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CIÊNCIA

Humanidade enfrenta o perigo que vem do céu

RIO — Em 15 de fevereiro de 2013, um meteoro de 20 metros de diâmetro se desintegrou na atmosfera, a cerca de 20 quilômetros de altitude, perto de Chelyabinsk, na Rússia. As ondas de choque da energia liberada pelo fenômeno, equivalente a uma explosão de 500 kilotons, ou 30 vezes a bomba atômica que destruiu Hiroshima, se espalharam por um raio de mais de 100 quilômetros, quebrando as janelas de centenas de prédios e casas e deixando quase 1,5 mil pessoas feridas. Embora raro, o evento serviu de alerta para a Humanidade redobrar seus esforços na busca por rochas espaciais potencialmente perigosas para a Terra. Mas, passados três anos do episódio em Chelyabinsk, nossa capacidade de detectar com antecedência os chamados “superbólidos” como o que caiu na cidade russa permanece praticamente nula, assim como o mistério de sua origem.

Iniciados ainda nos anos 1970, os programas para identificação dos chamados NEOs (sigla em inglês para “objetos próximos da Terra”) só ganharam força a partir da década de 1990. Então, em 1998, o Congresso dos EUA determinou que até 2008 a Nasa descobrisse pelo menos 90% dos asteroides com mais de um quilômetro de diâmetro que ameaçassem nosso planeta. E a preocupação com essas rochas espaciais maiores tem sua razão. Para se ter uma ideia, o meteoro que acredita-se ter levado a extinção dos dinossauros há cerca de 66 milhões de anos tinha entre cinco e dez quilômetros de diâmetro.

Nova Idade do Gelo

Em recente encontro da União Americana de Geofísica (AGU, também na sigla em inglês), Charles Bardeen, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA, apresentou modelos do clima terrestre que indicam que mesmo o impacto de um asteroide de tamanho considerado “médio”, com um quilômetro de diâmetro, já seria suficiente para mergulhar a Terra em uma nova Idade do Gelo. De acordo com ele, seu choque produziria uma cratera com apenas 15 quilômetros de diâmetro, mas lançaria tanta poeira e fuligem de incêndios florestais na atmosfera que bloquearia 70% da radiação solar que atinge a superfície do nosso planeta durante até dois anos, e permaneceria em suspensão no ar por até uma década. Como resultado, as temperaturas médias globais desabariam ao menos 8 graus Celsius, enquanto a consequente destruição da camada de ozônio elevaria enormemente a incidência de radiação ultravioleta e os índices de precipitação cairiam pela metade, destruindo colheitas, dizimando as criações de animais e matando de fome bilhões de pessoas.

Desde 1998, no entanto, a Nasa já detectou 880 objetos próximos da Terra com essas dimensões ou maiores, cumprindo em grande parte o objetivo imposto pelo Congresso dos EUA então. E apesar de estimativas apontarem que ainda faltam ser encontrados de 50 a 100 destes grandes asteroides potencialmente perigosos, nos últimos anos a agência espacial americana também tem concentrado esforços na busca por objetos ainda menores, a partir de 140 metros de diâmetro, encontrando um total que até a semana passada chegava a pouco mais de sete mil. Embora talvez não tenham consequências globais como o impacto dos asteroides maiores, estes objetos podem provocar catástrofes regionais. Por isso, no mês passado, a Nasa anunciou a criação de seu Escritório de Defesa Planetária, que deverá apresentar planos e propostas para desviar ou destruir asteroides que apresentem risco de colisão com a Terra.

Já com relação a meteoros menores como o de Chelyabinsk, porém, por enquanto não há praticamente nada que possamos fazer, mesmo que o asteroide já tenha sido identificado anteriormente. É o caso, por exemplo, da rocha espacial designada 2013 TX68, descoberta no mesmo ano do evento na Rússia. Com diâmetro estimado em 30 metros, ela vai passar pela vizinhança da Terra no próximo dia 5 de março, mas foi tão pouco observada que as incertezas sobre sua órbita são tamanhas que os cálculos indicam que ela pode chegar tanto a apenas 17 mil quilômetros da superfície de nosso planeta quanto a até 14 milhões de quilômetros de distância.

Fernando Roig, astrônomo do Observatório Nacional especialista em cometas e asteroides, explica que, por serem muito pequenos, esses objetos refletem pouca luz solar e viajam tão rápido que sua detecção com a antecedência necessária para que alguma medida seja tomada é quase impossível.

— Por enquanto, com asteroides abaixo de 100 metros de diâmetro, só vamos saber que eles estão vindo quando já estiverem em cima da gente — conta. — Talvez, com sorte, sejamos capaz de vê-los com um ou dois dias de antecedência. Mas embora nossa capacidade de prever esses impactos seja praticamente nula, os riscos eles trazem são mínimos. Um evento como o de Chelyabinsk acontece uma vez a cada 50 a 80 anos, mas a probabilidade de ser sobre um centro urbano é ainda mais baixa. Afinal, as cidades ocupam menos de 5% da superfície da Terra, então esses bólidos têm mais de 95% de chances de caírem onde praticamente não vai ter ninguém para ver ou ser atingido.

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