Doze militares da ativa do Exército estão entre os indiciados pela Polícia Federal no inquérito que investiga uma trama golpista articulada no fim do governo de Jair Bolsonaro (PL) para mantê-lo no poder.
A lista inclui um general recém-transferido para um cargo em Brasília e um adido militar em Tel Aviv, Israel.
O general de brigada (duas estrelas) Nilton Diniz Rodrigues foi designado em 13 de novembro para chefiar a Coordenação de Operações Logísticas, um dos principais cargos do Comando Logístico do Exército.
Dias antes de ser indiciado, ele era o comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, em São Gabriel da Cachoeira (AM). O indiciamento do general foi considerado uma surpresa para integrantes da cúpula do Exército ouvidos pela reportagem.
Ele era coronel no fim de 2022, quando aconteceram os fatos investigados pela PF. Com formação nas Forças Especiais, onde atuam os chamados "kids pretos", estava à época na assessoria direta do então comandante Freire Gomes. Era bem relacionado entre militares e civis que integravam as escolas de formação do Exército.
É irmão da antropóloga Débora Diniz, professora da UnB (Universidade de Brasília), que o ajudou durante o mestrado na Eceme (Escola de Comando e Estado Maior do Exército), em 2013. Sua banca tinha como integrante o também antropólogo Celso Castro, um dos principais estudiosos das Forças Armadas no Brasil.
A Polícia Federal não esclareceu os motivos pelos quais o general foi indiciado. Militares afirmaram à reportagem que ele recebia apelos de colegas para convencer Freire Gomes a apoiar o golpe de Estado planejado pelo governo Bolsonaro, bem como participou de uma confraternização de "kids pretos" no fim de 2022 que entrou na mira da Polícia Federal.
O coronel Fabrício Moreira de Bastos foi outro que apareceu, segundo generais, inesperadamente no relatório final da Polícia Federal. O militar é adido em Tel Aviv, em Israel, e deve voltar ao Brasil para acompanhar os desdobramentos judiciais de seu indiciamento.
O Exército adotará em relação a ele o precedente do caso do coronel Jean Lawand Junior. Em junho de 2023, Lawand apareceu em relatório da Polícia Federal com conversas de cunho golpista trocadas com o tenente-coronel Mauro Cid.
Com as possíveis implicações judiciais do caso, teve a nomeação para a representação diplomática do Brasil no Estados Unidos, em Washington, anulada pelo comandante do Exército, general Tomás Paiva. O objetivo era garantir que o coronel estivesse no Brasil enquanto respondesse a eventuais processos na Justiça.
Lawand, porém, acabou pedindo para deixar o Exército, mesmo com a carreira traçada para o generalato. Ele não foi indiciado pela Polícia Federal.
Os outros dez oficiais já estavam na mira da Polícia Federal em operações anteriores ou tinham sido alvos de inquéritos do próprio Exército por envolvimento na redação de uma carta que tentava pressionar o comandante da Força a embarcar no golpe de Estado.
O principal era o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Mesmo na ativa e sonhando com o generalato, ele está afastado das funções desde 3 de maio de 2023, quando foi preso por fraudes em cartões de vacina. Foi solto em setembro do ano passado após fechar um acordo de delação premiada.
Antes de ser preso, Cid ocupava função no Comando de Operações Terrestres, chefiado na época pelo general Estevam Theophilo —outro indiciado pela PF.
Com a delação e uma série de indiciamentos em inquéritos da PF, a promoção de Cid para coronel segue estagnada.
O mesmo ocorre com os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Guilherme Marques Almeida, Rafael Martins de Oliveira, Ronald Ferreira de Araújo Júnior e Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros.
Todos estão afastados dos cargos desde fevereiro deste ano, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Eles foram alvos da operação Tempus Veritatis, que mirou Bolsonaro, aliados e militares envolvidos na trama golpista.
Outros três coronéis foram indiciados pela PF. São eles Bernardo Romão Corrêa Neto, ex-auxiliar do chefe do Estado-Maior do Exército e afastado do cargo desde fevereiro; Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, que ocupa função administrativa no Departamento Geral da Pessoal; e Anderson Lima de Moura, cuja última função pública foi a coordenação pedagógica da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras).
Por fim, da lista de militares da ativa indiciados consta ainda o subtenente Giancarlo Gomes Rodrigues, que ocupava função no Parque Regional de Manutenção da 6ª Região Militar, em Salvador, quando foi preso na investigação sobre a chamada "Abin Paralela" em julho de 2024.
Ele é suspeito de executar ações clandestinas junto à agência de inteligência para o monitoramento de adversários políticos do governo Bolsonaro, com uso do sistema FirstMile. Foi solto em agosto, um mês após ser preso, e segue afastado do cargo no Exército.
A PF interceptou troca de mensagens do final de 2022 em que o ele e o policial Marcelo Bormevet, ambos investigados pela PF, discutem sobre uma minuta golpista.
"O Nosso PR imbrochável já assinou a porra do decreto?", questiona Bormevet. O militar responde, ainda de acordo com o relatório: "assinou nada. Tá foda essa espera".