O dólar apresenta forte alta nesta segunda-feira (11), com investidores à espera do pacote de corte de gastos e de olho em notícias vindas da China e dos Estados Unidos.
Às 11h17, a moeda norte-americana disparava 1,02%, a R$ 5,794 na venda, em movimento global de valorização. Já a Bolsa caía de 0,20%, aos 127.569 pontos, pressionada pela queda das ações da Vale.
O mercado engata a semana na expectativa pela divulgação das medidas de contenção de despesas do governo federal.
O pacote, prometido em meados de outubro, visa dar mais sustentabilidade e longevidade ao arcabouço fiscal e atende a temores de investidores quanto ao desequilíbrio das contas públicas do país.
A expectativa é que as propostas sejam apresentadas no começo desta semana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve uma nova rodada de reuniões na sexta-feira com ministros de governo e, segundo auxiliares, o pacote só será anunciado quando o petista bater o martelo.
Além disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considera essencial que as medidas sejam apresentadas antes à cúpula do Senado e da Câmara dos Deputados.
Lula, em entrevista à RedeTV! no domingo, cobrou participação dos Poderes Legislativo e Judiciário para a aprovação do pacote fiscal.
"É uma responsabilidade do Poder Executivo, é uma responsabilidade do Poder Judiciário. Eu quero saber se também estão dispostos a abdicar daquilo que é excessivo, eu quero saber se o Congresso está disposto também a fazer o corte de gastos", disse o presidente, citando reduções em emendas parlamentares como exemplo de "sacrifício".
"Porque aí fica uma parceria, um cumplicidade para que todo mundo faça o sacrifício necessário para a gente colocar a economia em ordem."
Na entrevista, Lula não adiantou detalhes sobre o pacote, mas afirmou estar em um "processo de discussão muito sério com o governo" por conhecer o "discurso e a gana especulativa" do mercado financeiro.
Como mostrou a Folha, uma ala do governo defende que as medidas se tornem públicas num momento de menor turbulência externa nos mercados, cenário observado na semana passada diante da eleição dos Estados Unidos e da decisão do BC (Banco Central) sobre a taxa básica de juros do país, a Selic.
Os adiamentos, porém, vão aumentando a expectativa e a impaciência em torno do pacote.
"A paciência de investidores pode estar se esgotando, visto que semana passada tivemos um otimismo e bom desempenho do real impulsionado pela expectativa dessas medidas, mas investidores começam a se mostrar impacientes com a demora da divulgação", afirma Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Especialistas estimam que o corte teria de ser em torno de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões para surtir o efeito desejado, tanto no âmbito fiscal, quanto nos ânimos do mercado.
A leitura dos investidores é que, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o pacote de cortes precisa ser crível e eficiente para dar conta das pressões econômicas que irão acometer os mercados globais.
Eleito presidente na quarta-feira passada, o republicano promete aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações norte-americanas, incluindo as que vêm de países aliados. Para os produtos chineses, o aumento prometido é de pelo menos 60%.
As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a agir com juros altos por mais tempo —o que fortalece o dólar.
As projeções das propostas de Trump na economia têm ajustado posições de investimentos nos mercados globais. O movimento é chamado de "Trump Trade", que tenta prever quais serão os ativos mais favorecidos pela política econômica do republicano.
Até agora, ações em Wall Street, títulos do Tesouro americano, dólar e criptomoedas se valorizaram em alguns casos, a patamares recordes
"É um governo que vem com força total. Não poderíamos imaginar um contexto mais favorável para Trump. A renda fixa nos EUA continua atrativa nesse contexto", diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Mas, para mercados emergentes como o brasileiro, o clima é de cautela. Isso porque a proposta de aumentar as tarifas em ao menos 60% para produtos chineses pesa para países de forte pauta exportadora, que costumam ter a China como principal mercado consumidor.
O governo chinês tem se movimentado para injetar estímulos na economia, visando frear a desaceleração já em curso e amortecer os impactos de uma possível guerra comercial com os americanos.
Na sexta-feira passada, a Comissão Permanente do Congresso Nacional do Povo principal órgão legislativo chinês aprovou um programa de refinanciamento das dívidas dos governos locais de 10 trilhões de yuans (R$ 8 trilhões).
O número, porém, ficou aquém do esperado pelo mercado. Pequim "precisa, essencialmente, de mais", disse Carlos Casanova, economista sênior do UBP para a Ásia.
O especialista afirma que a China precisa de um pacote de 23 trilhões de iuanes (R$ 18,5 trilhões) para resolver a dívida local e os problemas imobiliários, o que representa cerca de 15% de sua economia, e provavelmente "vai conter parte desse poder de fogo até ter uma ideia melhor do que o presidente Trump está planejando".
O mercado de commodities tem sentido o baque. O minério de ferro recuou 2,87% na Bolsa de Dalian, a 762,0 iuanes (US$ 106,10) a tonelada, enquanto o barril do petróleo Brent caía 2,40% na Bolsa de Londres.
Na Bolsa brasileira, isso se refletia na queda de 1,80% das ações da Vale, a empresa de maior peso no Ibovespa, ao lado da Petrobras.
Os efeitos no mercado de commodities ainda costumam se alastrar no câmbio de países exportadores de commodities. Além do real, o dólar disparava também contra o peso mexicano e ao rand sul-africano nesta segunda-feira.
A junção de fatores internacionais dava tração à moeda norte-americana globalmente nesta sessão, que subia 0,60% contra uma cesta de outras seis divisas fortes.