Mulheres e homens em salas separadas, os professores eram chamados de mestres e os alunos escreviam em uma lousa individual e as temidas palmatórias. As escolas do passado eram bem diferentes das atuais. Com intuito de descobrir as raízes da educação no estado, DM viaja no tempo e mostra quais foram as primeiras instituições de ensino, o que ensinavam, como era a rotina e, claro, os primeiros grandes mestres de Goiás, como Silva e Sousa, Mestre Nhola e Silvina Ermelinda Xavier de Brito, que foi a professora de Cora Coralina.
De acordo com a pesquisa "Desenvolvimento História da Instrução Pública em Goiás", desenvolvida pelo Dr. Anderson de Brito Rodrigues e Ms Jaqueline Veloso Portela de Araújo, ambos da Universidade Federal de Goiás (UFG), o desenvolvimento da educação escolar em Goiás apresenta algumas diferenças em relação à história da educação no Brasil, devido ao povoamento tardio do estado.
Pois, ao contrário de grande parte do Brasil, por ter iniciado no século XVIII, não recebeu tanta influência dos missionários jesuítas na configuração de seu sistema educacional. “Os jesuítas não fundaram escolas na Capitania de Goiás e que a instrução pública no Estado inicia-se com a fundação das escolas régias que consistiam em instituições isoladas e dispunham de um único professor que ministrava as aulas em sua residência para pequenos grupos de alunos”, diz um trecho da pesquisa.
Segundo a historiadora Milena Bastos, as primeiras escolas régias de Goiás foram organizadas de forma precária. “Era um ensino muito incipiente, das primeiras letras, de somar e diminuir e tabuadas e o abecedário, eles aprendiam a ler, escrever o nome e fazer contas. Muitos mestres ensinavam em suas casas. E nas primeiras escolas, homens e mulheres não estudavam juntos. Não tinha quadro negro, eram lousas individuais, uma espécie de tábua preta”, diz.
Ainda de acordo com a historiadora Milena Bastos, o primeiro grupo escolar do estado, devidamente organizado, foi fundado por volta de 1880 na casa cedida pelo governo à professora Mestra Inhola, que funcionou primeiro no prédio do Lyceu, na rua Maximiliano Mendes.
Precursor
O Lyceu de Goyaz, na Cidade de Goiás, aliás, mais tarde, a partir de 1837, foi um marco na educação do estado. Segundo o artigo “Colégio Lyceu, história, memória e resignações sociais para a sociedade goiana, de Ana Paula Carolina da Silva, paulo Cesar Soares de Oliveira, Maria Zeneide Carneiro M. de Almeida, foi o 17º e foi instalado, em 23 de fevereiro de 1847 (que foi transferido para Goiânia em 1937).
“A localidade escolhida foi ‘em uma varanda e uma sala nos fundos do andar térreo da Casa da Tesouraria, na cidade de Goiás. O Lyceu acompanhou toda a história de Goiás e da educação do estado”, diz trechos do estudo.
Após a inauguração do primeiro grupo escolar na antiga capital goiana, somente em 1921 uma lei autorizou a abertura de cinco novos grupos, que começaram a ser implantados a partir de 1923 ao redor do estado.
Segundo o estudo, entre 1918 e 1930 foram instalados, ao todo, 16 (dezesseis) grupos escolares. (URZEDO; ALVES FILHO, 2003). Os 16 (dezesseis) grupos escolares criados em Goiás entre 1919 e 1930 estavam localizados nas seguintes cidades: “Campo Formoso (atual Orizona), Rio Verde, Ipameri, Pirenópolis, Jaraguá, Itaberaí, Goiás, Morrinhos, Bela Vista, Catalão, Trindade, Porto Nacional, Santa Rita do Paranaíba, Caiapônia, Anápolis e Jataí.
Colégio Sant’Anna
Outro marco dos primórdios da educação goiana e funcionava até pouco tempo atrás, foi o Colégio Sant’Ana que foi fundado pelas Irmãs Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário de Monteils, na Cidade de Goiás, em 1889.
