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Guerra dos 30 anos: em Planaltina gangues mataram centenas de pessoas

A gangue do pombal aterrorizou planaltina por mais de três décadas.

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Desde 1990, gangues disputavam o controle do crime na região de Planaltina – região administrativa do Distrito Federal – a cidade tem cerca de 190 mil habitantes e entre os anos de 2014 e 2017 registrou 108 casos de assassinatos e tentativas de homicídios relacionados aos integrantes de uma das organizações criminosas mais perigosas do DF: a Gangue do Pombal.

A gangue, também conhecida pela sigla “CMM” (crime, morte e maldição), surgiu cerca de 30 anos após a construção dos primeiros loteamentos em Planaltina, em 1960. De maneira lenta outros grupos foram de formando, com nomes aleatórios que faziam menção ao nome dos bairros que residiam, como por exemplo: a Gangue da Quadra 16, do Buritis III, do Jardim Roriz e do Bola 10. Todos esses rivais da Gangue do Pombal.


		Guerra dos 30 anos: em Planaltina gangues mataram centenas de pessoas
Fonte: Divulgação

As quadrilhas estavam envolvidas no tráfico de drogas, ameaças e diversos crimes violentos como homicídios, roubos e latrocínios. A demarcação de territórios foi um dos motivos que desencadeou uma batalha sangrenta entre os grupos. Cada gangue possuía uma área designada para a venda de drogas, e a presença de membros rivais de outros bairros era estritamente proibida.

Não demorou muito para que essas gangues se estabelecessem firmemente na comunidade, causando intimidação e terror nos moradores que não tinham nenhuma relação com os conflitos. O rápido crescimento desses grupos foi evidenciado pela quantidade significativa de armas apreendidas pelos investigadores da 31ª Delegacia de Polícia, unidade responsável pela área

De acordo com um relatório policial, durante o período de junho de 2013 a junho de 2017, a polícia confiscou 29 armas de fogo das mãos da organização criminosa em Planaltina. Essas armas incluíam cinco espingardas, 13 revólveres calibre .38, quatro revólveres calibre .32, duas pistolas calibre .9mm, uma submetralhadora calibre .9mm, três pistolas calibre .40 e uma pistola calibre .380. A submetralhadora foi apreendida em janeiro de 2016 com Juarez Luiz Lourenço, conhecido como Juarezinho, que desempenhava o papel de "coordenador" na Gangue do Pombal. Essa arma de fabricação americana possuía um alto poder destrutivo e capacidade para 40 munições.

As gangues operavam com uma estrutura organizada para cometer crimes, estabelecendo regras, leis, posições, divisão de tarefas e punições. Em 2014, a 31ª DP realizou uma grande operação contra as gangues na região, resultando na prisão de 30 pessoas, busca e apreensão de 33 adolescentes e 70 mandados de busca domiciliar. Essa operação enfraqueceu o grupo, levando a uma redução significativa de 38% nos assassinatos e mais de 41% no total de ocorrências de homicídios entre 2013 e 2015.

Apesar da ação policial, a Gangue do Pombal prevaleceu e continuou suas atividades de forma independente. Sob a liderança de Wanderson Jardim da Costa, conhecido como "Som", o grupo "Rua da Adidas" estabeleceu funções e operou de dentro do Complexo Penitenciário do DF, utilizando um esquema de transmissão de mensagens.

O tráfico de drogas se tornou a principal fonte de subsistência para a compra de armas, veículos, imóveis, pagamento de advogados e até mesmo sustento das famílias dos membros. As armas de fogo pesadas também eram adquiridas por meio da venda de drogas em pontos de venda, como no caso da submetralhadora apreendida com Juarez.

O delegado-chefe da 31ª DP, Fabrício Augusto Paiva, afirmou que o tráfico de drogas gera dinheiro rápido e fácil para esses criminosos, que se dividem em pequenos pontos de venda para comercializar drogas como crack.


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Fonte: Divulgação

O delegado-adjunto da 31ª DP, Veluziano Castro, ressalta a importância do trabalho contínuo. "É um serviço de prevenção constante, para evitar que os criminosos se reestabeleçam. Se não tivéssemos feito esse trabalho anteriormente, com certeza o grupo teria se enraizado e talvez até se tornasse uma facção, já que a área passou a ser visada por criminosos de outras cidades do DF", pontuou.

Uma senhora idosa, de 72 anos, que prefere não ter o nome divulgado, mora há mais de 30 anos na região e faz uma análise. "Já presenciamos de tudo aqui: tiroteios, homicídios e o tráfico descarado. Uma vez, acharam que eu estava envolvida com o namorado de uma das mulheres do grupo deles e tentaram armar uma cilada para mim. Vieram à minha porta me convidar para tomar um café. Foi uma sensação de medo", relata. Conversar com as vizinhas na porta de casa nem passava pela cabeça da moradora. "Não tínhamos essa tranquilidade", desabafou.

Até 2017, a "organização criminosa" dominou as ruas, vielas, comércios e avenidas. A Gangue do Pombal era dividida em quatro níveis hierárquicos (veja quem é quem): o líder, os coordenadores, os gerentes e os funcionários. Cabia ao líder estabelecer a estrutura do grupo, determinar as ordens e entrar em contato com os fornecedores de drogas e armas. Os gerentes mantinham contato direto com os coordenadores e fiscalizavam a vigilância das ações policiais. Já os funcionários vendiam drogas e armas, guardavam os ilícitos e praticavam os ataques (homicídios e roubos).

Entre os membros da Gangue do Pombal, vigorava um sistema rígido de normas. O "conjunto de leis" incluía regras como o empréstimo de armas de fogo, o horário e o local do comércio de drogas e até mesmo a pena de morte para aqueles que cometiam faltas graves, como delatores, devedores e ladrões de drogas.

O chefe do grupo, Wanderson, ficou preso na Papuda por mais de cinco anos após ser condenado por organização e associação criminosa. Nesse período, Mauro de Souza, o homem que posteriormente assumiria a liderança da Gangue do Pombal, também estava detido. Enquanto os dois estavam na prisão, ex-lideranças coordenavam o tráfico de drogas na região.

Após a libertação de Wanderson, ele se mudou de Planaltina e deixou o posto. No cargo, Mauro era responsável por recrutar jovens para o esquema, ordenar assassinatos e atribuir funções a cada um para a venda de drogas. Durante quase 12 anos, o traficante ficou atrás das grades após matar um policial militar aposentado.

Em 9 de fevereiro deste ano, após uma ação policial, Marilândia Soares Prades, uma usuária de drogas conhecida na comunidade, foi convocada para prestar depoimento como testemunha às autoridades. No entanto, Mauro tomou conhecimento desse depoimento e, nesse mesmo dia, os criminosos começaram a procurar Marilândia, acusando-a de ter revelado informações sobre dois traficantes. Infelizmente, alguns dias depois, ela foi brutalmente assassinada pelos traficantes, que a atacaram com uma facada no pescoço.

No dia 17 de março deste ano, Mauro teve um destino semelhante. Ele foi morto a tiros por um membro do próprio grupo criminoso após uma discussão relacionada a uma arma de fogo. A região do Pombal tem sido alvo constante de operações policiais, principalmente no combate ao tráfico de drogas. O objetivo dessas ações é reduzir ou eliminar as chances de que a região volte a ser como era antes, marcada pela violência e o domínio do crime organizado.

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