De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), somente nos quatro primeiros meses de 2021, trinta mulheres foram vítimas de feminicídio no Rio de Janeiro. Os dois últimos casos aconteceram no domingo (23), em Belford Roxo, na Baixada Fluminense e na comunidade JJ, em Tomás Coelho, na Zona Norte do Rio.
De acordo com testemunhas, a primeira vítima, identificada como Rosane Guimarães, estava em uma festa no condomínio Jardim Ipê, no bairro Parque Roseiral, na noite de domingo (23), quando foi atacada a tiros.
As pessoas presentes no momento do crime, contaram à Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) que o assassino estava com o rosto coberto por um capuz quando atirou em Rosane e fugiu na garupa de uma moto. A polícia ainda não identificou o autor dos disparos.
A outra vítima foi Ana Carolina Sá Vieira, de 15 anos, morta a pauladas, na comunidade JJ, 30 quilômetros de Belford Roxo em Tomás Coelho. De acordo com Ana Cristina Sá Vieira, mãe da vítima, a adolescente estava em um baile funk quando teria sido abordada pelo ex-namorado, identificado como Alexsander de Oliveira Dionizio, de 25 anos, que teria chamado Ana Carolina com a desculpa de querer conversar, mas a jovem recusou.
Segundo testemunhas, o suspeito teria seguido Ana Carolina e matado a jovem a pauladas em uma área de mata da favela. O corpo foi encontrado por um rapaz que procurava um cavalo no alto da comunidade. Alexsander está sendo procurado pela polícia.
Na porta do Instituto Médico Legal (IML) do Centro do Rio, a mãe de Ana Carolina contou que pediu para a filha terminar o relacionamento com Alexsander, por já existir um histórico de brigas, e ele ter agredido a jovem por diversas vezes.
"A minha filha era alegre, feliz, amava brincar. E eles se conheceram assim. No começo tudo era bom, mas ela tentou se afastar dele depois das agressões. Mas, foi tarde. Ele matou a minha filha. Eu só quero que ele pague e não faça isso com a família de mais ninguém. Solto, ele pode fazer outras mães chorarem", disse. Ela não teve condições de reconhecer o corpo da filha.
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) está ouvindo parentes e amigos de Ana Carolina.
Segundo a delegada Fernanda Santos Fernandes, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) Duque Caxias, o número de casos de violência contra a mulher aumentou durante a pandemia. Ela afirma que “muitas vítimas acham que o companheiro ou o ex-parceiro não terá coragem de matá-la”.
"Durante a pandemia, registramos uma sub notificação dos casos. Mas temos vários casos graves de tortura, de feminicídio tentado, tortura e muitas agressões verbais e veladas. Muitas mulheres acham que elas não serão vítimas de algo pior, que é a morte. E não é verdade. Em muitos casos a violência psicológica e moral vai direto para um assassinato. Às vezes, uma única ameaça poderá ter um fim trágico. Por isso, pedimos: no primeiro sinal de violência, qualquer uma que seja, denuncie. Vá à delegacia e faça um registro. Não fique com vergonha", diz Fernanda Fernandes.
A delegada alerta para o padrão de violência contra as mulheres. "A violência contra a mulher tem algumas características: medo, vergonha de si, vergonha do que os outros vão pensar e algumas também não conseguem entender o nível da gravidade da situação. Quanto antes a vítima tomar uma medida, mais fácil será para evitar os crimes. O feminicídio não começa com um tiro. Começa com o relacionamento abusivo, uma violência psicológica. E estamos percebendo isso nos relacionamentos mais jovens."
A policial informou que as medidas protetivas foram prorrogadas automaticamente durante a pandemia e que existem mecanismos seguros para que as vítimas relatem os crimes que sofrem.
"Temos uma lei que diz que todas as medidas deferidas na pandemia estão sendo prorrogadas automaticamente. Além disso, são vários mecanismos feitos para que essas mulheres denunciem. A lei funciona e precisa ser usada. As mulheres não precisam temer", finaliza.