A mãe do rapaz assassinado em 2021 por serial killer de homossexuais em Curitiba, ainda sofre com a morte de Marcos Vinício Bonanza, que já completa um ano. Roselene Bozzana, de 51 anos, relembrou o caminho traçado pelo rapaz, os sonhos que ele tinha e o amor pela vida.
Em entrevista ao Portal G1, Roselene contou a história de Marcos. No início dos anos 2000, Roselene, grávida de João, seu filho mais novo, e Marcos, chegaram ao condomínio localizado no bairro Panamá, em Campo Grande (MS). Com muito cuidado, eles escolheram uma casa próxima ao parquinho, visando proporcionar um ambiente onde seus filhos pudessem crescer brincando.
Atualmente, Roselene divide sua vida entre uma fazenda em Piraputanga, distrito de Aquidauana (MS), e seu apartamento na capital. Seu filho mais novo, João Bozzana, com 23 anos, acompanha essa rotina.
Toda vez que precisa ir a Campo Grande, ela afirma que ainda precisa de algum tempo para se adequar ao ambiente. Roselene expressa que tudo no apartamento e no condomínio traz lembranças de seu filho.
Ele costumava gostar de tirar selfies, e toda vez que ela retorna de Piraputanga, há um dia em que se sente triste e pensa nos lugares que seu filho costumava frequentar. Em todos os cantos, há uma pequena lembrança dele. Ele sempre dormia com Roselene, eles estavam sempre juntos. A separação só ocorreu quando ele seguiu seu sonho e foi para Curitiba.
Morte
No dia 4 de maio de 2021, Marcos faleceu. Ao cair da noite, por volta das 19h, Roselene enviou uma mensagem para seu filho, perguntando se ele estava acordado. Poucos minutos depois, ela recebeu a resposta. O rapaz informou que precisava concluir um trabalho da faculdade e estava exausto.
Marcos era um grande fã do BBB e não comentou com familiares ou amigos sobre a vitória de Juliette na final do reality, o que levantou suspeitas de algo fora do comum.
Após receber a mensagem, a mãe ficou tranquila. No dia seguinte, cedo, o pai de Marcos ligou, mas não obteve resposta. A falta de resposta aumentou a preocupação. Era o último dia do BBB e Marcos não havia feito nenhum comentário. Quando chegou às 8h da manhã e ele ainda não havia respondido, a família ficou assustada.
A mãe recorda que pediu ao pai de Marcos para arrombar a porta da casa, pois tinha a certeza de que seu filho estava lá dentro. Um chaveiro foi chamado e a porta foi aberta, revelando a triste descoberta de que Marcos estava lá, sem vida. Ao receber a notícia do pai, a mãe já havia chorado muito no caminho até lá.
Roselene e o pai de Marcos, então, viajaram de Campo Grande para Curitiba. Ao chegarem à capital paranaense, foram diretamente ao Instituto Médico Legal para fazer o reconhecimento do corpo de Marcos. Emocionada, Roselene lembra do pior dia de sua vida, quando teve que reconhecer o corpo do filho.
“No IML eu orava para Deus ressuscitar meu filho. Quando entrei para reconhecer o corpo, não reconheci, não achei que fosse meu filho. Só quando eu cheguei perto que a ficha foi caindo e vi que era ele. Hoje, depois de tudo que passei, tenho que tirar forças, não tem o que fazer”, desabafa.
Vida de Marcos
Durante três anos, a mãe de Marcos acompanhou de perto a jornada de seu filho em busca do sonho de cursar Medicina, dedicando-se ao longo do período de cursinho.
“Acompanhamos a luta dele durante três anos, as tentativas de passar no vestibular e as dificuldades. Foram três anos ele tentando passar para medicina. Passou em odonto, enfermagem, fisioterapia e, por fim, passou em Medicina. Ele falava que estava correndo atrás do sonho dele, até que ele conseguiu. Meu filho estudava muito, muito esforçado. Nós ficávamos juntos, nas lutas e felicidades”, lembra a mãe de Marcos.
Quando Marcos finalmente foi aprovado na faculdade que sempre desejou, a felicidade foi imensa, conforme detalha Roselene. Ela descreve como ele chegou em casa, todo pintado, para contar a notícia. Abraçaram-se e comemoraram juntos essa vitória que era não só dele, mas também de toda a família.
A alegria contagiou a todos. No entanto, mesmo com a felicidade do momento, Roselene já começou a sentir preocupação. Ela percebeu que seu filho estava prestes a sair do ninho, a iniciar uma nova fase em sua vida, e isso significava que ele não estaria mais sob seus cuidados constantes.
Homossexualidade
Anteriormente, a orientação sexual era um assunto tabu na casa de Roselene. Ela percebeu que seu filho não estava bem, pois não contava com a aprovação da mãe a quem ele amava e admirava tanto. No entanto, quando assistiu a um episódio do programa Globo Repórter que abordava o tema, Roselene teve uma reflexão: "Um filho tão maravilhoso, e eu fico preocupada com algo tão irrelevante".
Após o programa, Roselene teve uma conversa franca com seu filho. Ela foi até o quarto de Marcos e abordou o assunto de maneira aberta e receptiva. A partir desse momento, "a vida fluiu perfeitamente", detalha Roselene, indicando que houve uma aceitação e entendimento mútuos.
Marcos enfrentava o preconceito e a homofobia, vivendo com o medo do que os outros poderiam fazer a ele. Sensibilizada pela situação, Roselene decidiu ter uma conversa franca com seu filho, abrindo-se completamente para ele. Nesse momento de sinceridade, ambos choraram e pediram perdão um ao outro, aliviando um peso das costas de Roselene.
A partir desse momento, a alegria prevaleceu. Não havia mais segredos, Marcos passou a compartilhar tudo com sua mãe. Eles passaram a conversar sobre tudo, fortalecendo ainda mais o vínculo entre eles.
O caso
No dia 5 de maio, o corpo de Marcos foi descoberto, e a partir desse momento, a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) iniciou as investigações que levaram à descoberta de uma série de crimes, todos atribuídos ao mesmo suspeito.
José Tiago Correia Soroka, conhecido como o serial killer de homossexuais, foi condenado a uma pena de 104 anos, quatro meses e seis dias de prisão. A sentença, proferida pela juíza Cristine Lopes, da 12ª Vara Criminal de Curitiba, incluiu acusações de latrocínio, roubo agravado, extorsão e homofobia.
O rapaz foi preso em 29 de maio do ano anterior e, na ocasião, admitiu sua responsabilidade em três crimes, embora a polícia ainda estivesse investigando a possibilidade de seu envolvimento em outros assassinatos.
Além da pena de prisão, José Tiago Correia Soroka também foi condenado a pagar 229 dias-multa, totalizando aproximadamente R$ 9,2 mil. As investigações revelaram que o suspeito utilizava aplicativos de encontros para chegar até as residências das vítimas.
Durante os encontros, Soroka estrangulava os homens e roubava seus pertences antes de deixar o local. A polícia afirmou que os elementos obtidos durante o interrogatório indicam que os crimes foram motivados por ódio.
As informações são do Portal G1.