Joana*, em seu auge dos 15 anos estava tendo um relacionamento à distância com Pedro*, entretanto, em uma sexta-feira, início do feriado de carnaval, Joana foi até a cidade de Pedro e após uma longa conversa resolveram terminar. Ela saiu da casa dele com os olhos cheios de lágrimas, mas havia decidido uma coisa: “Vou curtir o meu carnaval”. Já na festa em que estava acontecendo na cidade, Joana encontrou uns amigos e resolveram começar a beber, ela que nunca tinha bebido adorou a novidade e acabou ficando embriagada.
Após um tempo, ela e os amigos, encontraram Pedro com um grupo de amigos, foi então que ela disse: “Quem é a vagabunda que fez você terminar comigo?”, sem pensar duas vezes, Pedro, que já também estava alcoolizado, deferiu um tapa na cara de Joana e assim, ela descobriu que ele não o amava da forma que ela pensava. Chocados com a história? Pois bem, é mais ou menos assim que os casos de violência doméstica começam.
Tudo, no começo de um relacionamento, parece lindo. As flores, os nomes bonitinhos, os gestos de amor, tudo parece perfeito, mas basta um minuto chegando atrasado que a história muda. Os nomes bonitinhos perdem espaço para nomes do tipo “vagabunda” ou “desgraçada”. Os gestos de amor se transformam em roxos no corpo da amada. E por último, os sorrisos perdem espaço para as lágrimas
Assim como a história da nossa personagem, uma das imagens mais associadas à violência doméstica é a de um homem – namorado, marido ou ex – que agride a parceira, motivado por um sentimento de posse sobre a vida e as escolhas daquela mulher. As agressões, por sua vez, podem ser de natureza física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.
Segundo o Mapa da Violência Contra a Mulher, a Agência Patrícia Galvão divulgou um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado no Brasil em que mostra que cerca de 30% das mulheres que disseram ter sido agredidas pelo parceiro afirmam que foram vítimas tanto de violência física como de violência sexual; mais de 60% admitem ter sofrido apenas agressões físicas; e menos de 10% contam ter sofrido apenas violência sexual.
Mas aí você deve pensar, mas isso só acontece às vezes e tal, não é algo contínuo. Muito se engana, afinal foi após vários anos de agressões e várias tentativas de matar a amada que a Lei Maria da Penha foi criada. Sancionada em 7 de agosto de 2006, como Lei n.o 11.340, essa lei foi criada para proteger a mulher da violência doméstica e familiar.
A norma já passou por várias mudanças desde a sua criação e a última ocorreu em dezembro de 2018, quando o plenário da Câmara dos Deputados aprovou uma alteração que obriga o agressor a ressarcir o Sistema Único de Saúde por custos com vítimas de violência doméstica. A medida, que visa aumentar o rigor da Lei Maria da Penha, também determina que dispositivos de segurança usados no monitoramento das vítimas sejam custeados pelo agressor.
Agora precisamos conhecer essas vítimas
Entre os meses de janeiro e novembro de 2018, a imprensa brasileira noticiou 14.796 casos de violência doméstica em todo o Brasil. A maioria das vítimas (83,7%) possui entre 18 e 59 anos de idade, sendo que a margem que mais concentra a idade das vítimas é entre 24 e 36 anos. Ou seja, são mulheres jovens adultas que vivem relacionamentos afetivos que desembocam no abuso físico.
Cerca de 1,4% das vítimas tinham menos de 18 anos na época da agressão. Já aquelas com mais de 60 anos de idade correspondem a 15% das vítimas de violência doméstica.
Alguma dessas mulheres chegam a tomar coragem e denunciam o fato, conseguindo assim medidas protetivas. Segundo dados fornecidos pela Delegacia Estadual de Atendimento a Mulher (Deam) só o primeiro semestre de 2019 a quantidade de medidas pedidas já superou o total de solicitações realizadas durante o ano todo de 2018. Foram 1.533. O primeiro semestre de 2018 registrou apenas 659 solicitações.
Mas o importante não é só denunciar essas agressões, o necessário é mostrar desde criança que em mulher não se bate ou nem maltrata, como diz a linguagem informal.
O lobo na pele de um cordeiro, o companheiro ideal
Vivemos em uma sociedade machista, isso é fato, não sou só eu que digo isso, muitos estudiosos dizem, mas isso não dá direito ao companheiro de deferir um soco no olho da amada ou até mesmo a matar. Dados do Mapa da Violência Contra a Mulher apontaram que os maiores agressores das mulheres ainda são os companheiros (namorados, ex, esposos) correspondendo a 58% dos casos de agressão. Os outros 42% ficam na conta dos pais, avôs, tios e padrastos.
Violência doméstica: em Goiás, no Centro-Oeste e no Brasil
Segundo o levantamento fornecido pela Deam, entre janeiro e junho deste ano foram registrados 4,8 mil casos de violência doméstica. Em relação ao mesmo período no ano passado, houve um aumento de 84,6%, é assustador não é mesmo? Mas calma, isso esses números podem ficar um pouco diferente.
Segundo dados do Mapa da Violência Contra a Mulher, foram noticiados em Goiás, 767 casos. Mesmo com a discordância, são números que devem ser levados em consideração, uma vez que a mulher não pode ser vítima de sentimento de posse.
Quando aumentamos a segmentação, segundo dados do Mapa, de casos para o âmbito, Goiás Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, contabilizamos quase 2 mil casos de violência doméstica. Contabilização um pouco grande, mas porque os números vão aumentar. Já quando juntamos Estados de destaque nacional, como, por exemplo, o Rio de Janeiro e São Paulo, eles somam mais de 2,03 mil casos.
É de se assustar, não é mesmo? Pois bem, devemos ter em mente que apesar de todos os casos noticiados, muitos outros não ganham a mídia devido à outras notícias de mais relevância, mas isso não deve ser um motivo para não discutirmos o assunto. Afinal, em mulher não se bate, nem de brincadeira.
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos envolvidos.