Brasil

Com negociação travada, Rússia avança no norte da Ucrânia

Redação DM

Publicado em 10 de abril de 2025 às 01:10 | Atualizado há 2 semanas

Com as negociações de paz pretendidas por Donald Trump emperradas, a Rússia iniciou um novo avanço contra duas regiões no norte da Ucrânia, Sumi e Kharkiv. De seu lado, Kiev diz estar em ação em uma nova área russa, Belgorodo, após ser virtualmente expulsa de Kursk.

“A ofensiva já começou [em Sumi e Kharkiv]. Por quase uma semana, nós vemos quase o dobro de ações ofensivas do inimigo nas áreas principais”, disse o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, ao site local Left Bank nesta quarta (9).

Segundo ele, o objetivo russo é o de formar uma zona tampão nas duas regiões, que são contíguas, para afastar as forças ucranianas de Kursk e Belgorodo, igualmente vizinhas do outro lado da fronteira.

A Rússia não comentou o caso. Segundo a reportagem ouviu de dois analistas militares russos, as ofensivas estão em curso, mas ainda é cedo para determinar seu objetivo. Um deles afirma que tomar a capital homônima de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, por ora é um desejo que carece de capacidades militares.

Isso pode mudar, disse, no verão do Hemisfério Norte, no fim de junho. Há rumores na comunidade militar de Moscou de que o Vladimir Putin quer lançar um ataque maior visando ampliar seu domínio sobre o vizinho.

Kharkiv é um objeto da cobiça russa há tempos. Área russófona, ela foi o centro de produção de tanques da antiga União Soviética.

Como a Folha de S.Paulo mostrou em novembro, o Kremlin já patrocinou até a confecção de um livro infantil a ser distribuído em escolas da região à imagem do que ocorreu nas quatro áreas que anexou no leste e sul da Ucrânia, sugerindo um novo objetivo na guerra.

Já um observador político da situação em Moscou se disse preocupado. Segundo ele, a situação favorável oferecida por Trump, que alinhou-se à retórica russa sobre a guerra, fez Putin ser convencido por “falcões” de seu entorno a acelerar o passo militar do conflito, como ações em Zaporíjia (sul) sugerem.

Só que fazer isso sem alguma mobilização, algo que o presidente rejeita devido à impopularidade que a mesma medida lhe trouxe no fim de 2022, traz o risco de fracasso, avalia esse observador.

Kharkiv e Sumi foram invadidas no começo da guerra, há três anos, e retomadas pelos ucranianos no fim daquele ano. No ano passado, a primeira foi objeto de nova incursão russa, que deixou uma pequena faixa de terra nas mãos do Kremlin. Já a segunda teve um trecho fronteiriço ocupado como parte da operação que expulsou os ucranianos da vizinha Kursk.

A Ucrânia também se mexe, até porque Sirskii está sob pressão. Em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian nesta quarta, um influente ex-comandante pediu a cabeça do general. Bohdan Krotevitch, da Brigada Azov, disse que as táticas atuais são suicidas e desconectadas da realidade de uma guerra com drones.

Segundo o presidente Volodimir Zelenski, há “ações militares” em território russo na região de Belgorodo. Os mesmos analistas moscovitas dizem que há registro de escaramuças, mas nada parecido com a invasão de Kursk em agosto do ano passado.

Aquela operação, que Kiev vendeu como necessária para criar uma moeda de troca em negociações de paz, fracassou nesse sentido. Putin seguiu seu avanço lento no leste ucraniano, e por fim as tropas de Zelenski recuaram —de uma área do tamanho da cidade do Rio, hoje só controlam alguns postos fronteiriços.

Ainda assim, o Kremlin não quis comentar nesta manhã a ação em Belgorodo, o que amplia a margem para dúvidas acerca de sua magnitude.

Tudo isso ocorre em meio a um suposto cessar-fogo limitado, que não foi implementado de fato de lado a lado. Ele foi patrocinado pelos EUA e aceito pelos rivais, e deveria proteger a infraestrutura energética nos países de ataques.

Apesar dos impasses, as conversas continuam. Nesta quinta (10), delegações russa e americana se encontrarão em Istambul, mas em princípio o tema central é retomada de relações diplomáticas integrais entre os dois países.


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