Há anos, o Brasil enfrenta sucessivas crises hídricas, mesmo possuindo uma das maiores bacias hidrográficas do mundo. Não bastasse essa insegurança envolvendo a água, a população se vê diante de levantamento do ano passado indicando alerta máximo para contaminação dela com agrotóxicos em 28 municípios, entre eles Aruanã, cidade goiana localizada às margens do rio Araguaia, a 315 quilômetros de Goiânia.
Nos dados de 17 testes específicos realizados em 2022, no Brasil a localidade goiana foi a mais afetada e apresentou o maior registro de água contaminada. É um reduto de grande produção de culturas de soja, feijão, milho e arroz.
Falando à reportagem da organização não governamental (ONG) Repórter Brasil – que fez cruzamento de dados, pautada em informações de 2022 do Ministério da Saúde (MS), publicadas no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) –, Leonel Cupertino, secretário municipal de saúde de Aruanã, comentou que “não sabia da presença de agrotóxicos acima do limite na água do município” e pediu esclarecimentos urgentes à Saneago, companhia de abastecimento que atua na maioria das cidades de Goiás. A Saneago manifestou, confirmando que, de fato, agrotóxicos foram identificados nos exames, só que em ‘concentrações dentro dos limites permitidos por lei’ e, portanto, ‘sem riscos para a população’. Respondeu, ainda, ter ocorrido ‘erro de digitação no preenchimento da planilha do Ministério da Saúde’ e que ‘os dados divulgados na plataforma apresentam equívocos’, pois ‘estão acima dos resultados encontrados pela empresa’. Por fim, assegurou existir ‘total garantia da segurança da água tratada distribuída no município’.
O problema na rede de abastecimento em níveis acima do limite considerado seguro pelo Ministério da Saúde (MS) foi constatado também em mais 26 cidades e é um risco à saúde, em especial se o consumo da água contaminada ocorrer continuadamente, alerta especialistas.
Responsabilidades
As empresas de abastecimento de água tratada são responsáveis pela realização de testes e publicar resultados na base de dados do Sisagua. As gestões municipais, estaduais e federal fiscalizam todos os casos, cobrando medidas das concessionárias, visando impedir substâncias ultrapassarem limites permitidos.
O Sisagua comunicou que ano passado foram realizados 306,5 mil testes considerados consistentes em 2.445 municípios brasileiros para identificação de agrotóxicos na água, um número que poderia ser mais amplo, haja vista que a maior parte dos testes realizados para essas substâncias apresentaram erros, com automática classificação inconsistente pelo ministério.
A ONG esclareceu que 55 testes em 28 municípios mostraram agrotóxicos acima dos valores máximos permitidos. Representa 0,02% de todos os exames válidos realizados, com dados extraídos por reportagem de 8 de agosto, e diariamente os resultados são atualizados por estados e municípios. Somando dez registros nos municípios, o destaque negativo maior de testes acima do limite ficou por conta do endrin, substância de uso proibido no Brasil e que afeta o sistema nervoso, provocando tremores e convulsões, conforme diferentes estudos realizados em animais.
Contradições
Assunto polêmico há décadas no planeta, inclusive no Congresso Nacional brasileiro, a questão desses produtos químicos sintéticos usados para conter doenças provocadas por vetores (insetos, larvas, fungos e carrapatos) na produção agrícola envolve interesses maiúsculos.
O agronegócio se defende, justificando usar quantidades adequadas, enquanto ambientalistas, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e outras representações, discordando, fazem protestos e alertas, pontuado dados, como os recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que informou serem registradas no mundo 20 mil mortes anuais devido o consumo de substâncias venenosas.
(com informações do UOL)