brasileira de Química pelo trabalho de iniciação científica. No mestrado, concluído em 2017, desenvolveu um sensor para encontrar inseticidas em amostras de mel. A vencedora tem 19 artigos publicados.
Atualmente, Ana Elisa trabalha como supervisora do Laboratório de Físico-Química da Companhia de Saneamento Municipal de Juiz de Fora (Cesama), e já tem planos para o Prêmio. “Com a bolsa de pós-doutorado que receberei da CAPES, pretendo dar continuidade à minha pesquisa no desenvolvimento de sensores”, comemora.