Por Redação, O Estado de S. Paulo
O governo da Espanha fará um cadastro de pessoas que se recusarem a ser vacinadas contra covid-19 e o compartilhará com outros países da União Europeia. O ministro da Saúde, Salvador Illa, no entanto, em entrevista à TV La Sexta, garantiu que os dados não serão abertos ao público e insistiu que os espanhóis não serão obrigados a tomar a vacina.
"Para os que optarem por não receber a vacina, o que será feito é um registro que será compartilhado com outros parceiros europeus", disse o ministro. "A lista incluirá aquelas pessoas a quem (a vacina) foi oferecida e simplesmente rejeitada. O documento não será tornado público e tudo será feito com o maior respeito pela proteção de dados."
A Comissão Europeia não informou ainda se o registro espanhol seria uma iniciativa de toda UE nem esclareceu o papel de Bruxelas no compartilhamento dessas informações. A Espanha já registrou cerca de 50 mil mortes e mais de 1,8 milhão de infectados desde o início da pandemia.
A campanha de vacinação começou no domingo, 27, com prioridade para moradores e funcionários de asilos. Durante o primeiro semestre de 2021, o governo espera imunizar entre 15 e 20 milhões de pessoas, de uma população de 47 milhões - 2,5 milhões antes de março. Autoridades sanitárias garantem que o país terá vacinado cerca de 70% de seus habitantes até junho.
O maior obstáculo ainda é a desconfiança da população. De acordo com pesquisa feita no início de dezembro, 28% dos espanhóis são contrários à vacinação imediata, 40,5% querem receber a vacina agora e 16% pretendem se vacinar se o imunizante "oferecer garantias" e for "confiável".
Apesar de preocupante, o porcentual de aceitação aumentou significativamente em relação ao resultado da mesma pesquisa realizada em novembro, quando 47% dos entrevistados disseram que não quereriam se vacinar. "Todos nós entendemos que a maneira de derrotar o vírus é vacinar todos nós. Quanto mais, melhor", disse Illa.
Nesta terça, 29, a Espanha recebeu mais de 350 mil doses da vacina da Pfizer e da BioNTech. A remessa chegou um dia após um incidente logístico na fábrica da cidade de Puurs, na Bélgica, que impediu a entrega originalmente programada para a manhã de segunda-feira.
As vacinas chegaram em cinco voos e foram imediatamente distribuídas para vários pontos da Espanha. Com a colaboração do Exército, as doses foram enviadas para os dois arquipélagos (Canárias e Baleares) e aos enclaves africanos de Ceuta e Melilla. O programa de vacinação em massa na Europa começou no fim de semana, mas os governos europeus ainda buscam maneiras de garantir a imunização generalizada da população sem aumentar o descontentamento entre o público cansado da pandemia.
A França também anunciou que manterá um registro, mas apenas com a identidade das pessoas vacinadas e suas condições de saúde. Na Itália, os políticos estão preocupados com a resistência e discutem se as vacinas devem ser obrigatórias para funcionários públicos e profissionais de saúde. Pesquisas mostram que parte significativa da população tem medo de receber uma dose.
Como na maior parte da Europa, o discurso oficial da Itália é que a vacina é uma escolha pessoal. No entanto, se a adesão voluntária continuar baixa, o governo já disse que "adotará algumas medidas", segundo declarou o vice-ministro da Saúde, Pierpaolo Sileri, em entrevista publicada ontem pelo jornal La Stampa.
No início de 2021, a Áustria lançará um certificado eletrônico de vacinação no qual os pacientes e as autoridades podem manter os registros de imunização, segundo informou o ministro da Saúde, Rudolf Anschober. O governo austríaco pretende combater o ceticismo com uma campanha de informação. "Não vamos convencer os mais radicais, que não querem ser vacinados de jeito nenhum, mas muitos indecisos podem mudar a opinião", disse Anschober.
Na Alemanha, as autoridades estão preocupadas com a tensão social e se manifestaram contra um tratamento preferencial para os vacinados. Embora a discriminação seja proibida no setor público, existe uma área cinzenta no setor privado. "Haverá áreas nas quais o certificado de vacinação ou os resultados dos testes serão um pré-requisito", disse o prefeito de Berlim, Michael Mueller. "Quanto mais pessoas imunizadas, maior alívio para todos." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.