O colégio era comandado por oito irmãs francesas, que chegaram na antiga capital a convite do bispo, que transformou a sua casa em uma escola. A escola era destinada apenas à meninas e tinha o intuito de educar mulheres para cuidar do lar, do marido e dos filhos.
“As aulas eram de costura, etiqueta e mulheres eram educadas para ser mães e para o lar. Só depois, começaram a estudar para dar aulas. O colégio possuía mensalidade e a maioria das alunas eram de elite”, explica Milena Bastos.
Mais colégios
A pesquisadora aponta como outras importantes instituições de ensino da época, o Seminário Santa Cruz, que ensinava os meninos para o sacerdócio e funcionou onde atualmente é a Secretaria Municipal de Assistência Social da Cidade de Goiás. “Depois fizeram um prédio do seminário em Ouro Fino que era como uma Colônia de férias”, explica.
Milena ressalta outro espaço que existe até hoje, mas com outro nome e formato. Trata-se da Escola de Aprendizes Artífices. “Começou a funcionar em 1910 e ensinava a fazer selas para cavalo, profissões mais rústicas. Funcionou até 1940 na Cidade de Goiás, quando foi transferida se transformou na Escola Técnica de Goiânia, hoje o IFG, funcionava onde é a sede Santa Luzia, na Cidade de Goiás”
Correlata: Os Primeiros mestres de Goiás
Quando o assunto é o primeiro professor de que se tem notícia no estado, é preciso recorrer à Meia Ponte, hoje Pirenópolis, onde morava Bartolomeu Antônio Cordovil.
Ele chegou em Goiás em 1783, como primeiro professor de Latim de Goiás, nomeado pelo Governador Tristão da Cunha Menezes, em 1788. Escreveu, entre outros poemas, "Ditirambo”, “Epístola”, “Às Ninfas", "Epístola aos Árcades do Rio de Janeiro", “Ode”, e “Proteu e Sonho”. Publicou, em Coimbra, uma tradução da Arte Poética, de Horácio.
Legenda: Mestre Nhola criou uma das primeiras instituições de ensino do estado, na Rua do Carmo, na Cidade de Goiás. Foto: Arquivo Milena Bastos
Na Cidade de Goiás, conforme a historiadora Milena Bastos, um dos primeiros professores foi Silva e Souza, que foi memorialista, escritor e deixou as primeiras memórias de Goiás em 1812.
“Já a primeira professora concursada do estado, foi Maria Romana da Purificação, em 1832. O concurso era simples, eles respondiam a algumas e, perguntas e se passassem no teste, eram contratadas”, detalha.
Ainda outra professora conceituada, que ficou famosa nos livros de Cora Coralina - foi mestre da poetisa - , era a mestre Silvina Ermelinda Xavier de Brito, professora da poetisa, que mantinha uma pequena escola na Rua Moretti Foggia número 13, nas proximidades da Cruz do Anhanguera, no final do ano de 1800.
Pacífica Josefina de Castro, a "Mestre Nhola", também foi uma precursora no ensino do estado. Segundo o Jornal da Cidade de Goiás, da década de 1980, ela lecionou por mais de 60 anos na Cidade de Goiás, em uma escola simples na Rua do Carmo, por sua escola passaram “homens públicos e figuras de relevo nos meios intelectuais”. A publicação diz ainda que era autodidata, com “métodos de ensino considerados inteligentes e práticos, originais”.
Doutor Corumbá
De acordo com a historiadora Milena Bastos, ele era um sujeito excêntrico, que combinou com o governo, por volta de 1930 de ensinar para os alunos de forma gratuita. Porém, não durou muito. “Ele esquentou com os meninos e já acabou com as aulas em dois dias. Era professor de matemática e nesta época era difícil encontrar pessoas com a prática de ensinar matemática”, conta.