A ativista trans Amanda Marfree, de 35 anos, morreu vítima de covid-19, na madrugada da última terça-feira (23) em São Paulo. Ela entregava doações de cestas básicas em casas de acolhida para mulheres trans e travestis, durante a pandemia. Além disso, ela era pré-candidata a vereadora pelo coletivo DiverCidade SP (PSOL).
Natural de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, Amanda morava em São Paulo. No ativismo trans paulistano, ela é conhecida. Era orientadora educacional na Organização Social (OS) Centro de Referência e Defesa da Diversidade em São Paulo (CRD) e recepcionista no Centro de Cidadania LGBT da Prefeitura de São Paulo.
No CRD, Amanda atendia à população do Centro. Ela dava assistência às pessoas trans em situação de rua, ensinava pessoas e distribuía alimentos. Um dos amigos próximos dela e também ativista, Pri Bertucci lembra da amiga como quem sempre se dispôs a ir para a linha de frente. “Ela foi até o limite para ajudar a comunidade.", alega.
Emanuele S. Bernardo, técnica de enfermagem, tinha contato com Amanda em eventos da militância trans. Ela descreve a ativista como "muito humana" e que “sempre dava um jeito para tudo”.
Ver essa foto no Instagram Nesse momento de Pandemia precisamos olhar onde a ponta estão mais esquecidas e vulneráveis , fui na casa das meninas onde estão sem poder trabalhar, onde existem várias casas que precisam , quem puder faça como puder #ajudeumatrans #transperiferia obrigada Verônica Havenna Uma publicação compartilhada por Amanda Marfree (@amandamarfree) em 8 de Jun, 2020 às 2:26 PDT
Nas rede sociais, coletivos e militantes homenagearam a ativista trans. A atriz Renata Carvalho, escreveu em sua página do Facebook: “O mundo fica menos solidário. Nós travestis ficamos sem sua bondade, seu companheirismo e sua militância. O Traviarcado está em luto”.
Em nota, o Coletivo Arouchianos afirmou que Amanda morreu ajudando. “Ela morreu fazendo aquilo que poucas pessoas estão dispostas a fazer: ir até às pessoas travestis e mulheres transexuais da base e fortalecer . É nisto que acreditamos e é assim que será lembrada”, declara.
O Museu da Diversidade também a homenageou em seu perfil no Instagram. "Sua generosidade e militância ficarão para sempre em nossa lembrança", escreveu o centro cultural.
"Todo mundo precisa de ajuda" dizia ativista trans
Pessoas próximas a Amanda, afirmam que ela sofria de comorbidades como trombose, sobrepeso e pressão alta. “A obesidade tinha algo a ver com a tireoide. Era sempre ofegante, cansava fácil. Mas pelo visto, isso não foi uma barreira”, relata Emanuele.
No início da pandemia, Amanda se dispôs a arrecadar doações para mulheres trans e travestis que são profissionais do sexo. A ativista alegava que elas estavam sem assistência. “Ela dizia: ‘vou ajudar porque sei da dificuldade que estão passando. Sem programa, ninguém está ajudando elas. Todo mundo precisa de ajuda’”, afirma Pri.
Pri é CEO da consultoria de diversidade Diversity Bbox, que organiza a Marcha do Orgulho Trans há três anos. Amanda foi colaboradora na segunda edição do evento, em 2019. Ele se dispôs a organizar flyers e contribuir na arrecadação de dinheiro para a compra das cestas básicas.
No último dia 15, Pri conversou com Amanda pelo telefone pela última vez. Ele notou que a amiga tossia e apresentava estar cansada. “Alertei que ela precisava ir ao médico, que poderia ser Covid-19, mas ela disse que estava bem, era só um resfriado”, relatou o amigo.
A notícia da morte de Amanda foi recebida com choque por militantes da comunidade LGBTQIAP+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgênero, travestis, queers, intersexo, agênero, pansexuais e mais). Pri afirma que não sabia como a doença se desenvolveu na amiga. Em seguida, soube que Amanda ficou internada no Hospital Planalto, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo.
Renata Carvalho relata em uma postagem no Facebook que Amanda ficou de cama por cinco dias. Ela teria realizado o teste para a Covid-19, mas deu negativo. Ela teria sido contaminada pelo vírus após a testagem.
*Com informações do portal Último Segundo