
O Carnaval de 2025 está sendo palco de manifestações políticas que tomaram conta das ruas em diversas cidades brasileiras. Blocos tradicionais, trios elétricos e foliões se uniram em um coro que ecoa desde o primeiro dia de festa: “Sem anistia!”.
O protesto faz referência à indignação contra propostas de perdão aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Além dos gritos contra a anistia, Bolsonaro é alvo de xingamentos durante os blocos: "Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*".
A tensão política ganhou mais força após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar o ex-presidente e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado. Os atos de contestação repercutem em circuitos tradicionais da folia em cidades, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, com amplo destaque na imprensa e nas redes sociais.
Trio do BaianaSystem e Anitta puxam coro em Salvador
Em Salvador, um dos momentos mais emblemáticos do Carnaval ocorreu no circuito Osmar, no Campo Grande. O Navio Pirata, trio elétrico do grupo BaianaSystem, conhecido por sua postura crítica, transformou-se em palco para o grito de protesto. Artistas, como Anitta e Alice Carvalho puxaram o coro de “Sem anistia!”, rapidamente seguido pela multidão.
Além dessa manifestação, foliões também entoaram xingamentos contra Bolsonaro. Vídeos do momento viralizaram nas redes sociais, alcançando mais de 100 mil visualizações em poucas horas. A polarização gerou debates entre internautas.
“Carnaval não é lugar de política, não dá nem mais para se divertir”, escreveu um usuário. Em resposta, outro perfil rebateu: “Qualquer lugar é espaço para manifestação política, principalmente os blocos de Carnaval.”
Blocos tradicionais no Rio misturam folia e protesto
No Rio de Janeiro, o tom político também marcou a folia. O tradicional Cordão do Boitatá, que desfila no Centro da cidade, foi um dos blocos que incorporaram a pauta ao repertório. Em meio ao calor de 32°C, foliões foram refrescados por um mangueirão de água enquanto entoavam o grito de “Sem anistia!”.
O bloco Terreirada, que se apresentou no parque Quinta da Boa Vista, homenageou a advogada Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres no filme Ainda Estou Aqui, que recebeu três indicações ao Oscar. Paiva foi uma figura essencial na luta pelo reconhecimento de seu marido, Rubens Paiva, como vítima da ditadura militar. Seu retrato apareceu em estandartes ao lado de figuras como Paulo Freire, reforçando a conexão entre cultura e ativismo político.
Já no bloco Toca Rauuul, que reuniu fãs de Raul Seixas na praça Tiradentes, o protesto político se misturou ao rock, com marchinhas adaptadas para criticar a tentativa de golpe.
São Paulo também participou dos protestos
Na capital paulista, blocos tradicionais levaram a mensagem política para as ruas. O Jegue Elétrico, que celebrou 25 anos de história, manteve sua tradição de marchinhas críticas e entoou o refrão “Sem anistia, tem que acabar com essa mania” durante o cortejo na Rua Artur de Azevedo, em Pinheiros.
Outro destaque foi o Minhoqueens, bloco fundado pela drag queen Mama Darling, que misturou hits de pop e funk aos protestos. Entre os foliões, era possível ver cartazes e camisetas com dizeres como “Sem anistia para golpista” e “Ele preso”, em alusão a Bolsonaro. O cortejo percorreu avenidas icônicas da cidade, como Ipiranga e São Luís, além das ruas da Consolação e Coronel Xavier de Toledo.