O acompanhamento de um paciente, de 76 anos, que deu entrada no hospital Encore, em Aparecida de Goiânia, em julho de 2022, com insuficiência cardíaca, levou a médica residente Larissa Xavier Alves de Oliveira a uma descoberta que reverteu o quadro do paciente com um tratamento simples. Diante de um caso raro de beribéri cardíaco, em que a deficiência da vitamina B1, a tiamina, prejudicava a capacidade de contração e bombeamento do coração, a médica conseguiu fazer com que o órgão do paciente voltasse a funcionar bem, por meio da reposição da vitamina.
O relato desse caso, feito em conjunto com a equipe de produção científica do Encore, foi admitido para publicação no Journal of the American College of Cardiology (JACC), editada pelo American College of Cardiology (ACC) em uma das mais conceituadas revistas científicas de cardiologia no mundo. A publicação está prevista para ocorrer na próxima edição da revista.
“Conseguir a publicação desse relato de caso em um dos periódicos do JACC é muito importante”, afirma o coordenador científico do Encore, Giulliano Gardenghi. Segundo ele, o caso relatado é especial porque o paciente apresentava insuficiência cardíaca, e já estava agendada a cirurgia para corrigir uma disfunção que ele tinha na válvula tricúspide, do lado direito do coração, quando a Dra. Larissa Xavier percebeu que o paciente poderia ter deficiência de tiamina.
“Quando a médica fez a reposição do substrato que estava deficitário, o paciente apresentou uma melhora importante e o coração dele voltou a funcionar em sua totalidade, não necessitando da realização da cirurgia”, afirma o Dr. Gardenghi.
Um caso de beribéri cardíaco
De acordo com a Dra. Larissa Xavier, o paciente, quando deu entrada no hospital, apresentava um quadro de falta de ar e congestão sistêmica (acúmulo de líquido). Em exame de ecocardiograma transtorácico, continua a médica, constatou-se “função sistólica do ventrículo direito comprometida e uma insuficiência tricúspide importante”.
O paciente, que era hipertenso, relatou à médica que, há cerca de seis meses, tinha reduzido a ingestão de carne, estava perdendo peso e tinha um passado de alcoolismo.
“Diante de um quadro de insuficiência tricúspide secundária, começamos as investigações dos diagnósticos diferenciais e excluímos embolia pulmonar, doença pulmonar tromboembólica crônica, miocardite, doença isquêmica do coração e síndrome carcinoide. Com isso confirmamos uma insuficiência cardíaca de alto débito levando à insuficiência tricúspide” relata a Dra. Larissa Xavier.
O homem estava tendo uma qualidade de vida ruim, de acordo com a médica, porque todo mês tinha que ir ao hospital para fazer paracentese por causa da ascite. Ainda, o paciente tinha dificuldade em fazer as atividades básicas do dia a dia, pois apresentava falta de ar, cansaço e inchaço nas pernas.
“Nós não tínhamos encontrado ainda uma causa para a insuficiência cardíaca direita, hipertensão pulmonar e insuficiência tricúspide. Estávamos fazendo tratamento clínico com diurético e, apesar da otimização com tratamento clínico medicamentoso, ele não melhorava”, lembra a médica.
Diante do quadro clínico, em reunião com um grupo de cardiologistas do Encore, foi avaliado que o paciente precisaria ter um implante de um sistema chamado TricValve, que simula o funcionamento da válvula tricúspide, e são próteses implantadas na veia cava.
No entanto, o implante da prótese é considerado caro e foram necessários cerca de três meses para o plano de saúde liberar o procedimento para o paciente. “Nesse período, diante de uma insuficiência cardíaca de alto débito, percebemos que uma das causas poderia ser o beribéri cardíaco - uma causa rara de deficiência de tiamina, que pode gerar a insuficiência e culminar com o quadro clínico que o paciente estava desenvolvendo”, conta a médica.
Com esse diagnóstico, começou a ser feito, ambulatorialmente, um tratamento empírico com a reposição de tiamina 300 mg via oral.
“Quando o implante do TricValve foi autorizado pelo plano de saúde, o procedimento talvez já não fosse mais necessário, porque o paciente voltou ao hospital com melhora dos sintomas, sem ascite, sem sinais de congestão e relatou que se sentia melhor nos últimos meses”, conta a Dra. Larissa.
Um novo ecocardiograma foi realizado para confirmar a necessidade do implante do TricValve. Nesse exame, observou-se que o paciente apresentou melhora importante da insuficiência tricúspide, mantendo insuficiência mínima, com diâmetros cavitários e função sistólica do ventrículo direito normalizados.
Com isso, foi cancelado o implante do TricValve, o paciente não precisou se submeter ao procedimento invasivo e, atualmente, ainda segue fazendo reposição da vitamina B1.
“O relato desse caso é importante porque mostra que o beribéri cardíaco é uma rara forma de insuficiência cardíaca potencialmente reversível”, afirma a médica. Além disso, conforme relatado no estudo de caso, o diagnóstico é feito excluindo-se as causas mais prevalentes de insuficiência cardíaca e implementando a prova terapêutica com reposição de tiamina via oral.
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