O ouro digital
Rariana Pinheiro
Publicado em 25 de novembro de 2022 às 22:18 | Atualizado há 4 meses
As moedas digitais, chamadas de criptomoedas, estão cada dia mais próximas de furar a bolha. Promissoras, têm deixado de ser um assunto para poucos e especialistas acreditam que ainda vai se falar muito delas. O que muita gente deve se perguntar é: como essas moedas são criadas? Para sanar essas e outras dúvidas, matéria especial destrincha sobre o processo chamado mineração, com o qual grupos de pessoas e empresas ficam imersos na rede da moeda digital à caça das criptomoedas.
O termo dado a este processo de captura de criptomoedas, a mineração, não é por acaso. Assim, como os mineradores de ouro procuram o tesouro na natureza, os caçadores de criptomoedas estão em busca da moeda, no mundo digital. O processo é competitivo, complexo, necessita de computadores potentes e envolve até questões matemáticas.
De acordo com o professor e doutor Iwens Sene, que atua no Instituto de Informática da UFG e é especialista na área de Redes e Segurança, para entender o que é mineração é preciso saber o conceito de blockchain. “O blockchain funciona como se fosse um banco de dados, onde você tem as informações que compõem todas as operações realizadas em cada tipo de moeda. A bitcoin é um dos tipos de moedas que existem, mas, agora, existem várias outras”, explica.
Segundo o professor, a mineração de criptomoedas é o nome dado para o processo de validação e inclusão de novas transações na blockchain. Para minerar, ele conta que é preciso ter acesso no sistema onde está hospedado a blockchain, escolher o tipo de moeda e começar.
“Na atividade, a pessoa começa resolver problemas que, geralmente, são matemáticos de criptografia, que estão presentes naquele conjunto de blocos para desvendar seu código. Quando você consegue desvendar os dados criptografados, obtém o número hash, que é conjunto de informações que estão criptografadas na blockchain”, diz.
Mas, o professor informa que apenas quem chega primeiro ao resultado consegue ganhar criptomoedas. “Depois que a pessoa encontra o código hash, ela mostra esse resultado dentro da própria rede, em que todo mundo tem acesso e, se todos concordarem, aquele novo bloco é adicionado na cadeia do blockchain”, detalha explicando que a moeda Bitcoin, paga em torno de 4 a 8 bitcoins por cada bloco minerado.
Mercado
Vale lembrar que a cotação da Bitcoin – no dia do fechamento desta reportagem – 25 de novembro – estava em R$ 88.732,38. E o momento é considerado em declínio. Se em novembro de 2021, a cotação bateu o topo histórico de US$ 69 mil, de acordo com dados do Mercado Bitcoin, a moeda terminou o primeiro semestre de 2022 valendo quase um terço do que valia em 2021.
“Os analisadores do mercado falam que esta queda é normal. O criptoativo é muito parecido com o mercado da Bolsa de Valores, então qualquer especulação faz crescer, qualquer boato faz cair ou subir o valor da moeda em específico ou do próprio negócio das criptomoedas. Mas, considero as criptomoedas um negócio interessante, motivador e lucrativo”, argumenta o professor.
Iwens Sene conhece, inclusive, pessoas que largaram empregos seguros, como no funcionalismo público, para investir nas criptomoedas. Porém, para minerar ou investir nesse mercado é preciso muito estudo e algumas habilidades e equipamentos específicos.
“Para minerar é preciso conhecimento em cálculos e um computador potente, pois, quanto mais rápido se chega ao resultado, melhor. Claro que o computador pessoal pode não conseguir ser o primeiro a resolver os problemas. Hoje há computadores cada vez mais poderosos para realizar esses cálculos mais rápido”, explica.
Professor e doutor Iwens Sene explica que para minerar é preciso conhecimento. Rariana Pinheiro
Maiores mineradores estão na China e Estados unidos
Nos países em que se concentram os maiores mineradores do mundo, Estados Unidos e China, Iwens Sene conta que existem ilhas de processamento. “Nesses lugares eles usam vários computadores como se fosse um grande computador. Existem soluções em que se unem 10, 20 ou 100 computadores para resolver um único calculo”.
Quanto ao perfil dos mineradores e investidores deste mercado, o professor conta que é diverso. “Conheço gente que entra com R$200, mas quem realmente ganha dinheiro é quem tem esse poder computacional associado ao conhecimento para desvendar a criptografia mais rápido”.
Investidor de criptomoedas desde 2020, o pesquisador de tecnologias inovadoras, Pedro Henrique Gonçalves, contou achar atrativo o fato desse mercado possibilitar uma economia descentralizada e até agora não se arrependeu. “Não precisa ter mais um centralizador das transações, como os bancos, e isso de ser validado pela própria rede dos usuários eu achei fantástico”
O professor Iwens completa que devido ao mercado de criptomoedas ter alta procura pelos investidores, surgiram alguns meios para as negociações das moedas digitais, os mais famosos são as exchanges.
“Elas são corretoras financeiras especializadas em comercialização das moedas digitais, por meio de uma rede de blockchain que fornece a compra, venda, troca e guarda de criptoativos. Intermediam as negociações entre vendedores e compradores e são consideradas pessoas jurídicas não financeiras. Ainda é possível a comercialização por pessoas físicas, caixas automáticos e lojas físicas destinadas a esse processo”, esclarece.
Apesar do professor Iwens considerar o mercado seguro, ele aconselha que existem corretoras que podem ajudar pessoas que não são especialistas a não caírem em golpes. “Tudo na internet é muito sobre especulação. Então, existe a possibilidade de robôs (programas de computadores) induzirem e falsearem a subida de uma moeda que não existe, apenas como uma forma de pegar dinheiro”, explica.
PL das criptomoedas pode ser votado no próximo dia 29
Sem um banco para regulamentar as transações, o professor Iwens Sene acredita que o negócio fica muito solto. Para regulamentar o mercado um Projeto de Lei (PL) está parado há meses na Câmara dos Deputados devido à falta de consenso sobre algumas partes do texto e também por causa das eleições.
O PL voltou à pauta essa semana e a expectativa é que a votação ocorra nesta próxima terça-feira (29). Um dos motivos de discórdia está na obrigatoriedade de as corretoras segregarem patrimônio próprio dos recursos de clientes – empresas nacionais, como Mercado Bitcoin, são a favor; e estrangeiras, como a Binance, são contra.
Criptomoedas? Bitcoin? Entenda
A criptomoeda é um dinheiro digital. Não é emitida, nem controlada por governos ou bancos, o que a torna atraente pela isenção de impostos e taxas. “Se você quiser, pode transferir criptomoedas para uma pessoa do Japão livre de taxas, por exemplo. Existem vários tipos de criptomoedas e as transações com esse dinheiro são feitas entre as pessoas que as detém de forma totalmente online. A mais famosa delas é a bitcoin, criada por uma pessoa ou grupo, em 2009, sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto”, explica o Prof. Dr. Iwens Sene.