Home / Ciência

CIÊNCIA

Atividade humana deixa ‘marcas evidentes’ no registro geológico

RIO - A atividade humana alterou os sistemas naturais da Terra a tal ponto e deixou marcas tão evidentes no registro geológico do planeta que, se os especialistas assim decidirem, as gerações futuras não deverão ter problemas em identificar o chamado Antropoceno, a “era dos humanos”. Esta é a conclusão de uma equipe internacional de cientistas após uma revisão de diversos estudos relacionados ao assunto, publicada na edição desta semana da revista “Science”.

Cunhado pelo biólogo americano Eugene F. Stoermer no início dos anos 1980, o termo Antropoceno faz referência à maneira como os geólogos nomeiam os vários éons, eras, períodos, épocas e idades pelas quais a Terra passou nos seus cerca de 4,6 bilhões de anos de existência. De lá para cá, ele tem sido usado com cada vez mais frequência por pesquisadores e profissionais das mais variadas áreas para destacar como o Humanidade está mudando nosso planeta.

Surgem os ‘tecnofósseis’

Oficialmente, no entanto, ainda estamos numa idade chamada Holoceno, iniciada há 11,7 mil anos, ao fim da última Idade do Gelo. Diante disso, a União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS) determinou que a Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS), seu mais antigo órgão científico, criasse um grupo de trabalho para avaliar uma possível troca de nome para apresentar uma proposta sobre o assunto, a ser votada no próximo Congresso Internacional de Geologia, marcado para este ano na África do Sul. E são justamente os integrantes deste grupo os autores da revisão publicada na “Science” desta semana, numa indicação de que em breve o Antropoceno deixará de ser um termo informal para se tornar uma idade geológica de fato.

Segundo os cientistas, as marcas deixadas pela ação humana na Terra são tantas, tão espalhadas e tão profundas que a definição do Antropoceno seria “inequívoca”. Entre elas, por exemplo, estão o que chamam de “tecnofósseis”, como os resíduos de plástico, concreto, alumínio elemental e outros materiais artificiais que acabaram nos depósitos sedimentares do planeta e nos oceanos. Outros registros importantes apontados por eles são a fuligem e as cinzas da queima de combustíveis fósseis que também encontraram lugar nestes sedimentos, além de se acumularem no gelo das regiões polares a partir do século XVII.

Mas as indicações geológicas da influência humana no planeta não param aí. O gelo polar e das geleiras continentais e de altitude ainda guardam bolhas de ar com níveis de dióxido de carbono (CO2) muito acima dos encontrados em tempos anteriores, subindo gradualmente com o início da Revolução Industrial no século XVIII e disparando a partir dos anos 1950. Isso sem contar os elementos radioativos espalhados globalmente com a explosão da primeira bomba atômica em 1945, reforçados pelas dezenas de testes nucleares realizados nas décadas seguintes, e alterações no ciclo de nitrogênio pelo crescente uso de fertilizantes na chamada Revolução Verde, também a partir da segunda metade do século passado.

— Tudo isso mostra que há uma realidade subjacente no conceito do Antropoceno — resume Jan Zalasiewicz, professor da Universidade de Leicester, no Reino Unido, presidente do grupo de trabalho da ICS e um dos coautores da revisão.

Debate quanto ao início

Mas se a definição do Antropoceno é uma quase certeza, a decisão de quando deverá ser estabelecido o início da “era dos humanos” ainda é alvo de debates entre os especialistas. Para os autores da revisão, o melhor seria encaixá-lo em meados do século XX, época em que muitos dos sinais identificados aparecem pela primeira vez nos registros geológicos, como os elementos radioativos, ou ficam mais evidentes, como a fuligem, os níveis de CO2 e de nitrogênio.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias