Desde a última segunda-feira (31), os alunos do primeiro ano do ensino médio do Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima, localizado no Setor Aeroporto em Goiânia resolveram reproduzir uma iniciativa que viralizou na internet – todos abriram as câmeras durante as aulas online e surpreenderam os professores.
A ação já havia sido realizada em algumas cidades do país, entre elas em Sorocaba (SP), onde o ato foi registrado em um vídeo que havia atingido em poucos dias mais de 1 milhão e 100 mil visualizações na plataforma Tik Tok. Após a repercussão vários estudantes resolveram repetir a prática.
Em Goiânia não foi diferente. Com aulas suspensas desde março devido à pandemia do coronavírus, escolas e universidades precisaram se adaptar e para dar continuidade ao ano letivo muitas optaram pelo Regime Especial de Aulas Não Presenciais (REANP), que utiliza plataformas digitais para manter a interação entre professores e alunos.
A diretora pedagógica, Adriana Freitas, explica que o regime especial de aulas não presenciais começou em 18 de março após a Nota Técnica lançada pela Secretária Estadual de Saúde recomendando o isolamento social, como uma estratégia para dar continuidade ao ano letivo e amenizar os prejuízos educacionais em virtude do coronavírus.
Em entrevista ao DM, Adriana afirma que o processo de adaptação ao regime não foi fácil para os professores e alunos. “Nosso processo pedagógico não foi construído pensando em regime remoto”. No entanto, para ela, mais do que transmitir conteúdos a escola existe para trabalhar as habilidades socioemocionais dos alunos, a socialização e a convivência.
“O desenvolvimento da cidadania é uma das principais funções do ambiente escolar”. Com tudo isso, ela afirma que a pandemia ocasionada pelo vírus da Covid-19 obrigou todos a se adaptarem a uma situação para qual ninguém foi preparado.
Adaptação
A diretora pedagógica aponta que os primeiros meses foram “extremamente sofridos”. “Tanto para escola, quanto para as famílias, para os professores e alunos, o esforço para todo o conjunto escolar foi muito grande. Os professores abraçaram toda essa história como um desafio, os alunos também”, diz.
Todos precisaram se adaptar como aponta Adriana. “Embora tenha sido uma fase de adaptação muito difícil, nós da educação percebemos muitas coisas boas. A escola nunca mais será a mesma, agora estamos preparados para atender a uma demanda da tecnologia que batia à porta de nossos currículos há anos”.
Segundo ela, a pandemia e o isolamento trouxeram de uma forma ‘ruim’ o crescimento e abertura para essa realidade (tecnológica). Contudo, Adriana acredita que a iniciativa dos alunos da primeira série do ensino médio é fruto do projeto educativo da instituição. “Pedagogia do amor, da afetividade”, pontua.
Interação
“Há uma interação muito grande entre os professores e os alunos. Buscamos trabalhar com eles a empatia, alteridade, as habilidades socioemocionais para que eles possam encontrar e enxergar no outro as suas necessidades. Eles foram protagonistas nessa atitude. Fiquei emocionada ao perceber isso”, afirma.
De acordo com Adriana Freitas a surpresa feita aos professores - de abrirem a câmera e mostrar que estavam ali presentes, foi uma forma de dizer que todos estão enfrentando isso juntos e retribuir o esforço dos profissionais de educação. “Quiseram dizer, valeu a pena professor, nós estamos aqui, vocês não estão sozinhos, é uma caminhada conjunta. Eu acho que é desse ser humano que a sociedade precisa hoje”, aponta.
O movimento provocou além da emoção dos professores e colaboradores da instituição uma onda de reprodução. “Como isso aconteceu com os alunos da primeira série na segunda-feira, ontem os alunos da terceira série fizeram isso também aos professores e hoje os alunos do nono ano, ou seja, um sendo exemplo para o outro”, conta.
Conforme a pedagoga em tempos tão difíceis, a atitude é para os profissionais de educação um sinal de que os esforços valem a pena. “A educação vale a pena, ela transforma. Vale a pena nos esforçarmos para vencer todos os desafios. É um bálsamo na alma, só gratidão pelo que eles fizeram”, finaliza.
Sensação única
Stanislau Lima dos Santos atua como professor no Colégio Agostiniano há seis anos. Ele leciona a disciplina de matemática para estudantes da primeira série do Ensino Médio e do nono ano do Ensino Fundamental II, com idades entre 14 e 16 anos. Ele contou ao DM que foi uma iniciativa “maravilhosa”.
Porém, diante da pandemia, o novo regime de aulas têm sido um desafio como conta Stanislau. “Tem sido desafiador uma vez que todo esse processo aconteceu de maneira repentina e nós professores apenas do regime presencial nos deparamos com algo completamente diferente da nossa realidade habitual”.
O professor explica que a interação com os alunos através de áudio ou vídeo ainda é tímida por parte da maioria, “pelo chat eles ficam mais à vontade e se sentem mais encorajados a participar. Eu enquanto professor estou trabalhando pra quebrar a barreira da timidez em relação a manter a câmera ligada”, afirma.
Stanislau Lima pontua que os professores precisaram construir um novo modelo de relacionamento com os estudantes e que poder olhar nos olhos dos alunos faz toda diferença. “Da noite pro dia a pandemia nos privou da relação entre professor e aluno no ambiente escolar, a simples atitude de ligar a câmera nos reaproxima, me traz um pouco da sensação de estar em sala de aula perto do aluno. Isso me preenche como profissional”, diz.
A surpresa feita pelos alunos emocionou os docentes. “Confesso que depois de 23 anos de profissão achei que não experimentaria uma sensação como essa, que o fato de ver meus alunos iria me emocionar tanto, foi incrível, eu sorria, chorava, uma mistura de sentimentos, uma grande surpresa depois de todos esses meses rever os alunos foi realmente uma sensação incomparável”, aponta.
Confira a reação dos professores com a surpresa: