Cidades

Brasília: legados esquecidos de matriarcas negras

Redação DM

Publicado em 21 de abril de 2025 às 16:05 | Atualizado há 3 horas

A construção de Brasília, celebrada por sua modernidade e planejamento arquitetônico, carrega uma história invisível marcada pela contribuição significativa de mulheres negras. Embora os livros de história frequentemente retratem um cenário dominado por homens brancos, as vozes e ações dessas mulheres estão começando a emergir, demandando reconhecimento após 65 anos da cidade.

Histórias Apagadas

A narrativa oficial sobre Brasília tende a excluir as histórias vitais das mulheres que participaram ativamente da construção da cidade. Muitas dessas mulheres, conhecidas como “candangas”, desempenharam papéis fundamentais, não apenas em obras físicas, mas também na formação de comunidades e na defesa de direitos durante períodos de grande repressão.

Pioneiras da Saúde

Um exemplo notável é a trajetória de Jovina Teodoro, uma enfermeira que, antes mesmo da inauguração da capital, trabalhou no Hospital Juscelino Kubitschek. Jovina não só atendeu operários feridos, mas também se destacou como defensora de práticas de saúde que promoviam a dignidade das mulheres, combatendo o racismo e a desigualdade social em suas ações diárias.

Sua filha, Ana Julieta, fala sobre a importância do legado de sua mãe e a necessidade de reescrever a história para incluir as matriarcas que moldaram Brasília. Para Ana, é essencial que novas gerações conheçam esses legados e se inspirem nas conquistas de suas antepassadas.

Desigualdade Estrutural

O apagamento das contribuições das mulheres negras na história de Brasília está profundamente ligado a estruturas de desigualdade que perduram até hoje. A advogada Ilka Teodoro, neta de Jovina, destaca que a narrativa dominante ainda favorece um modelo que ignora o papel essencial das populações negras na construção da cidade.

Ilka defende iniciativas educacionais, como a Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas, como uma forma de reverter esse apagamento. Além disso, projetos de historiadoras estão em andamento, buscando resgatar as memórias e contribuições das famílias negras que ajudaram a construir Brasília.

Movimentos de Reconhecimento

Recentemente, movimentos têm ganhado força com o objetivo de recontar a história de Brasília. A professora Jamima Tavares, por exemplo, trabalha em um projeto que visa levar essas histórias às salas de aula, propondo um currículo que inclua as experiências e lutas das mulheres negras.

A busca por justiça histórica continua, e a luta das matriarcas que ajudaram a construir a cidade é uma parte fundamental desse processo. Reconhecer suas contribuições é o primeiro passo para uma compreensão mais completa da história de Brasília.


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