Com quase um mês de isolamento social, afim de combater o novo coronavírus, nem todos os brasileiros estão seguindo as regras de restrições. Segundo pesquisa do Datafolha, realizada entre os dias 1 e 3 de abril, 28% dos entrevistados, não seguem total ou parcialmente a orientação de ficar em casa.
Para a realização da pesquisa foram consultados 1.511 brasileiros adultos em todas as regiões do país. O levantamento, desta vez, foi feito por telefone, por conta da pandemia. A margem de erro do estudo é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
A conclusão revela que 24% dos entrevistados dizem que estão tomando cuidados para não serem infectados pelo coronavírus, contudo, continuam saindo de casa para trabalhar ou realizar outras atividades.
Outros 4% dos investigados responderam que não houve nenhuma mudança em suas rotinas e que mantêm-se com a mesma vida que tinham antes da crise.
Dos 28% que disseram sair de casa para trabalhar ou fazer outras atividade, não há como saber quanto destes trabalhadores desempenham atividades essenciais, em setores de alimentação, saúde e segurança, por exemplo, e por isso têm a necessidade de sair para trabalhar.
Desrespeitar o isolamento sem necessidade contraria a orientação da maioria dos especialistas em infecções e as diretrizes do Ministério da Saúde e da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Contudo, é condizente com as afirmações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que segue defendendo que o isolamento deveria ser restrito apenas a idosos e outros grupos vulneráveis, como doentes crônicos. Mesmo especialistas voltarem a repetir que o isolamento de todos é justamente para evitar que o vírus seja levado para casa e atinja tais grupos de risco.
O restante dos entrevistados, que totalizam 72% afirmaram estar seguindo as orientações para ficarem em casa, sendo que 54% disseram sair apenas quando é inevitável, para comprar comida ou comparecer a consultas e exames necessários, por exemplo. Outros 18% revelaram estar totalmente isolados, sem sair de casa por nenhum motivo.
A pesquisa revelou que o confinamento está prejudicando, principalmente os trabalhadores informais. Por isso, muitos deles têm se ariscado indo a rua em busca de trabalho, motivados pelo próprio presidente.
Dos que ganham em média de dois a cinco salários mínimos por mês, o número de trabalhadores que ignoram a quarentena sobe para 35%, sendo que 30% dizem tomar mais cuidado ao sair de casa e 5% alegam não ter alterado em nada a rotina.
Medo de ser infectado
O Datafolha também pesquisou o grau de preocupação dos brasileiro coma pandemia. A maioria afirma ter medo da doença. São 77% ao todo, sendo que 39% declaram ter um pouco de medo da doença e 38% muito medo.
Somente 23% disseram não ter medo nenhum, refletindo o que já vem falando o presidente desde o início da pandemia no Brasil, que se trata apenas de uma "gripezinha", menosprezando a seriedade da doença.
A maioria das pessoas ouvidas pelo Datafolha julgam que é grande as chance de contrair e transmitir o vírus.
Destes, são 81% que acreditam que podem ser infectados, contudo a grande parte (35%) diz que as chances disso acontecer são pequenas. Apenas 17% acreditam que a possibilidade é grande.
De acordo com a pesquisa, 72% dos entrevistados dizem acreditar que têm possibilidade de passar o vírus para outra pessoa, mesmo índice dos que creem que uma pessoa que more em sua residência possa contrair a doença.
O levantamento do Datafolha revelou ainda que para 52% das pessoas consultadas, a pandemia causará muitas mortes. Entre os mais jovens, de 15 a 24 anos de idade, esse índice sobe para 63%. Os que afirmar que haverá poucas mortes estão entre 41% dos entrevistados e 6% responderam não saber.
Para 46% dos entrevistados pelo instituto, os brasileiros estão menos preocupados do que deveriam estar, ao passo que 33% consideram que o nível de preocupação está na medida certa. Outros 19% disseram que a preocupação das pessoas com o coronavírus é excessiva.
O instituto também revelou que a preocupação entre os moradores do Rio de Janeiro e São Paulo, cidades mais atingidas pela doença, é maior.
Nas duas cidades, 52% das pessoas consultadas acreditam está menos preocupada do que deveriam estar com o coronavírus, 6 pontos percentuais acima da média nacional.
Em relação ao número de mortes, os paulistas avaliam um cenário mais negativo que os outros entrevistados nacionalmente. 60% acreditam que haverá muitas mortes, oito pontos percentuais acima do restante do Brasil. No Rio de Janeiro, o índice é de 55%.
A cidade de São Paulo até a noite de segunda -feira tinham 4.866 casos confirmados e 304 mortes e o Rio de Janeiro, com 1.461 casos e 71 mortes.
*Com informações da Folha de São Paulo