Familiares de um idoso de 77 anos que veio a óbito no último dia 1° de maio denuncia que não foi notificada pelo hospital em que ele ficou internado, sobre a suspeita de Covid-19. Segundo parentes, a notícia só veio ao conhecimento cinco dias após o velório e enterro da vítima, que ocorreu sem seguir protocolos de restrição para casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus.
De acordo com familiares, o idoso morava em Iporá, no oeste goiano, onde foi internado em um hospital particular após complicações por causa do câncer no pâncreas que vinha tratando. O paciente precisou ser transferido ao Hospital Jacob Facuri, em Goiânia, onde ficou internado por 21 dias e morreu.
A unidade de saúde informou por meio de nota, que o idoso evoluiu para um quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e foi testado para Covid-19. Segundo o hospital, os parentes, Vigilância Sanitária da capital e assistência funerária foram informados da suspeita de coronavírus.
De acordo com o comunicado, ele foi prontamente incluído no Plano de Contingência do Hospital para Covid-19, sendo iniciado tratamento conforme os protocolos do Ministério da Saúde. No atestado de óbito do paciente constam os seguintes diagnósticos: Síndrome Respiratória Aguda Grave, choque séptico, obstrução intestinal e adenocarcinoma pancreático.
Familiares alegam que não foram informados
Uma neta do idoso, que preferiu não ter a identidade divulgada, declarou que a primeira informação do hospital sobre a morte do avô foi de que ele sofrera uma parada cardíaca depois de apresentar pressão baixa, "meu avô estava se recuperando bem de um procedimento que ele fez para colocar uma sonda, para voltar a se alimentar. A pressão dele estava baixa e o coração dele estava fraco. Então ele foi medicado para controlar a pressão. Dia 1° o coração dele parou e essa teria sido a causa da morte", afirmou.
Ainda de acordo com a neta, a informação sobre a suspeita e confirmação de que o idoso estava contaminado com o coronavírus só chegou dias depois. Portanto o velório e o enterro dele foram feitos sem restrições impostas pelos protocolos de saúde para casos suspeitos ou confirmados de Covid-19. "Dia 6, fomos informados pela Secretaria de Saúde de Iporá que meu avô foi testado positivo para Covid-19. Depois disso, todos que tiveram contato estão cumprindo quarentena", sustentou.
Familiares questionaram a funerária sobre a informação e segundo a neta, eles disseram que também não foram informados, "se soubéssemos, não teríamos feito a preparação". A Secretaria Municipal de Saúde de Iporá, informou que também não havia sido informada sobre a investigação da doença no paciente, até o final da tarde de quarta-feira (6), quando contactou a família para fazer o monitoramento de pessoas que pudessem ter se aproximado dele e corrido risco de contágio.
Para Daniela Sallum, chefe da Secretaria Municipal de Saúde de Iporá, "não houve comunicado, a equipe que preparou o corpo não foi informada, funerária, ninguém sabia que era um caso suspeito", justificou. A Secretaria de Saúde de Goiânia informou que o hospital é responsável por avisar a família.
Denuncia sob investigação
Conforme o secretário de saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, o Centro de Informações Estratégicas e Vigilância e Saúde devem fazer uma investigação do caso e reportá-lo a Secretaria de Estado da Saúde (SES). Ele explicou que a unidade de saúde pode ser responsabilizada.
"Considerando que é uma doença de notificação compulsória imediata, o hospital e/ou o médico que assistiu pode ser punido de acordo com o artigo 269 do Código Penal - "Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória", afirmou. A pena prevista para o crime é de detenção de seis meses a dois anos e multa.