Beto Silva e Maria Teresa Franco
Um estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o risco de um jovem negro ser assassinado no Brasil tem aumentado a cada ano e supera em 2,5 vezes a possibilidade de um jovem branco ser vítima de homicídio. Em Goiás, a situação é considerada crítica e uma das mais graves do país: o Estado lidera na região Centro-Oeste, com 108,3 por 100 mil habitantes (brancos são 41,5 casos). O Distrito Federal aparece em segundo, com 94,2 (sendo 14,4 de brancos) e bem atrás surge o Mato Grosso, com 70, 6 mortes por taxa de 100 mil (35,5 brancos).
Na análise nacional, Goiás perde para Alagoas (166,5) e Espírito Santo (126,1). Ontem, 13 de maio, o Brasil celebrou o fim da escravidão, ocorrida em 1888. Mas pouco se comemora quando se observa que uma maioria das mortes violentas envolve justamente pessoas da pele negra.
Elaborado em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a pedido do governo federal, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial 2014 apontou que a taxa de jovens negros assassinados por 100 mil habitantes subiu de 60,5 em 2007 para 70,8 em 2012. Entre os jovens brancos, a taxa de vítimas de homicídio também aumentou: de 26,1 para 27,8.
Ou seja, os riscos aumentaram para os jovens de modo de geral, mas passaram a ameaçar ainda mais os negros. O risco de homicídio de um jovem negro superava em 2,3 vezes o de um branco em 2007. A diferença chegou a 2,5 em 2012.
Nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, os riscos para os negros são ainda maiores. No Centro-Oeste, a taxa de jovens negros assassinados por 100 mil habitantes bateu na casa de 88,6 em 2012, pouco acima do índice nordestino, que é de 87. A taxa entre os negros do Norte é de 72,5.
"Os homicídios mostram-se como a grande tragédia da população jovem negra hoje no Brasil", informou o relatório. O Paraná é o único Estado onde o risco é maior para jovens brancos.
QUADRO EPIDÊMICO
"A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que taxas acima de dez para cem mil são consideradas como epidemia. O Brasil já ultrapassou o quadro epidêmico, é endêmico. É um quadro que persiste há décadas", afirma Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum.
"Reduzimos a desigualdade, mas não conseguimos reduzir a violência", disse a pesquisadora. Para ela, o Brasil precisa considerar a segurança pública como fator de desenvolvimento e ter políticas mais sólidas voltadas aos jovens, sobretudo aos negros.
O relatório apontou que a segurança pública precisa incorporar a juventude como um público prioritário. "Não se trata de investir mais em policiamento. Boas políticas de segurança associam policiamento, prevenção e políticas sociais. O jovem é mais vítima do que agressor", declarou Samira.
O estudo refere-se a jovens de 12 a 29 anos e usa como base dados produzidos por fontes como o SIM (Sistema de Informações de Mortalidade), do Ministério da Saúde, e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
O relatório também apresenta um indicador inédito, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil - Violência e Desigualdade Racial. Ele é calculado com base em cinco categorias: mortalidade por homicídios, mortalidade por acidentes de trânsito, frequência à escola e situação de emprego, pobreza no município e desigualdade.
O resultado mostra que a cor da pele dos jovens está diretamente relacionada ao risco de exposição à violência a que estão submetidos. Numa escala de 0 a 1, quatro Estados se situam na categoria de vulnerabilidade muito alta para negros, com índices acima de 0,500: Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Ceará.
Goiás na liderança no Centro-Oeste
- Estado tem médio índice de vulnerabilidade de negros, mas é grande a quantidade de mortes de negros, por taxa de cem mil habitantes.
- Estudo mostra que Goiás está em 12º lugar no Índice de Violência e Desigualdade Social, com 0, 384. O Estado aumentou a violência contra o negro em 4,6% em relação ao último levantamento, de 2007.
- A região Centro-Oeste é a maior de todas em número de homicídios. Goiás lidera com 108,3 (em mil habitantes, índice bem acima da média nacional, que é de 70,8 por cem mil habitantes.