Muitos médicos estão sugerindo, por meio de vídeos e lives pela internet, o uso de alguns medicamentos, entre eles, os antiparasitários nitazoxanida e ivermectina, para a prevenção e o tratamento da covid-19.
Há uma divisão, entre aqueles que acreditam e recomendam o uso dessas drogas, e os que alertam sobre a falta de comprovação científica das mesmas.
A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) disse em nota, após a live "Tratamento precoce salva vidas", que "nos últimos dias, muito tem se divulgado nas redes sociais a respeito do uso de medicamentos para a covid-19. Várias destas divulgações que circulam nas mídias sociais são inadequadas, sem evidência científica e desinformam o público", disse o comunicado.
A SBI enfatizou ainda que o país sofre "uma séria crise de saúde pública" e que a indicação indiscriminada de tratamentos sem validação científica pode colocar em risco a saúde da população. "A avaliação do uso de qualquer medicamento fora de sua indicação aprovada deve ser uma decisão individual do médico, analisando caso a caso e compartilhando os possíveis benefícios e riscos com o paciente, porém é vedado a publicidade sobre tal conduta.", afirmou a SBI.
Em Goiânia
O cirurgião geral e clínico, Joaquim Inácio de Melo Júnior, faz parte dos médicos goianos que recomendam o uso da ivermectina no tratamento da covid-19. O médico chegou a distribuir a medicação no início deste mês, em Aparecida de Goiânia.
Melo foi internado no dia 10 de junho e segue na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na última passada, ele chegou a declarar, em entrevista à TV Serra Dourada, que estava infectado com a covid-19 e que estava bem, se tratando com a ivermectina.
De acordo com O Popular, o estado de saúde do médico, não foi informado pela unidade de saúde onde está internado, mas obteve a informação através de outras fontes, que o quadro do paciente, ainda é delicado.
Amigos e parentes do cirurgião fizeram campanha nas redes sociais para doação de plasma para Melo. O cirurgião e deputado federal Zacharias Calil, que também defende o uso do medicamento no tratamento precoce da covid-19, lamentou o estado de saúde do colega de profissão.
"Fiquei sabendo pelas redes sociais. Sinto muito que ele esteja doente assim", afirma. Perguntado sobre o uso da medicação, ele ressaltou que "não são todos os casos que vão evoluir bem".
Ele ainda explica que não é a favor do uso preventivo do medicamento, como são alguns médicos, a exemplo de Joaquim Inácio de Melo Júnior. "É preciso prescrição médica. É necessário chegar à unidade de saúde e caso exista sintomas, fazer exames. Quanto mais cedo o tratamento começar, menor o risco do estado de saúde do paciente ficar grave", pontua.
Já os médicos contra o uso da medicação, alegam que 80% das pessoas que se infectam com a covid-19 não tem complicações. De acordo com o médico infectologista chefe da Universidade Estadual de São Paulo (USP), Alexandre Barbosa, "é muito leviano falar que o paciente tratado com a ivermectina ficou bom por conta dela, quando a porcentagem de casos leves é tão alta assim".
Ele ressalta também, que, embora muitos médicos acreditam realmente na eficácia da ivermectina, outros a estão recomendando, apenas com o intuito de ganhar popularidade, "já que parte da população está preocupada e busca uma solução simples para doença", diz.
E continua, "eu costumo chamar isso que estamos vivendo de show de horrores. É mais grave ainda quando médicos que tem credibilidade junto a população indicam a medicação. O único caminho efetivo para tratar a doença é por meio da ciência e, por enquanto, ela ainda não tem respostas palpáveis sobre o que realmente pode ser eficaz", conclui Barbosa.
Além disso, segundo a médica infectologista e membro da SBI, Marianna Tassara, o incentivo para o uso do medicamento tem motivação relacionada a retomada das atividades econômicas.
"As pessoas vão se senti mais seguras a voltar a consumir, ir para as ruas e retomar as atividades de maneira indiscriminada. No fim, isso vai resultar em um sistema de saúde colapsado".
*Com informações do jornal O Popular